É Proibido Cochilar: A História Vibrante de Antônio Barros. Por Renato Queiróz
Nas terras ardentes de Queimadas, Paraíba, em 11 de março de 1930,
Nasce Antônio Barros Silva, menino, poeta, artista que carrega no olhar o sonho, o papel e a tinta.
Filho de Severino, agricultor e sanfoneiro de coração,
E de Luiza, contadora de histórias, que lhe oferece a alma em canção.
E para não faltar com a memória…
Senta que lá vem História!
O sertão se apresenta como escola, e o pandeiro é o professor.
Com economias e arrelias nas feiras de Campina Grande, ele adquire seu instrumento condutor.
Do árido solo floresce o talento que revolucionou o forró,
Um gênio que, na Rádio Caturité, molda a arte de modo ímpar e só.
Na juventude, entre versos e o microfone, ele desenvolve um espírito sagaz,
Mistura humor, amor e crítica social, compondo poesias que se tornam imortais.
Em Recife, na Rádio Tamandaré, na labuta e no labor, o menino, com muita fé se transforma em trovador.
De lá nasce “Vem Morena”, gravada por Luiz Gonzaga, o Rei do Baião e seu mentor.
Consolidando, nos anos 50, um estilo que esquenta a identidade cultural com fervor!
Em 1971, Mary Maciel Ribeiro, a Cecéu, tanto talento, uma rosa, uma beleza, cruza seu caminho.
E juntos formam uma parceria de vida, de prosa, poesia, de voz e carinho. De cama e mesa.
Essa união de amor e criação se revela como fonte sem fim.
Eles criam mais de 700 canções que reinventam o baião e fazem do presente um jardim.
O gênio de Cecéu combina tradição e modernidade,
Enquanto o gênio de Antônio abre portas para a eternidade.
“Homem com H” ecoa em cada rincão,
No jogo das palavras, um sopro do sertão.
“Por Debaixo do Pano”, com humor e sagacidade,
Ney Matogrosso entoa: voz da eterna liberdade!
Enquanto “Forró do Poeirão” traz a sanfona como essência da verdade.
“Procurando Tu”, um marco de sua obra, um achado de canção,
Alcança sucesso na voz de Elba Ramalho e também de Gonzagão, que gravou essas e outras mil!
Transformando os versos em hinos que ecoam no Brasil.
Ele escreve “É Proibido Cochilar”, que anima todo o salão.
Se não cochilar, o forró pega fogo, do velho ao novo, em qualquer ocasião.
Sua música é alegria, mantém o povo alerta,
Dançando noite adentro, no prazer da alma esperta.
Dominguinhos no acordeon, harmonia e valor,
Com Antônio cria obras que são de puro esplendor.
Marinês, Rainha do Xaxado, entoando seus refrões, em mais um verso encaixado, intenções
e energia, em muitos sentidos cantados.
Zé Ramalho e Alceu Valença resgatam sua arte no muderno,
Misturando o forró de nascença ao novo, mantendo o calor eterno.
Amelinha, com sua voz potente e cheia de emoção,
Grava seus versos e leva ao Brasil a essência dessa gente.
Jackson do Pandeiro, mestre do balanço genial, exigente,
Dá aos versos de Antônio um ritmo sem igual.
Genival Lacerda, com seu humor único e vibrante,
Faz de suas canções festejos que contagiam cada instante.
Trio Nordestino, guardiões do forró raiz,
Abraçam suas músicas com repertório feliz.
E na voz de Anastácia, sua obra ganha doçura,
Uma parceria que traduz o sabor dessa cultura.
Em 1980, Cecéu, atenta, presenteia Antônio Barros com uma sanfona de 120 baixos,
Um gesto que simboliza, na leveza dos seus cachos, não apenas amor, mas admiração profunda por seu talento.
A sanfona se torna seu instrumento mais estimado,
Acompanhando-o em incontáveis apresentações, tornando-se parte da alma do artista inspirado.
Hoje, este instrumento icônico repousa no Museu do Forró de Caruaru,
As teclas gastas pelo uso intenso testemunham a história de dedicação que ele trouxe à lousa.
Os cadernos de Antônio, guardados em Caruaru,
São diários sertanejos compostos no papel sedoso com tracejos de azul.
Ele celebra a inauguração da praça Antônio Barros em Queimadas, em 2019, seu solo amado,
E declara emocionado: “Nasci aqui, cantei aqui e agora sou parte da terra.”
Cecéu cuida do palco como um lar que não se encerra,
Enquanto Antônio prova que inovar é mergulhar na tradução do sol que inverna.
Ele constrói uma obra sólida com Dominguinhos e Elba Ramalho,
Mistura coco, estilos e caminhos enquanto expande o alcance do trabalho.
Em 2021, a Paraíba reconhece sua contribuição magistral,
Declarando sua obra como Patrimônio Imaterial.
Hoje, suas músicas, que de tantas, muitas nem foram citadas, florescem nas vivas vozes mil:
De Liniker, Xênia França, Criolo, Clã Brasil e novos brilhos no Brasil.
Nos corações que bailam entre o sereno e o estouro, e muitas ainda a ser cantado,
Ele segue como um rio subterrâneo do sertão, que no tempo da invernada ressurge feito um tesouro da verdade revelada.
No dia 6 de abril de 2025, Antônio Barros, aos 95 anos, partiu.
Enfrentava o mal de Parkinson, sofreu, mas sempre sorriu.
O velório, em João Pessoa, celebrando a sua obra e dedicação,
Amigos e familiares cantaram “É Proibido Cochilar” e “Bate Coração”.
Assim seguiu, Antônio Barros, mais um mestre da canção!
Um escultor de sons, cheio de versos, que brincava com a esperança.
Seu legado é um rio que passa, e fica vivo na lembrança, a sanfona dedilhada, de palcos, de festa e dança.
É festa que ecoa no sertão iluminado,
No pandeiro que embola o chão rachado.
Cada acorde de incomum beleza,
Cada melodia celebrando sua grandeza.
Enquanto houver festa, sanfona e folia,
Antônio vive em cada melodia, no amor que tem pra dar.
Seu sonzaço é eterno, vai além do que eu faria ou poderia contar.
Sobre o céu azul do Nordeste, onde o forró tem raiz,
Ele canta a terra, a cultura e desse país
E no compasso da vida, em seu sentido verdadeiro,
Antônio é poesia e som, mais um gênio brasileiro.
Aqui, o melhor de Antônio Barros e Ceceu – só forrozão!
Só SONZAÇO!
Renato Queiroz é professor, compositor, poeta e um apaixonado pela história da música,.
Falar com tanto conhecimento a respeito da obra de um gênio do forró é para poucos. Antônio Barros foi e sempre será reconhecido pelo seu talento e pela sua magnitude. Com letras e melodias simples, mas sempre direcionada a um público que tem identidade com as raízes nordestina, Antônio Barros alegrou as noites dos sertões e dos rincões desse Brasil. Viva a boa música Brasileira. Parabéns, Renato Queiroz. Belíssimo texto.
Caro Gilton,
Agradeço profundamente suas palavras generosas. Sou e sempre fui um admirador do trabalho de Antônio Barros, esse ícone cuja genialidade moldou o forró de uma forma única e perene. Ao lado de Cecéu e com as bênçãos de Gonzagão, Antônio reinventou o forró, mantendo suas raízes enquanto expandia seus horizontes. Essa inspiração é eterna e ressoa em cada verso, em casa acorde.
Receber um elogio de alguém como você, que conhece o forró tão intimamente e é capaz de cantá-lo, tocá-lo e interpretá-lo com uma maestria rara, é uma dádiva que carrego com humildade e gratidão.
Viva o legado de Antônio Barros e viva a música brasileira que nos une e enriquece!
Com estima,
Renato