Hoje, a minha melhor antevisão de futuro é ver Bolsonaro no banco dos réus. Por Reinaldo Azevedo
Vai chegando ao fim um ano horrível, mas não nosso desassossego. 2021 nos trará ainda muitas dificuldades e muitos desafios também na saúde. A pandemia está longe do fim, e o processo de vacinação em massa não será tranquilo. Não temos um governo, mas uma balbúrdia liderada por um fanfarrão com discurso de homicida em massa
Também a democracia, por óbvio, continuará sob permanente ataque. E, ainda que seja estupefaciente, a questão democrática passa hoje por essa área
Jair Bolsonaro, um depredador contumaz de institucionalidade, escolheu a saúde dos brasileiros como campo de batalha ideológica, o que eleva a insanidade a um patamar inédito.
Que outro presidente ou que político no mundo ousariam tratar o coronavírus — que já matou, até o dia 23, 189.220 pessoas, com 961 mortes só nesta quarta — como “a melhor vacina”
Bolsonaro o fez durante visita a Santa Catarina. Negou-se abertamente a usar uma máscara que lhe foi oferecida: “Eu não uso”. Estava cercado de outros desmascarados.
O presidente manipula o desalento da população e os contratempos que variados graus de isolamento social impõem, fazendo proselitismo contra a vacina e tentando desmoralizar os cuidados mínimos para evitar a contaminação
Tornou-se abertamente um “necropolítico” — um político da morte —, incentivando tanto os seus seguidores como o povo a desafiar uma doença que pode ser letal. Pessoas já recuperadas relatam efeitos colaterais de longa duração.
Enquanto brasileiros vão se aglomerando nas praias e nas ruas, o Reino Unido decreta lockdown porque duas mutações do vírus, ainda mais contagiosas, se espalham. A reinfecção é, sim, possível e já está entre nós.Seguimos, no entanto — ou parte considerável dos brasileiros —, como se não houvesse amanhã. Ou como se o amanhã fosse eterno, o que dá na mesma.
Nada há de muito bom ou otimista a declarar, só a desejar. A única forma de ser otimista é sendo um realista prudente. Só é possível melhorar apontando os erros, reconhecendo-os, corrigindo-os. Só assim o amanhã pode ser melhor. Ou pioramos. E, como costumo escrever aqui, países nunca fecham as portas, mas podem entrar em decadência contínua.
Protejam a si mesmos, àqueles que lhes são caros e aos outros. Tal postura, por enquanto, é a melhor vacina.
Só um potencial homicida em massa — variante genérica do genocida — escolhe o vírus como o melhor imunizante.
Os democratas brasileiros precisam se organizar para criminalizar esse tipo de discurso. Ele tem de ser banido da esfera política e precisa ser tratado na área penal. Como crime de lesa humanidade.
Assim, os melhores votos que posso deixar sobre o futuro anteveem que Bolsonaro ainda responderá por seus crimes de responsabilidade e por suas falas homicidas.Este é o único bem que ele pode fazer ao Brasil: ser um exemplo de que atos e falas têm consequência na democracia.
Sei que o Natal não será tão feliz e que o novo ano não será lá essas coisas.
Cultivemos, no entanto, nosso jardim.