Entrevista do presidente Lula ao Jornal El País
"A ONU precisa mudar. Se
continuar assim, não servirá para o governo global", diz Lula ao "El
País
Em entrevista exclusiva
ao jornal espanhol "El País", o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
critica a
representação da ONU e comenta as eleições presidenciais brasileiras ao
dizer
que não acredita na possibilidade do PT perder.
"Prefiro o carnaval à
guerra". Lula coloca sua mão de operário sobre o meu joelho, num gesto
de
cumplicidade, de camaradagem, de evidente franqueza, porque essa é a sua
força e
sua convicção, a de se comportar de acordo com aquilo que é, da forma
como os
brasileiros verdadeiramente o veem. "Sou um deles, uma pessoa como
eles". Lula
vem de onde eles vêm, fala como eles falam, "não sou um estranho no
ninho", e
até chegar ao poder vestia-se como eles se vestem, "embora tenha
trabalhado
vinte e sete anos usando um macacão, nunca fiquei à vontade; depois de
dois
meses usando gravata não tive dificuldade para me acostumar a ela, é uma
peça
bonita".
Lembrei-me da reflexão de
Sancho Pança antes de se tornar governante da ilha Barataria [no
clássico "Dom
Quixote de La Mancha", de Cervantes]: "vistam-me como quiserem, pois
qualquer
que seja a roupa que ponham em mim, serei sempre o mesmo Sancho Pança!".
Porque
o hábito não faz o monge, e Lula é Lula não importa o que esteja
vestindo.
"Disseram que eu teria de ir de fraque ao jantar no palácio com o rei da
Espanha, mandei dizer a Juan Carlos que eu não usava isso, e muitos me
criticaram aqui no Brasil, ‘que falta de elegância, de capacidade para
exercer a
presidência!’, até que o rei ligou e disse ‘venha como quiser’, fui de
terno e
gravata, porque não quero ser visto como um estranho pelo povo. O que
acontece é
que a liturgia do poder está toda preparada para nos distanciar do povo.
Quando
você é candidato, vai para todo lugar de camisa, cumprimentando as
pessoas, mas
uma vez que chega à presidência o colocam num carro blindado e você
nunca mais
vê o rosto dos cidadãos."
Pergunto-me com o que as
greves se parecem mais, com as guerras ou os carnavais. Luiz Inácio Lula
da
Silva forjou sua carreira política nas mobilizações populares, na
agitação nas
ruas e na luta em defesa dos direitos dos trabalhadores. Quase um milhão
e meio
de operários brasileiros entrarem em greve, liderados por ele, durante o
ano de
1979, e a partir desta data, este combativo dirigente sindical
empreendeu uma
carreira política cheia de altos e baixos que o levaria, 25 anos mais
tarde, à
presidência da República.
"É notável que nem eu e nem
meu vice, um empresário de sucesso, tenhamos diploma universitário",
afirma com
um certo orgulho que irrita a oposição por causa da ambiguidade que a
mensagem
pode representar num país em que a educação é o objetivo fundamental do
governo
e o empenho necessário para acabar com as desigualdades e a pobreza. Mas
o que
ele quer dizer é que a democracia funciona no Brasil, que não são os
méritos
profissionais, acadêmicos, nem de qualquer outro gênero, que são
decisivos para
chegar ao poder, mas sim a vontade dos eleitores. Um poder que Lula
deixará,
pelo menos formalmente, no próximo mês de dezembro depois de oito anos
de
exercício, e do qual sai cercado de tanta popularidade que alguns
esperam que
ele saia levitando a qualquer momento, como fez o personagem de García
Márquez
em "Cem Anos de Solidão", só que por consumir café brasileiro, que ele
bebe o
tempo todo com avidez, em vez de xícaras de chocolate.
"O momento mais
extraordinário do poder é o período entre o dia da vitória e a tomada de
posse.
Logo dá para perceber que as coisas não são tão fáceis, que se está
diante de
uma série de obstáculos. Eu teria motivos de sobra para dizer que o
poder me deu
mais alegrias do que tristezas, porque poucas vezes na história do
Brasil
aconteceram coisas tão importantes como durante meu governo, mas sairei
lamentando o que não pude fazer, a reforma do Estado, por exemplo. Não
conseguimos dar mais agilidade ao Estado; desde que uma decisão é tomada
e até
que ela seja executada nos deparamos com quinhentos obstáculos em nome
da
democracia. Há o Congresso Nacional, com suas duas câmaras, a
administração
pública, os sindicatos, a Justiça, as questões ambientais, nas quais as
ONGs são
muito ativas… Ou seja, passam-se dois anos ou três antes que um
projeto se
cristalize. Faz falta um consenso que nos permita eliminar tantas
dificuldades e
atrasos. Não podemos renunciar à fiscalização, mas tampouco é aceitável
utilizá-la como uma forma de impedir que se façam as coisas de que o
Brasil
necessita."
Seu pragmatismo, seu jeito
bonachão, seu bom senso, tudo nele faz lembrar o governador da ilha
Barataria.
Quase oito anos depois de ocupar a Presidência da República, suas
maneiras
pessoais, seu método de trabalho, seu ar decidido e brincalhão são os
mesmos do
jovem Lula que, fugindo da burocracia sindical, reunia-se durante as
tardes no
bar da Tia Rosa em São Bernardo do Campo, cidade onde ele ainda mantém a
casa de
sua família. Lá, com seus companheiros de luta, muito mais um grupo de
amigos do
que um comitê organizado, preparavam entre um copo e outro as
mobilizações em
defesa de um salário maior para os operários. Nenhuma ideologia
alimentava suas
ações, que em seguida receberam apoio, entretanto, dos movimentos de
base
católicos.
"O PT não teria existido
sem a ajuda de milhares de padres e comunidades cristãs do Brasil, ele
deve
muito ao trabalho da Igreja, à teologia da libertação, aos padres
progressistas.
Tudo isso contribuiu para minha formação política, a construção do PT e
minha
chegada ao poder. Minha relação pessoal com a Igreja Católica foi e
continua
sendo muito forte, mas somos um país laico, tratamos todas as religiões
com
respeito".
Seu chefe de gabinete,
Gilberto Carvalho, interrompe por um momento. "Este aqui era
seminarista, ia ser
padre, e abandonou tudo para entrar no PT, para trabalhar comigo". Lula
despacha
alguns assuntos à sombra de um crucifixo gigantesco que se destaca sobre
sua
mesa de trabalho, enquanto eu fico imaginando que, para alguns petistas
da
época, a agitação política era também uma espécie de sacerdócio. A
influência
religiosa ("esta é a Igreja mais progressista da América Latina,
provavelmente
do mundo") é evidente também no tratamento das leis de aborto no Brasil,
ainda
que o presidente busque a equanimidade. O Vaticano "tem uma atitude
muito
conservadora sobre esse ponto. No Brasil, o aborto é proibido, exceto em
caso de
violação da mãe. Eu, como cidadão, sou contra o aborto, e não acredito
que
nenhuma mulher seja favorável porque ele gera um grande sofrimento para
quem o
pratica. Mas como chefe de Estado, penso que se trata de uma questão de
saúde
pública. Devemos proteger as meninas que tentam abortar por conta
própria
colocando agulhas no útero e coisas assim. O Estado tem a obrigação de
atender
essas pessoas."
Para os progressistas
europeus, que adoram Lula, uma declaração desse gênero pode ser
decepcionante,
tanto quanto à declaração que ele mesmo deu, muitas vezes, afirmando que
não se
considera de esquerda. "Minha trajetória, meu perfil político, minha
vida no
sindicato, a criação do PT, caracterizam- me, sem dúvida, como um
esquerdista.
Mas o próprio PT é uma novidade na esquerda mundial. Nasceu contra todos
os
dogmas dos partidos marxistas-leninista s, que obedeciam fielmente à
Rússia ou à
China. No começo era algo parecido com uma torcida de futebol; um grupo
de
trabalhadores que, junto com o movimento social, a Igreja Católica e
alguns
intelectuais que haviam acreditado na luta armada e participado dela,
decidiram
criar um partido político. Não tínhamos na época um programa definido e
nunca
gostei que me rotulassem, menos ainda ao assumir a presidência. Um chefe
de
Estado não é uma pessoa, é uma instituição, não tem vontade própria todo
o santo
dia, mas tem que levar a cabo os acordos que sejam possíveis. Aprendi
isso no
poder e creio que foi bom para o Brasil. Não posso gostar de um
presidente
porque ele é de esquerda e não gostar de outro porque é de direita. Eu
me dei
bem com Aznar e com Zapatero, e tenho que me relacionar com Piñera no
Chile da
mesma forma que fiz com Bachelet. No exercício do poder, sou um cidadão,
como
diria…? Multinacional, multi-ideológico, não?"
Com seus olhos brilhantes e
inquietos, quer minha aprovação para esse pragmatismo, e de repente se
transforma num líder de torcida, a torcida brasileira; levanta-se,
senta-se,
volta a levantar-se, sorri primeiro, logo estremece, vira, ergue as
sobrancelhas, busca a proximidade, o carinho, sou apenas mais um
brasileiro,
apenas mais um cidadão deste país que é capaz de contagiar a alegria,
deste país
com trezentos dias de sol por ano, deste país imenso, autossuficiente,
pacífico,
"do qual estamos tentando eliminar 50 ou 60 anos de atraso, de
desconfiança,
anos em que ninguém queria investir aqui. E por isso estamos construindo
um
capitalismo moderno, um Estado de bem-estar social. Quando entrei no
governo, o
Brasil não tinha crédito, não tinha capital de trabalho, nem
financiamento, nem
distribuição de renda. Que raio de capitalismo era esse? Um capitalismo
sem
capital. Resolvi então que era preciso primeiro construir o capitalismo
para
depois fazer o socialismo; é preciso ter o que distribuir para poder
distribuir.
Se o país não tem nada, não há nada para distribuir, e os empresários
precisam
saber que tem de pagar salários um pouco maiores para que as pessoas
possam
comprar os produtos que fabricam. Isso Henry Ford já dizia em 1912".
Estamos em plena campanha
eleitoral e Lula aproveita para fazer propaganda de seu partido, deixa
escapar
algumas críticas ásperas, provavelmente injustas, a seu antecessor, o
social-democrata Fernando Henrique Cardoso, que foi seu companheiro na
luta
contra a ditadura, e a quem hoje não se mostra nada generoso. Mas o
milagre
brasileiro começou precisamente com Cardoso, um professor respeitado e
um
democrata exemplar que nivelou as contas públicas e venceu a inflação.
Lula faz
um balanço diferente. "Hoje o Banco do Brasil tem mais crédito do que o
país
inteiro tinha quando cheguei ao poder. Quando eu deixar a Presidência,
teremos
criado mais de 14 milhões de postos de trabalho em oito anos. Só a China
a Índia
podem competir com uma realidade assim".
Pergunto então se isso é
uma vitória do capitalismo, e ele se apressa a declarar que é um triunfo
de seu
governo "porque teve a coragem de enfrentar a crise, em vez de se
queixar:
fazendo investimentos, reduzindo os impostos em setores chave para a
economia,
empreendendo muitas obras públicas. Se o Brasil mantiver nos próximos
cinco anos
a seriedade nas políticas fiscal e monetária, nos investimentos e no
controle da
inflação, tem tudo para se transformar numa potência respeitada no
mundo. Se a
economia continuar crescendo entre 4,5% e 5,5%, em 2016 poderá ser a
quinta
economia mundial."
Não sei se descubro rastros
da herança portuguesa nessa fantasia um tanto hiperbólica do presidente,
que faz
com que ele se distancie por alguns momentos de sua sisuda prudência de
Sancho
Pança para se parecer mais à loucura idealista de seu senhor Dom
Quixote, porque
enquanto Lula fala, as pesquisas, lá fora, continuam apontando como
provável
vencedor, ainda que por uma pequena margem, José Serra, candidato do
PSDB, o
partido de Fernando Henrique.
"Ganhe quem ganhar, ninguém
fará nenhuma loucura; o povo quer continuar caminhando, e não voltar
atrás. Mas
deixe-me dizer que eu não acredito na possibilidade de perdermos as
eleições".
Muitos pensam que, se o PT ganhar, não será pelos méritos de Dilma, a
candidata
do partido, uma antiga guerrilheira e uma política eficaz, entretanto
sem o
carisma que as eleições presidenciais demandam, mas sim pelo formidável
apoio
que lhe presta o próprio Lula, cuja personalidade o impregna todo de
lulismo.
"Sim, eu sei que muita gente, para se justificar, diz, eu não gosto do
PT, gosto
do Lula; gente da direita, claro. Acontece com outros líderes políticos,
Felipe
González, por exemplo. Normalmente nós, enquanto figuras públicas, somos
menos
ideologizados do que os partidos e temos a capacidade individual de
congregar
pessoas que de maneira nenhuma se sentem próximas de nossas formações.
Mas não
acredito que haja um ‘lulismo’ como tal, prefiro saber que vamos
fortalecer a
democracia e que os partidos políticos conseguirão se organizar e
fortalecer."
Em todo caso, parece
descartada a continuidade na política econômica, que Lula salvaguardou
desde o
princípio nomeando um antigo militante do partido de FHC como presidente
do
Banco Central. A consequência dessa política foi a prosperidade que
permite
situar o país entre as potências emergentes agrupadas em torno do que se
passou
a chamar de Bric (Brasil, Rússia, Índia e China). Junto a esses países,
Lula fez
valer sua voz afirmando sua independência como um protagonista singular e
inclassificável da política internacional. Será que seu país está a
caminho de
se transformar numa superpotência? Poderia fazê-lo sem possuir – o único
dos
Bric nessa posição – uma arma atômica?
"A Constituição proíbe as
atividades nucleares exceto para fins pacíficos. É proibido, quer ver?",
e
aponta diligentemente com sua mão mutilada para o artigo 21, inciso 23.
"O
presidente não decide nas questões nucleares, é o Congresso, e não temos
interesse em ser uma potência militar se não é do tamanho de nossa
soberania.
Precisamos de Forças Armadas adequadas para garantir a segurança do
povo, para
manter uma política de defesa respeitável. Não queremos invadir nenhum
país, mas
tampouco queremos que nos invadam…".
Eu o interrompo, entre
irônico e risonho: invadir o Brasil me parece difícil, presidente, uma
tarefa
quase titânica. E ele, impassível, responde: "não se pode menosprezar a
loucura
de alguns seres humanos, é preciso se proteger". Se proteger de quem?
Não
acredito que seja de Chávez ("um homem muito inteligente, ainda que as
vezes
cometa equívocos e ele sabe disso") nem de Evo ("um retrato de seu povo,
ninguém
o representa melhor que ele; no tema do petróleo, eu compreendi que o
Brasil
tinha que pagar mais à Bolívia, não briguei com Evo, porque ele tinha
direito")
nem da Colômbia, Argentina ou Uruguai ("o Brasil trabalhou muito com
eles para
consolidar a democracia em sua plenitude. Temos que gerar uma política
de
confiança. A doutrina utilizada antes pelas grandes potências era
considerar o
Brasil como inimigo da América Latina, a grande ameaça; nós estamos
destruindo
essa visão negativa e demonstrando que podemos ser seu grande aliado").
O lulismo, se é que existe,
tem suas raízes no sindicalismo, na luta como pressão e o acordo como
resposta.
"O chamado mundo desenvolvido tem que compreender que a geopolítica
mudou. A
democratização da África e o crescimento de países como a China, Índia e
alguns
da América do Sul sugerem uma nova dimensão. Eu não quero a guerra, sou
um homem
de diálogo, e na questão nuclear o Brasil tem uma política muito
definida. Quero
esgotar até o último minuto as possibilidades de um pacto com o
presidente do
Irã para que ele possa continuar enriquecendo urânio, e que tenhamos a
tranquilidade de que ele só vai utilizá-lo para fins pacíficos. Meu
limite são
as decisões da ONU, a qual, é claro, pretendo mudar porque da forma como
está
ela representa muito pouco. Por que o Brasil não é membro do Conselho de
Segurança? Por que a Índia não é? Por que não há nenhum Estado africano?
Se a
ONU continuar fraca assim, sem representatividade, com países com
direito de
veto, nunca servirá corretamente ao governo global que é necessário."
Felipe González disse que
os ex-presidentes são como os vasos chineses. Todo mundo em casa sabe
que se
trata de peças valiosas que vale a pena conservar, ainda que não
necessariamente
apreciem sua beleza e as pessoas não saibam onde colocá-los: estejam
onde
estiverem, sempre atrapalham a passagem. A partir do próximo mês de
dezembro,
Luiz Inácio Lula da Silva, um dos políticos mais carismáticos, admirados
e
surpreendentes do último meio século, aumentará essa coleção de grandes
porcelanas. Os visitantes dos museus de cera venerarão sua imagem, assim
como a
de Lincoln, a de Mandela, a de tantos grandes homens que foram capazes
de surgir
do nada. Cheio de vida, transbordante de ideias, não o imagino
aposentado em seu
apartamento em São Bernardo, compartilhando com seus vizinhos as
nostalgias de
um tempo passado.
"O melhor serviço que um
ex-presidente da República pode prestar é ficar calado, deixar quem quer
que
ganhe as eleições governar e permanecer em silêncio". O silêncio é de
ouro, mas
não imagino Lula assim quando há tanto a denunciar, tanto a reivindicar,
tanto a
propor. Então, talvez se limite a ficar ausente, ou distante. "Vou sair
do
governo tendo colhido um monte de políticas bem sucedidas e quero
compartilhar
esse aprendizado, essa autêntica lição de vida, com os países mais
pobres da
América Latina e da África. Não sei se o farei através de uma fundação,
porque
em hipótese alguma quero fazer nada que não esteja em consonância com o
governo.
Só quero transmitir aos demais a experiência que adquiri, porque os
pobres não
têm acesso aos governantes, os pobres não vão aos coquetéis, claro, e
isso
porque não há nenhum político que ganhe uma eleição falando mal deles,
podem
insultar os banqueiros, os grandes empresários, mas os pobres… de
forma
alguma, em campanha eleitoral um pobre é a coisa mais extraordinária do
mundo. E
uma vez que o candidato ganha a eleição, termina seu mandato sem se
reunir com
um pobre nenhuma vez, só sabe que eles existem porque lê os jornais, não
há
interação, não há vínculo. No próximo Natal, quando meu mandato chegar
ao fim,
quero convidar de novo os catadores de São Paulo. Há oito anos que me
reúno com
eles no palácio nessa época (também fiz isso com os sem-teto, com os
invasores)
e comprovamos que essas pessoas não querem parar de catar papel, mas
aspiram a
uma existência mais digna, ou seja, querem que organizemos cooperativas,
centenas delas em todo o Brasil, financiadas pelo Estado, que deem
trabalho a
centenas de milhares de pessoas, capazes de levar todos os dias para
casa alguma
coisa para comer graças ao resultado de seu trabalho."
Quando tudo isso acontecer,
o palácio presidencial já terá sido reconstruído. Por enquanto, Lula se
aloja em
escritórios emprestados do Centro Cultural do Banco do Brasil enquanto
os
operários se esforçam para recuperar as envelhecidas estruturas do
Planalto,
cuja reforma não foi concluída para a celebração do cinquentenário de
Brasília.
Mas no próximo 23 de dezembro o presidente vai se despedir dos catadores
paulistas nos aposentos elegantes e sóbrios destinados ao dirigente da
nação.
Talvez o faça pensando, como Sancho em sua partida, que "saindo nu como
saio,
não é necessário outro sinal para dar a entender que governei como um
anjo".
Tenho certeza, pelo menos, que o cronista desse futuro vindouro poderá
novamente
relatá-lo com as mesmas palavras de Cervantes: "Todos o abraçaram, e
ele,
chorando, abraçou a todos, e os deixou admirados, tanto por suas razões
como por
sua determinação tão resoluta e tão discreta". É isso.
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"no, no, no nos moveran! no, no nos moverán!
como
un árbol firme junto al rio, no, nos moverán.."
Humberto
Guanais