Domingueiras LXI. Carnaval e Intervenção. Por Sérgio Guerra
Um fenômeno entusiasmante para quem gosta das manifestações democráticas e populares é o crescimento dos blocos que em algumas das maiores capitais do nosso país, como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, tem demonstrado um assombroso crescimento,
movimentando multidões e chegando alguns a arrastar centenas de milhares de foliões, mascarados ou não, que somam ao final milhões de fiéis participantes, distribuídos nos vários bairros e até avenidas principais, independentes das autoridades oficiais, que se reservam apenas o papel básico de promotores das condições mínimas de controle, e parcamente de higiene e policiamento, em suas várias expressões.
Quando falamos parcamente é com a justa razão da assumida e auto declarada, “falha do planejamento”, na (in) feliz expressão do governador do Rio de Janeiro, que tanto levou à morte de um folião em São Paulo, eletrocutado por um “gato” feito por uma subcontratada empreiteira para instalação de câmeras de fiscalização, enquanto no Rio de Janeiro vieram se somar aos tiroteios cotidianos, os já quase tradicionais “arrastões” contra moradores e turistas, cada vez mais freqüentes, previsíveis e violentos, menos para as autoridades ditas e tidas como responsáveis.
Felizmente, a grande capacidade criativa de nossa população não depende do apoio de nossas governanças, posto que em tal momento em que se torna muito importante suas presenças e atuações, o que se observa é uma completa ausência e omissão, seja por “cansaço”, como foi o caso do Governador do Rio de Janeiro, ou mesmo por motivações religiosas, como no caso do seu Prefeito, que se deslocou para a Europa, em busca de não sei o que mesmo, pois nenhuma desculpa plausível foi apresentada até agora.
Desta forma, o grande Carnaval do Rio de Janeiro terminou com uma Intervenção na Área de Segurança, também pudera, com o governador “descansando” no interior do estado e o prefeito, no exterior, buscando “equipamentos espaciais de segurança”, na Europa Central, para “assegurar uma melhoria no policiamento da Cidade Maravilhosa (?)”. Tudo isto, enquanto se multiplicavam os blocos de rua e a freqüência de turistas se ampliava, com as conseqüentes aumentos de renda, apesar da violência continuar sendo a pauta preferencial da grande mídia.
Assim, enquanto as Escolas de Samba nas mais diversas formas denunciavam a corrupção, o abandono da população, especialmente a mais pobre, e a violência, nas mais diversas regiões do país, principalmente no Rio, todas cada vez mais sob o controle das organizações criminosas, dentro do próprio estado, sendo que os 3 últimos governadores deste citado e abandonado, chegaram a estar preso, juntos, só sendo liberados, provisoriamente, graças ao ministro do Supremo, Gilmar Mendes, cuja atuação, nome e histórico por si sós, dispensam maiores análises e comentários.
Por outro lado, a Intervenção na Área de Segurança no Rio de Janeiro tem um papel muito importante para o acuado governo golpista, pois desvia a atenção para a sua decepcionante atuação que lhe tem garantido os piores índices de aceitação da recente história republicana, muito pior inclusive do que os 7% da ex-presidenta Dilma, da qual o vice e atual presidente, Temer, afirmou que ninguém se sustenta no governo, com tais reduzidos índices de popularidade, razão que o teria levado, politicamente, a trair a presidenta eleita e articular o seu impeachment. O que dizer de menos da metade daqueles fatídicos índices?
Assim, se conseguir bons resultados na intervenção, o governo golpista conseguirá recuperar ou mesmo construir um legado a ser defendido no processo eleitoral já em pleno andamento. Ao mesmo tempo em que, impedindo votações de Reformas Constitucionais, como é o caso da Previdência, lhe garante mais tempo para as articulações fundamentais para lhe garantir maioria mais segura para a sua aprovação, ou pelo menos uma bela desculpa, para não se expor a uma derrota humilhante. O que também é um bom negócio para quem anda tão carente de bons resultados.
18/02/2018.
Sérgio Guerra
Licenciado, Mestre e Doutor em História
Professor Adjunto da UNEB,.DCH1 Salvador.
Conselheiro Estadual de Educação – BA.
Colunista Político Semanal do Portal Mais Bahia.