Que a vida nos bairros populares é diferente dos bairros nobres, em diversos aspectos, todo mundo já sabe. Mas, há certas peculiaridades das comunidades, que só quem vive diariamente nesses lugares conhece. Como Camila Souza, fotógrafa, que decidiu registrar um pouco do seu cotidiano no Subúrbio Ferroviário de Salvador, elaborando a exposição Janelas da Favela – Um olhar sobre sentimentos debruçados na sacada, em cartaz na Galeria Jayme Fygura.

Inspirada por esse traço do dia a dia nas periferias, a fotógrafa apresenta sua primeira exposição, em que traduz essa relação de sentimento-espaço, nos 17 registros feitos em andanças pelos bairros do Subúrbio, onde nasceu, cresceu e reside até hoje.

“A ideia do projeto surgiu quando despertei para a poesia que o dia a dia fazia saltar da janela da minha vizinhança. Quando saia e voltava para casa, meus vizinhos me cumprimentaram das janelas de suas casas. Vi, que é muito comum, encontrar pessoas vendo a vida passar das suas sacadas. Muitas vezes vendo os/as filhos/as saindo ou chegando da escola, ou esperando seu companheiro (a) voltar do trabalho. Lembrei-me dos minutos que minha mãe passava na janela conversando com a vizinha enquanto estava com a panela do almoço no fogo. A vida se criava nessa imensidão de tempo.”  - diz Camila.

Ao apontar sua lente para as sacadas das janelas (entre) abertas com seus moradores à mostra, Camila nos mostra um pouco desses espaços e das pessoas que convivem com suas casas coladas umas às outras, que muitas vezes de tão pequenas, mal cabem toda família dentro, mas, no entanto, conseguem acolher uma vizinhança inteira. Assim, Janelas da Favela se torna um convite para que possamos percorrer o olhar pelas sacadas, pelas pessoas, pelas vidas que residem diariamente a olhar além dos seus espaços. É pelas sacadas que o interior da casa respira, convida e dialoga com toda a rua. É por essas sacadas que os mais variados sentimentos debruçam e que agora se convertem em imagem poética para esta exposição.