Aldeia Nagô
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Educação Profissional e a herança africana por Nelma Barbosa

4 - 5 minutos de leituraModo Leitura

A Educação
Profissional sofreu um vigoroso impacto nos últimos oito anos com a criação da
Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica.



A Rede
compõe-se de 214 campi, englobando 38 institutos federais, 02 Centros
Federais de Educação e Tecnologia (CEFET), 23 escolas ligadas às universidades
e 01 universidade tecnológica. Oferece o ensino médio, técnico, superior em
tecnologia, licenciaturas, mestrado e doutorado. Essa proposta de formação
profissional em diversas modalidades enfatiza a Ciência e Tecnologia,
articulando-se o ensino, pesquisa e extensão com os arranjos produtivos locais
e formação de professores da Educação Básica.  Neste rastro, temos o
desafio de criar e consolidar um programa educacional emancipatório decisivo
para a eliminação da desigualdade social e para a afirmação de nossas
identidades.

Ao considerarmos
que boa parte do discurso da Educação Profissional se pauta na geração de
empregos, qualificação da mão-de-obra e inclusão vantajosa na ordem mundial
contemporânea, é preciso ponderar sobre a escravidão, produção da miséria e
precarização das relações de trabalho em nosso país. Há um fosso econômico que
divide brancos e negros na sociedade brasileira, originado pela escravização de
homens e mulheres no período das Grandes Navegações e Colonização européias
(início da globalização).

Estas diferenças
foram reforçadas pelo racismo existente no Brasil em todas as suas variantes,
entre elas a institucional (praticada por estruturas organizacionais públicas
ou privadas que tratam determinado grupo como inferior por causa da cor) e a
epistêmica (que considera um grupo humano mais inteligente que outro em função
da pele).  O projeto de nação do Brasil Império e República traçou
impeditivos para a elevação à condição cidadã dos ex-cativos e seus
descendentes.

Ontem e hoje, na
globalização, a qualificação da mão-de-obra e o acesso aos avanços da Educação,
da Ciência e da Tecnologia definem os lugares a serem ocupados, os sujeitos, as
centralidades, as periferias e o padrão de poder mundial. Por isso é que o sistema
escravista preferiu a exploração dos africanos e trouxe forçadamente para o
Brasil cerca de seis milhões de pessoas dominando técnicas e conhecimentos os
mais variados possíveis. A África desempenhava até aquele momento histórico um
papel protagonista na produção de conhecimento. Estes negros conheciam e
dominavam a metalurgia, a siderurgia, ourivesaria, carpintaria, agricultura,
cultivo de plantas têxteis, a cerâmica, técnicas de caça, etc. Há
importantíssimas contribuições africanas para a ciência e tecnologia mundiais
na astronomia, medicina, navegação, engenharia, matemática e arquitetura.

Diante do
contingente de escravos com avançada instrução profissional foi preciso, então,
um grande empenho de nossas elites para o apagamento dessa memória através de
um sistema de dominação muito bem articulado. O arcabouço colonial deteve o
desenvolvimento científico e tecnológicos dos africanos e de seus descendentes,
ao mesmo tempo que possibilitou a difusão de suas idéias através da diáspora e
da cultura negra, contribuindo para a edificação de países como o nosso. Assim
como na África, o maior inibidor de progresso técnico foi o sistema de ensino
que difundiu valores equivocados, a exemplo da democracia racial brasileira
(falsa idéia na qual todos temos iguais oportunidades independentemente da cor
da pele).

A Rede Federal
tem o desafio atual de evidenciar a herança de outros povos e reconstruir a
história científica e tecnológica do Brasil por meio do enfrentamento corajoso
do racismo presente no âmago das instituições de ensino e de suas práticas
pedagógicas. Cumpram-se as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino da
História da África e Cultura Afrobrasileira (originadas pela Lei 10.639/03) e a
Lei Federal 11645/08, que obriga o ensino da História Africana e Indígena, das
Culturas Afrobrasileira e Ameríndias! Uma educação antirracista nos fará uma
sociedade justa, desenvolvida em paz e em igualdade de direitos e
oportunidades.

Nelma Barbosa é professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano (IF Baiano)

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