Em menos de três semanas, dois eminentes estudiosos do Benim nos deixaram, Abiola Félix Iroko (*1946 – 2020) e Olabiyi Babalola Joseph Yaï (*1942 – 2020). Mesmo sendo de uma geração mais nova, ambos foram grandes amigos de Pierre Fatumbi Verger e conviveram com ele, em Salvador, durante dois ou três meses no caso do Professor Iroko, e mais que um ano no caso do
Professor Olabiyi Babalola Yaï, que voltou da Bahia falando fluentemente português. Eles se tornaram universitários de primeiro plano no seu próprio pais, o Benim, mas também no cenário cientifico e intelectual internacional no caso do Professor Yaï, o que é admirável especialmente se consideramos que ambos provinham, no Daomé colonial, de meios camponeses extremamente modestos onde as chances de poder seguir um curso escolar e depois universitário eram extremamente remotas.
O Professor de História da Universidade de Abomey-Calavi do Benim, Félix Iroko é autor de uma quinzena de obras sobre as culturas e a história de Benim, dentre estas a polêmica ’La Côte des Esclaves et la traite négrière – Les faits et le jugement de l’histoire (« A Costa dos Escravos e o tráfico de escravos – Os fatos e o julgamento da história », não traduzido para o português), no qual aborda corajosamente a questão do compartilhamento das responsabilidades relativas ao tráfico transatlântico de escravos.
Pierre Verger conheceu Olabiyi Yai durante suas pesquisas no Benim, ainda na infância deste último, tendo mantido contato com ele ao longo de décadas. Entre 1975/1976 o Professor Yai esteve em Salvador, como professor de iorubá no CEAO – Centro de Estudos Afro-Orientais da UFBA, período durante o qual morou na casa de Verger.

O Professor Olabiyi Yaï, depois de ter ensinado nas universidades do Benim, da Nigéria, da Bahia e da Flórida, tornou-se Embaixador do Benim junto a UNESCO. Grande intelectual, militante, poliglota, foi eleito, em 2007, para o cargo de Presidente do Conselho Executivo da UNESCO e marcou brilhantemente o seu mandato em numerosos domínios, como a sua luta contra o analfabetismo, seu empenho pelo reconhecimento e uso das línguas africanas e o desenvolvimento de políticas culturais e linguísticas. Ele foi o precursor da noção de ‘’patrimônio imaterial da humanidade” e, graças a ele, as cerimônias Gélédè, do Benim, fizeram parte das primeiras manifestações a receber o título de patrimônio imaterial. Este grande erudito foi um personagem tanto mais cativante quanto de grande simplicidade e humildade, sempre à escuta do outro, mesmo o mais humilde.
Esses desaparecimentos são uma enorme perda para o Benim e toda a África, mas também para o Brasil que perde assim dois amigos de grande importância moral e intelectual.
Através desta curta nota a Fundação Pierre Verger deseja fazer uma homenagem póstuma a esses dois importantes intelectuais, amigos de Pierre Verger por longo tempo. E se há uma pessoa que ilustra perfeitamente o provérbio africano citado pelo grande etnólogo e escritor maliano, Hamadou Hampâté Bâ, em 1960, na tribuna da Unesco, é o professor Olabiyi Yaï: Na África, quando um velho morre, é uma biblioteca inteira que queima.
Nas imagens, Professor Olabiyi Yaï em sua última visita à Fundação Pierre Verger.
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Texto: André Jolly
Fotografias: Tacun Lecy