Aldeia Nagô
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Grosseria por Fabrício Carpinejar

2 - 3 minutos de leituraModo Leitura

O que não me agrada é a grosseria. O que torna uma pessoa assexuada, infeliz e
feia é a grosseria. Ainda mais sob o disfarce da sinceridade.


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para uma mulher que está gorda é uma indelicadeza. Qual a finalidade? O que se
ganha com isso? Respeito? Duvido. Respeito não surge do desrespeito.

Não
é possível encontrar confiança ao rebaixar o outro. Amizade não tem desnível.

Ou acha que ela não sofre e não sabe? Ela não vai emagrecer com a
ofensa. Ninguém muda com a ofensa, só se percebe quem são os verdadeiros amigos.

Que benefício trará ao afirmar que ela inspira piedade? Que não se
comporta em festas? Que transa mal?

Quem se julga no direito de dar nota
não conhece o dever de calar. A franqueza está sendo confundida com dizer o que
se quer, na hora que bem entender. Não se seleciona as palavras com tato.
Fala-se do jeito que sai. Arrumar a casa não é destruí-la. Destruir a casa é
apagar a possibilidade de morar nela.

Não é qualquer um que consegue
conduzir verdades. A verdade não é sinônimo da descortesia. Alguns acreditam que
estão fazendo um favor expondo verdades, mas apenas mostram a impossibilidade de
se comunicar. Atacam pela incompetência ao diálogo. Não suportam conversar, são
vaidosos para escutar o contraponto. Vaidosos para perguntar. Impacientes e logo
desejam resolver a situação. Antecipam-se como formadores e deformam. Alegam que
não podem se reprimir e reprimem. Alegam que não podem se censurar e censuram.

Não há como morder e depois culpar os dentes. Não há como arranhar e
depois culpar as unhas grandes. Ou, arrependido, atenuar-se na brincadeira.

A liberdade crítica não contraria a educação. Se não sabemos deixar de
dizer por amor não saberemos amar sem dizer. E o amor prevê o consentimento do
silêncio. Proteger-se da gentileza do silêncio. Não estaremos escondendo nada,
mas escolhendo. Escolher é cuidar. É esperar que a boca nasça primeiramente nas
mãos. Que aprenda a caminhar nas mãos.

Palavras não doem; o que dói é o
desprezo com elas. Fala-se pela importância de falar, ao invés de falar pela
importância de ser ouvido.

Fabrício Carpinejar

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