Aldeia Nagô
Facebook Facebook Instagram WhatsApp

Dura lex, mais um clássico de audiência. Por Zuggi Almeida

3 - 5 minutos de leituraModo Leitura
Zuggi_Almeida

Paciência, meu amigo, pois foi transitado em julgado.  Esse tipo de frase tornou-se lugar comum e abandonou os corredores dos tribunais para circular livre entre as mesas dos bares e botecos dessa cidade do Salvador.

O juridiquês é o dialeto atual mais falado nas resenhas de botequim embaladas por cervas puro malte com tiragostos de peixes fritos. Estar fora dessas contendas é assinar o estado de alienação política voluntária.

Isso poderia até soar estranho, se não fossemos o país com o maior número de escolas de Direito do planeta. Que a OAB já ultrapassou o número estratosférico de mais de um milhão de profissionais cadastrados até 2016, além da categoria possuir o dobro da pertencente aos engenheiros e o triplo da que representa os médicos em atividades.

Até o ano de 2017 , a OAB contava com 1.048.189 advogados em condições de atuar ou seja, num grupo reunido de 20 brasileiros existe a possibilidade de um ser acadêmico do Direito.

Soma-se aí, o turbilhão de leis, códigos e estatutos que norteiam a justiça brasileira e estava formado o ambiente propício para formação de um estado jurídico – parlamentar e a mídia tratou de se aliar a esse Leviatã judicial e fomentar as bases para o desenvolvimento do golpe contra a democracia.
A habilidade midiática aproximou as massas do tecido jurídico criando uma empatia entre o público e os “defensores da integridade e da moral” para combater o mal da corrupção e seus representantes: Lula, o inimigo nº1; e o PT, seu partido politico.

Um herói acima do bem e do mal foi entronizado, Sérgo Moro ( branco, jovem, bem sucedido, o perfil ideal do profissional global), a esse foi destinado o personagem do justiceiro capaz de reestabelecer a ordem, recolocar o trem nos trilhos e retomar o poder perdido nas urnas.
Toda uma ampla visibilidade lhe foi concedida através de publicações das suas decisões judiciais com destaques, filmes, palestras, lançamentos editoriais, capas de revistas, prêmios, enfim, todas as ferramentas de comunicação possíveis para fixar um produto como objeto de satisfação de uma clientela.

O Judiciário passou a pautar a política com as transmissões ao vivo das sessões de júri na TV aberta, o aumento da cobertura desse cotidiano transformando o ambiente jurídico numa frivolidade de uma sessão da tarde.
O Congresso foi submetido a condição de coadjuvante e os juízes e promotores tratados como celebridades capazes de após um simples pronunciamento ou decisão alterar o pregão da Bolsa de Valores e deixar o Legislativo ou o Executivo em polvorosa

O poder da Justiça no comando das decisões nacionais foi instaurado por colaboração e interesse da mídia e a voz que poderia soar dissonanate, a das Forças Armadas, também encontrou reverberação nas redações para replicar o recado dos generais na internet e sacramentar a condenação de Lula.

Um estado totatlitário referenciado pelo domínio das leis é ambiente propício para teorias e comportamentos fascistas e o que antes poderia ser considerado vestígios, hoje, imprime suas digitais na sociedade e propõe um representante moldado nas fileiras do Exército e que alcançou a notoriedade com o apoio dos meios de comunicação.

O julgamento político de Luis Inácio Lula da Silva foi transformado num show de variedades ou numa série cujo o roteiro estabelecia a vitória do mocinho no final , a execreção do malfeitor, sua confinação em seguida e o restabelecimento do bem estar da família brasileira.

Por outro lado, a cumplicidade entre o poder judiciário e o midiático favoreceu um indiciado como Geraldo Alckmin livrar-se do tribunal da Lava Jato vendo seu delito ser transferido para Justiça Eleitoral, com a total omissão das grandes redações e seus editoriais indignados e nenhum twitter do general Villas Boas.

Enquanto isso, os resultados dos julgamentos são objetos de apostas nos botecos, a ultima sessão transmitida rendeu bons índices de audiência e no supremo, os defensores da liga da justiça desfilam suas togas pretas travando duelos dialéticos distantes da compreensão mundana, mas, fascinantes aos olhos da grande platéia.

Estava tudo combinado.

Só não estava prevista a sobrevida do anti-herói Lula da Silva que após afastado da cena redobrou seus poderes especiais. Conforme a exigência do público haverá uma continuidade para o seriado que alguns imaginaram o início e o meio , mas, não fazem a ideia mínima do que poderá acontecer no final.

Ou sabem?

Santa dúvida, Batman !

* zuggi almeida é escritor, além de ser mais um baiano indignado.

Compartilhar:

Mais lidas