Depoimento de Alexandre Moraes permite encarar historia do golpe. Por Paulo Moreira Leite
Num país onde homens públicos costumam guardar os gestos de coragem para os livros de memória, a entrevista do ministro Alexandre Moraes constitui uma benvinda novidade em nossa história recente.
Todo cidadão familiarizado com relatos de movimentos golpistas que sempre infernizaram República pode constatar um traço essencial de um episódio lamentável que tem sido designado como “Festa da Selma”.
À semelhança de tantos levantes militares, seja o golpe de 1964, que derrubou o governo João Goulart e construiu uma ditadura que se manteve por duas décadas, ou tantas revoltas fracassadas, que arranharam o sistema de poder de uma época antes de bater em retirada, deixando uma memória nociva de tumulto, indisciplina militar e ameaça a democracia, a Festa da Selma mantem-se em nossa vida pública como um enigma a ser decifrado e enfrentado.
Embora tenha promovido uma sequencia ilegal de atos de violência e intimidação que incluíram bloqueio de estradas e múltiplas ações diversionistas, sob comando ostensiva do próprio Jair Bolsonaro, que então ocupava a presidência da República, a Festa da Selma não conseguiu atingir seu objetivo principal — impedir a vitória de Lula em em 2022, quando ele disputou e conquistou a Presidencia da República pela terceira vez.
Num ato exemplar de resistência, a ação definitiva coube a uma massa gigantesca de brasileiras e brasileiros que formaram uma muralha em torno de Lula durante a posse, em 1o de janeiro de 2023, compondo um gesto de signficado político claro — a opção histórica do país pela democracia.
Num adeus a um governo envolvido em operações de sabotagem permanente ao Estado Democrático de Direito, assistiu-se ali a uma festa maior pela liberdade — cujo valor ganha um significado ainda maior diante da entrevista de Alexandre Moraes.
Num depoimento que honra a toga de ministro do STF, Sua Excelência denuncia fatos de gravidade imensa, do quais teve conhecimento direto, muitas vezes como testemunha ocular, oferecendo uma oportunidade histórica para o país ajustar as contas com o golpismo sórdido que se esconde à sombra.
Mais do que nunca, é hora de arregaçar as mangas, investigar os fatos e punir os responsáveis.
Alguma dúvida?
Paulo Moreira Leite
Colunista e comentarista na TV 247
Artigo publicado originalmente no Brasil 247