Aldeia Nagô
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Futebol explica política ao país por Eduardo Guimarães

3 - 5 minutos de leituraModo Leitura

Há uma
ironia poética em dois episódios envolvendo futebol que terão – ou que
tiveram –
o poder de explicar política à sociedade como nenhum discurso político
jamais
conseguiu tão didaticamente. Isso se deve ao verdadeiro amor e à
passionalidade
que o brasileiro dedica a esse esporte.


O fenômeno
"Cala Boca Galvão" e a briga da Globo com Dunga revelam, da forma que o
povo
brasileiro melhor poderia entender, o viés hipócrita, arrogante,
antinacional e
sabotador da grande imprensa brasileira, capaz de ir contra os
interesses
nacionais em temas que vão da imagem internacional do país aos seus
interesses
comerciais e, se "necessário", até aos seus interesses
desportivos.

Só mesmo o
futebol, uma verdadeira religião para os brasileiros, uma paixão quase
irracional que lhes ocupa as preocupações de uma forma espantosa e até
perniciosa, poderia mostrar que a mídia não hesita em sabotar os
interesses
nacionais para fazer valer a sua vontade e os seus interesses políticos,
ideológicos e econômicos.

Não direi
que é novidade a imprensa de um país atacar a sua Seleção de futebol no
momento
em que ela mais precisa de apoio – durante uma Copa do Mundo, por
exemplo.
Novidade talvez seja essa imprensa exaltar adversários do time de seu
país,
quase tentando levar o povo a torcer por eles, e camaextrapolar críticas
à
Seleção nacional com a evidente intenção de lhe baixar o
moral.

Assistir
aos jogos da Seleção pela Globo se tornou sinônimo de irritação para um
país que
tem todas as razões para acreditar naqueles que detêm todas as condições
de
vencer a edição 2010 do campeonato mundial de futebol masculino devido à
trajetória da equipe nos últimos anos.

Galvão
Bueno irrita um povo que entende tudo de futebol narrando os jogos como
se fosse
uma biruta de aeroporto e enxergando, em campo, o que ninguém mais vê.
Atacar e
difamar o técnico da Seleção em plena Copa do Mundo é o mesmo tipo de
sabotagem
que a mídia praticou no limiar e nos primórdios da mais recente crise
econômica
mundial ao tentar induzir pânico nos agentes econômicos.

O
resultado não poderia ser outro. A sociedade brasileira "gritou", pela
internet,
"Cala a boca, Galvão". No UOL, enquete perguntando se o internauta apóia
a Globo
ou Dunga na briga em que se meteram resultou em um apoio de cerca de 80%
ao
técnico da Seleção.

Agora,
pior do que tudo isso foi a imprensa ficar exaltando outras seleções,
sobretudo
a da Argentina, e pondo defeitos exagerados em uma equipe do Brasil que
tem
obtido importantes e animadoras vitórias em campo.

Aliás, tem
lógica: a mídia fica sempre contra o Brasil depois que Lula se
elegeu.

Basta que
um presidente da República apoiado com fervor pela maioria esmagadora da
Nação
brilhe no cenário internacional, como ocorreu devido ao acordo que
logrou
estabelecer com o Irã recentemente, para que a mídia trate de
desqualificar o
feito.

O Brasil
tenta conseguir assento permanente no Conselho de Segurança da ONU? A
mídia
trata de oferecer ao mundo razões pelas quais não devemos conseguir. O
Brasil se
torna exemplo de boa governança exaltado pela comunidade internacional? A
mídia
local, naturalmente, vai na direção contrária.

Mas como
explicar tudo isso a um povo que só pensa em futebol e Carnaval? Fácil:
basta
esperar que a imprensa golpista, antinacional, arrogante, delirante e
sabotadora
se embriague com seus delírios de poder e explique sua natureza nefasta
da forma
mais didática que se poderia conceber, através do futebol, daquilo que
este povo
mais entende.

Apesar de
eu nunca ter acreditado que uma vitória do Brasil na Copa pudesse
favorecer o
governo Lula ou que uma derrota pudesse ter efeito oposto – pois, em
2006,
perdemos a disputa futebolística e Lula se elegeu -, a imprensa tucana
tinha
medo disso. Movida por esse delírio, fez, fez até que conseguiu
estabelecer uma
conexão entre futebol e política.

Artigo publicado originalmente em
http://www.blogcidadania.com.br

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