Aldeia Nagô
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Enquanto isso…Por Walter Takemoto

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Walter-Takemoto

A população brasileira, grande parte dela, vive no desemprego, no empobrecimento acelerado, na perda de direitos, sofre com a degradação dos serviços públicos essenciais, como a saúde e a educação, a juventude negra morre nas periferidas das cidades.

E os caminhoneiros fecham as estradas e bloqueiam portos e centros de distribuição, exigindo redução do diesel, do pedágio, e alguns grupos deles clamam pela intervenção militar, com faixas e cartazes.

É justo que o dono do caminhão, aquele que sobrevive do seu trabalho e assume os riscos disso, lute por seus direitos. Mas não podemos nos esquecer que por trás desse movimento estão interesses econômicos de empresas transportadoras, parte multinacional, de indústrias que possuem grandes frotas, e dos famosos atravessadores.

Que nós, os que lutam contra o golpe, façamos a denúncia da privatização da Petrobras, da sua submissão ao capital internacional, da política de mercado desastrosa que determina a atual política de preços dos combustíveis, é correto.

Mas é diferente de apoiar explicitamente o atual movimento e achar que é possível disputar e ganhar esse movimento para o nosso lado.

Me parece uma repetição do erro de 2013.

E digo isso pois em 2013 assustados com a dimensão tomada pelas manifestações, sem saber o que fazer com os milhões que foram às ruas, a chamada esquerda se escondeu em sua grande maioria, e permitiu que a direita apoiada pela mídia golpista se apropriasse do movimento e o dirigisse.

Agora, com esse movimento, de uma categoria historicamente envolvida em golpes em vários países, parte da esquerda declara apoio e acha que pode influenciar ou marchar ao lado de um movimento que já nasce com suas lideranças, ou grande parte dela, assumidamente golpista e com o apoio declarado da mídia também golpista, a disseminar o caos na sociedade.

Para mim a tarefa da esquerda é, como deveria ser sempre, de explicitar o que é que defendemos em relação aos interesses do povo, dos excluídos e oprimidos, que não podem pagar o preço do gás, que anda a pé por não ter como pagar tarifa de ônibus e metrô, que não possuem emprego para sustentar suas famílias, que convivem com a violência cotidiana, que perdem a esperança no futuro e se tornam presa fácil dos salvadores da pátria.

São esses que temos que mobilizar, organizar e estar ao lado lutando.

Os outros? Eles sabem o que fazem, e do que fazem nós é que pagamos um preço muito caro.

Walter Takemoto é Educador

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