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Exu não é diabo e Raimundo Bouzanfraim é mais que Patuskada Por Albino Apolinário

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Conta as lendas africanas que sem Exú nenhuma comunicação com o mundo espiritual é possível. Em Salvador, cidade onde a fé caminha com a essência social e humana, falar dos encantados é retratar o cotidiano e cultura baiana.

É falar de amor religioso, e combate constante a uma intolerância que cresce todos os dias. Neste sentido, a história e cortejo na quarta –feira de cinzas a Raimundo Bouzanfraim, o nosso Exu. É a forma que encontramos de agradecer a esta energia, que trabalha para manutenção da paz entre os seres humanos, e acima de tudo agradecemos, por o mesmo ter se tornado um mensageiro da Paz.

Estamos falando de uma energia, que segundo relatos de antigos moradores do Centro Histórico, ainda capoeirista conheceu uma Srtª. Francesa cujo relacionamento gerou um filho que passou a ter a junção do nome de ambos. Ainda em Paris, esse veio a falecer antes de completar sete anos e os pais ao não aceitarem a perda do filho, resolve consultar os búzios, descobrindo que esse havia transformando-se no Orixá Exu, e que era preciso uma oferenda ao mesmo como forma de auxílio ao seu desenvolvimento espiritual. O que faz com que esses, tenham que voltar a Salvador para realização da mesma.

Ciente do acontecido contado pelos moradores mais antigos, em 1999,  a  Associação Comunitária Alzira do Conforto – ACAC, resolveu homenagear este Exú, realizando o Culto denominado de Patuscada – Evento que acontece todas as quartas-feiras de Cinzas, através de Cortejo, percorrendo ruas do Centro Histórico, com forma de agradecimento a esta energia que trabalha para manutenção da Paz. A cada ano, essa se torna mais importante, em especial pela necessidade de reafirmação da força de Exu como um orixá de luz e movimento e não diabo.

Reverenciamos o senhor dos caminhos e das encruzilhadas, mensageiro dos orixás, o dono da rua. Em um local como o centro histórico, de grandes movimentos, encruzilhadas e vielas cuidar deste é primordial. Vale lembrar que a encruzilhada tem uma importância simbólica, representando o centro e o lugar de passagem entre os mundos dos homens e dos deuses. Portanto, a patuscada ao mesmo é nossa forma de afirmar que a Bahia é a terra do Axé, da evolução e presença marcante das energias e divindades da religião Africana que tem a tarefa de ligar o sagrado ao profano, sendo o orixá da comunicação e o princípio dinâmico que rege a existência em um espaço musical e artístico como o pelourinho.

Como morador desta localidade, afirmo e reafirmo que é aqui onde os Orixás se estabeleceram, e fazem suas viagens espirituais, sempre retornando a esta terra consagrada por eles, como a morada dos Deuses. Ouvir as diversas histórias sobre essas energias em um local considerado mangue, é resgatar a história que originou este evento de criação fictícia, fundamentada apenas na oralidade de seus moradores e na ideia de agradar a Exu. Todos os personagens são imaginários, mais reais no momento onde se realiza o evento propriamente dito. São reais onde fé, energia e crença se mistura de maneira única mostrando que isso só poderia realmente ser uma obra de EXÙ.

Albino Apolinário é realizador cultural, coordenador da Caminhada Azoany, morador do Pelourinho e idealizador de diversas ações culturais na localidade.

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