Aldeia Nagô
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Dilma-Lula já faz Serra mudar discurso

5 - 6 minutos de leituraModo Leitura

Mais do que o empate (37 a 37), com a subida de Dilma e a queda de
Serra,
agora finalmente admitido também pelo Datafolha,  foi a imediata mudança
no
discurso do candidato tucano que mais me chamou a atenção no noticiário
político
deste sábado.


Ao mesmo tempo em que se consolida a imagem de Dilma-Lula, acaba a versão
"Serrinha Paz e Amor", com elogios a Lula e ao governo, adotada pelo PSDB desde
a largada para as Eleições 2010. Ontem à noite mesmo, certamente já sabendo dos
números do Datafolha, Serra voltou ao figurino original.

Atacou duramente o PT e até colocou em dúvida a existência de Deus: "Se
aquele que era o guardião da moral, da ética, do antipatrimonialismo toma outro
rumo, o rumo oposto, para muita gente Deus morreu". Se falar em "momento mais
patrimonialista da nossa história" vai ou não lhe render votos, não se sabe, mas
é certo que daqui para a frente o tom será outro.

Em encontro com seus aliados do PPS de Roberto Freire, na noite de
sexta-feira, Serra saiu dos cuidados recomendados por seus marqueteiros e
criticou duramente a política econômica, um dos esteios da popularidade do
presidente Lula, que bateu novo recorde no Datafolha (foi a 76%):

"Nós estamos voltando rapidamente a um modelo (voltado exclusivamente para o
setor agrícola para exportação) que não atende à demanda de emprego que o país
possui. Nós precisamos de uma economia que desenvolva não apenas o setor
primário".

O que aconteceu, afinal, para justificar esta guinada dos resultados do
Datafolha e, em consequência, do discurso do candidato da oposição? Segundo o
diretor do Datafolha, Mauro Paulino, foi a televisão:

"O principal fato que pode ser apontado como responsável por essa alta da
candidata é o programa partidário de TV que o PT apresentou
recentemente".

Sem tirar o mérito do competente programa do PT criado por João Santana na
semana passada, em que o presidente Lula apresentou Dilma Rousseff como a sua
candidata para dar continuidade às políticas do governo, o fato é que esta
identificação por parte do eleitorado era só uma questão de tempo, como já vinha
sendo mostrado pelas pesquisas Vox Populi e Sensus, divulgadas anteriormente. O
programa serviu para apressar este tempo, antecipar uma
tendência.

Na minha recente viagem pelo Nordeste, deu para perceber nas conversas com
eleitores, principalmente nas cidades mais pobres do sertão, que muita gente
ainda não sabe nem que teremos eleições presidenciais em outubro, muito menos
quem são os candidatos. Alguns chegaram a falar vagamente que votariam na
"mulher do Lula", sem saber de quem se trata.

Se na pesquisa estimulada do Datafolha os dois principais candidatos chegam
ao final de maio em situação de empate, abriu-se para cinco pontos a diferença
na espontânea, agora fora da margem de erro: Dilma foi de 13 para 19, enquanto
Serra subia de 12 para 14. Acrescente-se a isso o fato de 5% dos eleitores ainda
terem intenção de votar em Lula, mais 3% que querem votar no "candidato de Lula"
e mais 1% no "candidato do PT".

Somados estes votos, que fatalmente irão para Dilma, quando todos forem
informados de que ela é a candidata de Lula, a ex-ministra já poderia estar com
28% na espontânea neste momento.

Pela primeira vez, o Datafolha só trouxe notícias boas para Dilma e péssimas
para Serra. Na rejeição, o índice de Dilma caiu de 24 para 20%, enquanto Serra
subia de 24 para 27%. Na projeção de segundo turno, em que a pesquisa anterior,
de abril, apontava uma diferença de 10 pontos a favor de Serra (50 a 40), agora
Dilma aparece um ponto à frente (46 a 45).

Mais à vontade no papel de candidata, com menos gente dando palpite e falando
em nome dela no comando da campanha, como eu já havia constatado no post
anterior ("Virou de novo vento da campanha eleitoral"), tanto nos números das
pesquisas como na sua atitude diante das platéias, Dilma inverteu os papéis com
Serra, que começou melhor na largada, mas agora vai ter que rever toda sua
estratégia.

É disto que falaremos nos próximos dias. Agora, será a vez de Serra e seus
aliados ocuparem a televisão. Se o programa do PT se preocupou apenas em fazer
de Lula o grande cabo eleitoral de Dilma, o que poderá dizer o programa do DEM
na próxima semana?

Que Serra é o candidato de Rodrigo e Cesar Maia? Ou o PPS dirá que Serra é o
candidato de Roberto Freire? E o do PSDB? Dirá que Serra é candidato de quem? Do
próprio Serra, já que não é recomendável lembrar de FHC?

A campanha do candidato da oposição, que parecia caminhar tão bem, segundo o
noticiário político, chega a uma encruzilhada. Já que não convém bater em Lula e
no governo, que são rejeitados por apenas 5% da população, segundo o Datafolha,
a única esperança de apresentar um fato novo na campanha para reverter a "onda
Dilma",  que já começa a se formar, será convencer Aécio Neves a aceitar o papel
de vice. Mesmo que ele aceite, o que parece improvável, já pode ser tarde
demais.

Em campanhas presidencias, quando se começa a formar uma onda, como aconteceu
com Fernando Henrique Cardoso e seu Plano Real, em 1994, ou com Lula e seu grito
de mudança, em 2002, fica muito difícil detê-la. Os números das últimas
pesquisas, confirmados agora pelo Datafolha, mostram um quadro que pode se
tornar irreversível à medida em que o eleitorado tomar conhecimento de quem é
candidato de quem e o que cada um representa.

Artigo publicado originalmente no Balaio do
Kotsch

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