Aldeia Nagô
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Fracassomaníacos, por Emir Sader

3 - 4 minutos de leituraModo Leitura

A invenção se
deve às ironias com que FHC tentava desqualificar o debate. Conhecedor que era,
se dedicou a essa prática, alimentada pelo despeito, o rancor e a inveja de ver
seu sucessor se dar muito melhor do que ele. E os tucanos se tornaram os
arautos da fracassomania, porque o governo Lula não poderia dar certo. Senão,
seria a prova da incompetência, dos que se julgavam os mais competentes.






Lula fracassaria porque não contaria com a expertise
(expressão bem tucana) de gente como Pedro Malan, Celso Lafer, Paulo Renato,
José Serra, os irmãos Mendonça de Barros, entre tantos outros tucanos [tucanalhas!]. O governo Lula não poderia dar certo, senão a
pessoa mais qualificada para dirigir o Brasil – na ótica tucana -, FHC se
mostraria muito menos capaz que um operário nordestino [nem
branco, sem um dedo, sem formação acadêmica, sem…].

Por isso o governo Lula teria que fracassar economicamente, com a inflação
descontrolada, a fuga de capitais estrangeiros, o "risco Brasil" despencando, a
estagnação herdada de FHC prolongada e aprofundada, o descontentamento social
se alastrando, as divergências internas ao PT dividindo profundamente o
partido, o governo se isolando social e politicamente no plano interno, além de
no plano internacional.

A imprensa se encarregou de propagar o fracasso do governo Lula. Ricardo
Noblat, apresentando o livro de uma jornalista global, afirmava expressamente,
de forma coerente com o livreco de ocasião, que "o governo Lula acabou" (sic).
A crise de 2005 do governo era seu funeral, os urubus da mídia privada
salivavam na expectativa de voltarem a eleger um dos seus para se reapropriarem
do Estado brasileiro.

FHC gritava, no ultimo comício do candidato [derrotado] do
seu partido, que havia relegado seu governo, com a camisa para fora da calça,
suado, desesperado, a dizer: "Lula, você morreu", refletindo seus desejos,
em contraposição com a realidade, que viu Lula se reeleger, sob o cadáver
político e moral de FHC.

Um jornalista da empresa da Avenida Barão de Limeira relatava o desespero do
seu patrão, golpeando a mesa, enquanto dava voltas em torno dela, dizendo:
"Onde foi que nós erramos, onde foi que nós erramos?", depois de acreditar que
a gigantesca operação de mídia montada a partir de uma entrevista a um escroque
que o jornal tinha feito, tinha derrubado ao governo Lula.

Ter que conviver com o sucesso popular, econômico, social e internacional do
governo Lula é insuportável para os fracassomaníacos. Usam todo o tempo de
rádio, televisão e internet, todo o espaço de jornal para atacar o governo, e
só conseguem 5% de rejeição ao governo, com 80% de apoio. Um resultado penoso:
qualquer gerente eficiente mandaria todos os empregados das empresas midiáticas
embora, por baixíssima produtividade.

Como disse, desesperadamente, FHC a Aécio, tentando culpá-lo por uma nova
derrota no ano que vem: "Se perdermos, são 16 anos fora do governo…"
Terminaria definitivamente uma geração de políticos direitistas, entre eles
Tasso, FHC, Serra – os queridinhos do grande empresariado e da mídia mercantil.

Se Evo Morales dá certo, quando o FHC de lá – o
branco, que fala castelhano com sotaque inglês -, Sanchez de Losada, fracassou,
é derrota das elites brancas, da mesma forma que se Lula dá certo, é derrota
das elites brancas paulistanas dos Jardins e da empresa elitista e mercantil da
Avenida Barão de Limeira.

Emir Sader é sociólogo
Artigo publicado originalmente no Blog do Autor

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