Feliz despertar… Por Elaine Tavares
As celebrações de
um novo começo na vida das gentes são tão antigas quanto a própria raça. Nas
culturas mais remotas o "recomeço" era celebrado sempre no solstício ou
equinócio de primavera (dependendo do hemisfério), quando tudo começa outra vez
a florir. É que como o conceito de tempo ainda não havia sido aprisionado nos
relógios a vida das comunidades se regia pelas estações. Naqueles dias, o povo
se reunia em festivais, cantando, dançando e bebendo em honra da terra. As
mulheres engravidavam e a vida florescia. Era a completude do ciclo da
existência, sempre se repetindo.
De qualquer forma,
na medida em que as culturas foram se complexificando, igualmente encontraram
formas de medir o tempo. Os maias, por exemplo, lograram construir um intrincado
calendário com 364 dias, e mais um outro, chamado de "dia fora do tempo". Este,
celebrado em 25 de julho, marca o início do novo ciclo. Já nas culturas do médio
oriente, a festa era no equinócio de março, por conta da estação. A comunidade
judaica comemora sua festa de Ano Novo, ou Rosh Hashaná, uma espécie de dia do
julgamento, em meados de setembro ou no início de outubro, onde as pessoas fazem
um balanço da vida. Os islâmicos celebram em maio, contando o tempo a partir do
aniversário da saída do profeta Maomé de Meca para Medina, a Hégira, cujo marco
corresponde ao 622 da era cristã.
Na China, o
"recomeço" é celebrado em datas nem sempre fixas, mas entre final de janeiro e
início de fevereiro. Lá, o calendário está relacionado ao movimento da lua e
conta cada mês como o mês de um dos 12 animais que se apresentaram na frente de
Buda e o ciclo da vida segue esta dinâmica, sempre começando na primavera.
O mundo ocidental
também institui o seu "recomeço" a partir de um deus, que não é o cristão. Foi o
imperador Julio César, no ano 46 antes de cristo, que determinou o primeiro de
janeiro como o dia do início do ano, em homenagem a Jano, o cuidador dos
portões. Depois, mais tarde, com a oficialização do calendário gregoriano, esta
data permaneceu. Os franceses deram o toque romântico chamando-o de
réveillon, que vem do verbo réveiller, cujo significado é
"despertar".
E assim as gentes
escolhem seus momentos de despertar, de balanço, de julgamento de suas vidas.
Vemos que tudo depende da cultura onde se está inserido embora a idéia seja
sempre a mesma: recomeçar, jogar fora o que foi ruim, esquecer, olvidar. Começar
de novo, dar-se novas chances. E assim, vai avançando a raça, buscando aquilo
que os filósofos gregos insitiram em chamar de "felicidade". Pois eu, que
reverencio a terra, os animais, as forças da natureza, que amo Jesus, Maomé e
Buda, também vou comemorar. Que venha mais um ciclo, e que seja bom. Que
floresça a vida, o amor e a paz. E que todos os povos possam vibrar na mesma
onda cósmica. Eu te convido a dançar nesta bela noite de lua cheia, com os
deuses e deusas, sob as estrelas. Para receber o ano novo, recomeçar…
despertar! Ah, quanta bênção em se viver neste grande grande jardim!
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