Aldeia Nagô
Facebook Facebook Instagram WhatsApp

Dizer que Francisco foi um bom Papa é reconhecer algo que parece simples. Por Sérgio Alarcon

2 minutos de leituraModo Leitura

Dizer que Francisco foi um bom Papa é reconhecer algo que parece simples, mas carrega uma força quase subversiva: ele não ajudou a piorar o mundo. Em tempos de devastação – do planeta, das instituições, das almas – não agravar o sofrimento é um gesto de resistência. E, vindo de uma figura como o Papa, esse gesto ganha densidade histórica.

Francisco não foi um revolucionário no sentido mais radical. Não desfez a estrutura hierárquica da Igreja, não rompeu com a lógica patriarcal, tampouco aboliu o controle doutrinal. Convenhamos: Papa revolucionário, nesse sentido, nunca haverá – a não ser para acabar com a Igreja romana. Mas Francisco foi revolucionário em outro sentido: enfrentou, com a voz que lhe era possível, os ídolos do nosso tempo – o mercado absoluto, a guerra como política, a indiferença como norma e os bozistas de todos os cantos do globo. Falou de ecologia integral, de periferias existenciais, de migração e acolhimento. Falou, sobretudo, contra a idolatria do dinheiro. E, por isso, fez jus ao nome que escolheu: Francisco.

Esse nome nunca havia sido usado por um Papa – talvez por medo de sua potência. Francisco de Assis foi aquele que, ao beijar o leproso e renunciar à riqueza do pai, fundou outra possibilidade de ser cristão: livre da sedução do poder. Escolher esse nome foi um gesto político. E, para o ódio explícito da Orcrim do Jair, o Papa que o tomou levou-o a sério.

Seus inimigos não foram os ateus, os cientistas ou os heréticos. Foram os cúmplices do capital, os vendilhões do templo, os falsos profetas do autoritarismo – aqueles que usam a fé como álibi para dar golpes contra o povo.

Vivemos tempos sombrios. E não foi uma boa hora para o mundo perder Francisco. Resta torcer para que ele tenha deixado um legado forte o bastante para resistir ao próximo conclave. Desde que esfacelaram a Teologia da Libertação, esses encontros cardeais inspiram mais medo do que esperança.

P.S.: Acabo de ver na TV – uma repórter da Globo admitiu, ao falar do Papa, o “extermínio do povo palestino”! “Milagre” que só Francisco conseguiria provocar.

Compartilhar:

Mais lidas

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *