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Galeria Mercado celebra os 112 anos de legado histórico e cultural do Mercado Modelo 

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Inaugurada em janeiro de 2024, equipamento já recebeu quase 140 mil turistas do mundo inteiro, além de atrair o público soteropolitano para a região

No próximo dia 9 de dezembro, o Mercado Modelo, um dos principais cartões-postais de Salvador, comemora 112 anos de história. Há pouco menos de um ano, em janeiro de 2024, o subsolo do icônico edifício tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) passou a abrigar a Galeria Mercado, um espaço pensado para a valorização cultural e artística da cidade. Com curadoria de Thais Darzé, o projeto buscou aproximar o erudito e o popular, unindo arte contemporânea e a rica tradição do Mercado, enquanto preserva a memória do edifício, tornando a arte acessível a todos.

“A Galeria Mercado faz parte do conjunto de intervenções na área da cultura que têm sido realizadas pela prefeitura no Centro Histórico da cidade. Essas ações contribuem diretamente com o desenvolvimento local, atraindo novos investimentos, além de ampliar a permanência do turista na cidade e oferecer mais opções de lazer através do contato com a arte. Isso é resultado de um trabalho focado na cultura e turismo como principais ativos de Salvador”, declara o subsecretário de Cultura e Turismo municipal,  Walter Pinto Jr.

Até novembro deste ano, a Galeria registrou quase 140 mil visitantes, tornando-se, em tão pouco tempo, uma parada obrigatória para soteropolitanos e turistas do mundo inteiro. A grande circulação de visitantes deste recente espaço cultural da capital baiana também trouxe reflexos positivos para os 263 lojistas, de acordo com o presidente da Associação dos Comerciantes do Mercado Modelo (Ascomm), Jorge Felipe Santana.

“Todos nós sabemos que 80% dos turistas que visitam Salvador passam pelo Mercado Modelo, mas era um sonho dos comerciantes que o soteropolitano tivesse uma frequência significativa no Mercado. Então, quando a Galeria Mercado foi inaugurada, o nosso sonho virou realidade, principalmente nos finais de semana quando os baianos visitam a Galeria maciçamente”, ressalta.

Maria da Conceição Aparecida Pinto, esposa de Ápio Camafeu — filho de uma das personalidades mais emblemáticas do Mercado Modelo, Camafeu de Oxóssi — comanda, junto com o marido, a Loja 37, um ponto que pertence à família Camafeu há 53 anos. Ela destaca a importância cultural da Galeria e relembra a transformação que o local passou ao longo dos anos.

“Eu conheci a galeria há mais de 20 anos e ela era totalmente diferente. Agora, a Galeria tem um trabalho cultural de verdade. Quando cheguei aqui em Salvador, a visão que se tinha era a de que muitos escravizados haviam morrido ali. Hoje, com a reabertura do subsolo e uma nova visão cultural, mudou da água para o vinho. Está maravilhoso. Você percebe nitidamente a diferença, tanto que a procura aumentou, as filas são grandes”, explica Maria da Conceição.

Ela também ressalta o papel do Mercado Modelo para os soteropolitanos: “A gente bate muito nessa tecla, que o Mercado Modelo não é só para o turista, é principalmente para o soteropolitano, porque aqui está a história viva da Bahia e de Salvador. Temos visto famílias que trazem as crianças e sim, houve uma melhora na circulação de pessoas com a abertura da Galeria. É daqui para mais”, celebra a comerciante.

Em cada canto deste prédio de estilo neoclássico há diferentes histórias a serem contadas. O subsolo do antigo prédio da Alfândega também guarda memórias que vão além de histórias sobre a sua função para o armazenamento de vinhos. Ao longo do tempo, algumas dessas histórias foram distorcidas, alimentando mitos que não condizem com a realidade histórica do local, como explica a historiadora Daniela Torres.

“Há quem diga que sentia uma energia muito pesada quando descia no subsolo do Mercado Modelo. Isso acontece, porque existe o mito de que lá foram colocados negros escravizados que vinham a morrer quando subia a maré. Isso faz com que turistas e até alguns baianos projetem uma sensação sobre algo que nunca existiu. O prédio do atual Mercado Modelo só passou a receber essa função a partir de 1971. Se a gente pensar a nível cronológico, a escravidão foi proibida no Brasil em 1888, com a assinatura da Lei Áurea. Portanto, não havia mais escravização no Brasil, o que torna incoerente a ideia de armazenamento de negros escravizados”, enfatiza.

A Galeria

A proposta curatorial da Galeria Mercado contempla obras de artistas renomados, como as esculturas “Exú” e “Cabeça”, parte da série Cabeças de Tempo, criada na década de 1980 por Mario Cravo Jr. As peças fazem alusão à estatuária africana e têm como matéria-prima a madeira proveniente do grande incêndio que devastou o Mercado Modelo em 1984. Além disso, a Galeria também exibe uma imagem de Nossa Senhora da Conceição da Praia, encontrada no porão do Mercado Modelo e incorporada ao acervo permanente do espaço.

Outros destaques na galeria incluem obras da Série Templo de Oxalá, de Rubem Valentim, e Lágrimas, de Vinícius S.A., além de um levantamento histórico sobre o Mercado Modelo, seus antigos edifícios e o resgate das principais personalidades que marcaram a história do local, incluindo a história do subsolo do mercado.

A Galeria Mercado é um equipamento cultural da Prefeitura de Salvador, gerido pela Organização de Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura no Brasil (OEI), por meio de acordo executivo de cooperação internacional.

Fotografia: Amanda Tropicana

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