“Fulaninhas'4", do Grupo X de Improvisação em Dança (BA)]
Fulaninhas’4 nos traz à lembrança experiências vividas junto às mulheres que trabalham em Lavanderias Comunitárias, especificamente no Alto das Pombas, no bairro da Federação/SSA. Nesse ambiente de trabalho e propício à pesquisa, a passagem do tempo, os mecanismos no trato com a lavagem de roupa, as habilidades das lavadeiras para pendurá-las num varal alto, os diálogos corriqueiros e acordos entre si, até hoje reverberam em nossos corpos pela beleza e cumplicidade que alimentavam o afeto entre essas mulheres. Arrumar, rearrumar, desarrumar, vestir, desvestir, procurar, florear e saudades sentidas nos inspiraram para criar dança. Assim, Fulaninhas’4 chega para abordar as saudades que nos consumiram no último ano e o quanto foi desestabilizador o distanciamento social forçado. Nesse intento, lançamos mão de suportes importantes, criando aproximações imagéticas para lidar com as distâncias e ausências impostas pela pandemia que hora vivemos. Nesse labor poético difícil, ao mesmo tempo desafiador, nos laçamos no tempo, se cronológico ou não, para lidar com as saudades corporalizadas a longo prazo que nos afetaram e que se fazem presentes como o fio condutor dessa performance. Amorosidade, paciência e afeto com leveza e humor configura, enfim, o jardim dessas Fulaninhas’4. O espetáculo é dirigido por Fafá Daltro, os intérpretes-criadores são Nei Lima , Edu O., Aldren Lincoln e Thiago Cohen; texto de Maíra Spanghero e produção de Nei Lima.
“Ah, se eu fosse Marilyn!", de Edu O. (BA)
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"Ah, se eu fosse Marilyn!" é um tipo de oração às avessas, onde Marilyn Monroe - ícone de beleza e sucesso nos/me olha nas imperfeições, tortuosidades e extrema humanidade das curvas de um corpo que foge aos padrões e, por isso mesmo, é mais próximo ao humano do que a ilusão do divino que qualquer normatividade supõe existir. Eu não quero ser Marilyn, eu quero poder ter sucesso, ser desejado, reconhecido, ganhar dinheiro, trabalhar, existir no mundo. Exclamar “Ah, se eu fosse Marilyn!” é mais do que um desejo. É perguntar: e se Marilyn fosse eu? Se tivesse minha configuração de corpo... chegaria aonde chegou? Eu não poderei, nunca, alcançar o sucesso que ela alcançou? Nesse trabalho, a audiodescrição é parte integrante da obra, tecendo o fio condutor da sua narrativa, assim como a Libras também é compreendida dentro da sua estética e o próprio dançarino é o intérprete, utilizando alguns sinais na sua pesquisa de movimento. Este trabalho, originalmente, criado em praias de Salvador/Bahia, tem uma trajetória de circulação por diversas cidades brasileiras: Itacaré (BA), Natal (RN), Belém (PA), Belo Horizonte (MG) e São Paulo (SP) e no exterior: La Seyne-sur-mer, La Cadiere e Nice (França), Cidade do México (México) e Karlshure (Alemanha). A obra conta com Edu O. como diretor, coreógrafo, intérprete e Nei Lima como produtor e figurinista.
Todo o conceito da Jornada de Dança da Bahia se desenrola ao redor dos ideais e da filosofia de Isadora Duncan (1877-1927), a principal precursora da dança moderna. A ligação com esta dançarina que revolucionou as artes cênicas é uma das marcas mais importantes da história da Jornada, e se revela em diversos aspectos técnicos e conceituais, permeando toda a programação. O tema deste ano, “Quem não experimentar, não entenderá copiando”, remete a filosofia da dançarina estadunidense e busca uma reflexão sobre a importância da experimentação. A pandemia trouxe inúmeros desafios às expressões artísticas e um deles é de como os professores podem ensinar dança virtualmente. “Embora as informações estejam ao alcance dos olhos, não basta ver, é preciso experimentar. O tema também traz essa reflexão sobre o que estamos fazendo com o que estamos assistindo: estamos entendendo?”, questiona Fátima Suarez. |