“J. Velloso e Recôncavo Experimental” une contemporaneidade e tradição popular
A fusão entre contemporaneidade e cultura popular em uma mistura de cores e sons típicos do recôncavo baiano é o que dá o tom ao projeto “J. Velloso e Recôncavo Experimental”, novo álbum que chega hoje em todas as plataformas de música.
Com participações de Gerônimo Santana, Jussara Silveira, e Illy, o projeto mergulha o ouvinte nas raízes culturais e expressões dinâmicas da região, explorando diferentes gêneros como reggae, samba-chula, pagode e rock.
Aborda, ainda, temas como escravidão, religião, tradições locais e manifestações culturais como a Capoeira, Maculelê, Nego Fugido, e a Chegança de Saubara.
A união entre o cantor e compositor J. Velloso e Gustavo Caribé, idealizador do coletivo Recôncavo Experimental, se deu durante o período da pandemia quando os artistas se juntaram à produtora e diretora artística Mirella Medeiros para dar vida a um projeto cativante e surpreendente que vai muito além de um álbum, atuando como elemento fundamental na difusão e preservação da cultura de uma região que sempre desempenhou um papel fundamental na formação da identidade brasileira.
“‘J. Velloso e Recôncavo Experimental’ é uma experiência que transcende fronteiras, reinventa tradições e fortalece a identidade cultural de uma região rica em história e cultura. O projeto é uma celebração vibrante da cultura popular e contemporânea, mergulhando nas raízes culturais do Recôncavo da Bahia e destacando sua influência nas expressões musicais atuais.”
Composto por 13 faixas, “J. Velloso e Recôncavo Experimental” também celebra a cultura local por meio da participação de artistas locais, representados por Zolinha de Santo Amaro, sambista e zelador da Casa do Samba, em Santo Amaro; Monilson Mony, doutor em Artes Cênicas e representante do Nego Fugido; além do Cantador de Moçambique, jovem capoeirista que viralizou nas redes cantando há alguns anos.
“A capa do disco apresenta a manifestação cultural ‘Caretas de Acupe’ numa foto feita pelo fotografo Peterson Azevedo sob uma arte que, assim como toda a identidade visual do projeto, foi desenvolvida por Mirella Medeiros, Bacharela em Cultura, Artes e Tecnologias Aplicadas pela Universidade Federal do Recôncavo. A estética, que mescla elementos da cultura underground com borrões de tinta em cores vibrantes sob fotos em preto e branco, simboliza a fusão entre o tradicional e o contemporâneo.”
No dia 25 de maio, às 19h, vai acontecer o show de lançamento do álbum, no Coreto do Santo Antônio Além do Carmo, com participações de manifestações culturais.
O projeto “J. Velloso e Recôncavo Experimental” foi contemplado pelo edital Gregórios – Ano III, com recursos financeiros da Fundação Gregório de Mattos, Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, Prefeitura de Salvador e da Lei Paulo Gustavo, Ministério da Cultura, Governo Federal.
Sobre J. Velloso
J. Velloso é um renomado cantor, compositor e produtor de música popular brasileira. Natural de Santo Amaro da Purificação, cresceu em Salvador e graduou-se em medicina veterinária pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) em 1983, quando retornou à sua cidade natal para trabalhar em um consultório e começou a se envolver com música, influenciado por artistas locais como Roberto Mendes e Jorge Portugal, com os quais desenvolveu diversas parcerias. Atualmente, suas canções estão nas vozes de artistas como Maria Bethânia, Gal Costa, Mariene de Castro, Daniela Mercury, Beth Carvalho, Jorge Vercillo, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Joana, Zezé Motta, Vânia Abreu, Belô Velloso, Illy, Mariana Aydar, entre outros.
Como produtor musical, J. Velloso teve participação em diversos discos premiados, como “Diplomacia”, de Batatinha (vencedor do Prêmio Sharp em 1999); “Humanenochum”, de Riachão (indicado ao Grammy em 2002); o álbum de D. Edith do Prato e Vozes da Purificação (vencedor do Prêmio Tim de Música em 2004); e o primeiro disco de Mariene de Castro, “Abre Caminho” (vencedor do Prêmio Braskem de Música em 2004 e do Prêmio TIM em 2005), entre outros. Além disso, ele atuou como diretor artístico em projetos de artistas como Mariene de Castro, Gal Costa e Daniela Mercury. Paralelamente, J. Velloso esteve envolvido em diversos acontecimentos culturais em Salvador, como o Cortejo Afro, Casa da Mãe e A’BOCA Centro de Artes.
J. Velloso lançou três álbuns ao longo de sua carreira: “Aboio para um Rinoceronte”, “J. Velloso e os Cavaleiros de Jorge” e “Não Sei se Te Contei”, que contam com participações especiais e parcerias com diversos artistas, como Caetano Veloso, Maria Bethânia, Jorge
Mautner, Virgínia Rodrigues, Armandinho Macêdo, Targino Gondim e DJ Sankofa. Além disso, publicou um livro intitulado “Santo Antônio e outros Cantos”, no qual compartilha histórias por trás de suas composições, acompanhado de um CD com algumas das canções mencionadas no livro.
Atualmente, junto à Luciano Salvador Bahia, conduz um programa semanal com mais de cinco anos no ar na rádio pública da Bahia, Educadora FM, chamado Feita na Bahia, dedicado à artistas baianos, além de estar trabalhando no lançamento seu mais novo projeto, em parceria com a banda Recôncavo Experimental, dedicado às manifestações culturais do recôncavo baiano.
Sobre Recôncavo Experimental
Idealizado pelo baixista Gustavo Caribé, o coletivo Recôncavo Experimental surge da vontade de explorar a fusão entre diversas vertentes musicais e a tradição do samba de roda, inspirado pelos mestres João do Boi, Alumínio, Roberto Mendes e Raimundo Sodré. A cada performance, o grupo inova com arranjos e formações diversas, incorporando experiências variadas e criando uma sonoridade autenticamente baiana que enriquece a música brasileira.
Combinando elementos de rock, jazz, delays e psicodelia ao samba de roda, o Recôncavo Experimental mantém suas raízes, enquanto acompanha as tendências contemporâneas. A pesquisa e a influência do comportamento musical do Recôncavo da Bahia, especialmente de Santo Amaro, são fundamentais para o grupo. A direção do projeto, liderada por Gustavo e o guitarrista e compositor João Mendes, agrega uma visão ampla e uma abordagem original.
Complementando o conjunto, os percussionistas Tiago Nunes e Jaime Nascimento, além da recente adição da guitarra de suingue rock’n’roll de Raimundo Nova, enriquecem ainda mais a sonoridade. O Recôncavo Experimental é uma interpretação contemporânea das chulas do Recôncavo da Bahia, mantendo a autenticidade e a oralidade essenciais desse estilo. O EP homônimo lançado em 2019 está disponível em todas as plataformas digitais.
Faixa a Faixa
O álbum “J. Velloso e Recôncavo Experimental” é uma jornada sonora cuidadosamente planejada, onde cada faixa é dirigida a temas relacionados à diversa cultura do Recôncavo da Bahia. A sequência das músicas é como um livro que se desenrola em capítulos, mergulhando o ouvinte nas raízes culturais e nas expressões dinâmicas dessa região única.
A primeira faixa, dedicada à capoeira, se inicia com a voz envolvente do Cantador de Moçambique, um jovem capoeirista africano, interpretando uma música do mestre de capoeira baiano, Fala Manso. Essa introdução ressalta a jornada da capoeira, que se originou no Brasil através dos escravizados, retornando à África através da sua interpretação. A música propõe uma reflexão sobre a vaidade que, por vezes, suplanta as tradições sem um fundamento sólido. Além disso, ela se conecta de forma significativa com outra composição de J. Velloso, onde ele traça um paralelo entre a experiência da escravidão e o amor, destacando especialmente a figura icônica de Besouro Preto, ta,mbém conhecido como Besouro Mangangá, o maior mestre da capoeira de todos os tempos, nascido em Santo Amaro.
“Recôncavo Chegando” se destaca como a música que apresenta o álbum, uma fusão ousada de elementos como samba de roda, rock, pandeirada e guitarrada. Esta faixa é um convite para experimentar a mistura das múltiplas camadas culturais e sonoras do Recôncavo, guiando-nos por essa jornada musical diversificada e pulsante.
A terceira faixa, “Sou Maculelê”, transporta-nos para uma manifestação tradicional de Santo Amaro, com diversas interpretações sobre sua origem, incluindo uma lenda que relata a defesa de uma aldeia por uma única pessoa usando um pau, conhecido como “grima”. A música também presta homenagem a “Mestre Popó”, um dos maiores expoentes dessa tradição, e à cidade de origem tanto dele quanto de J. Velloso e Gustavo Caribé.
“Vida Chula”, a quarta música, nos coloca no ponto de vista de um escravizado que questiona as imposições dos senhores de engenho, em uma reflexão profunda sobre a história e as lutas que marcaram o Recôncavo da Bahia. A música conta com a participação de Zolinha de Santo Amaro, um sambista da região e antigo zelador da Casa do Samba, o que reforça a importância da faixa. Foi o primeiro single do projeto e possui um clipe que retrata diversas imagens da região.
O álbum também traz outro single já lançado “Iê, Saudade”, que retrata a saudade de diversos elementos da região, como a Festa de Reis, Lavagem da Purificação, o Bembé do Mercado, as rezadeiras, o frio de junho, o samba de roda, o Rio Subaé (hoje morto), a trezena de Santo Antônio que Nené fazia, e Popó do Maculelê, já citado nas duas faixas anteriores. A música conta com um clipe que retrata a viagem de Salvador à Santo Amaro e as emoções encontradas nesse trajeto, envolvidas em lembranças das experiências que moldam a identidade daqueles que habitam a cidade. Para J. Velloso, a canção também carrega um sentido especial, ao retratar a saudade da sua mãe que faleceu no dia de São João, como expressa o verso “São João queimou felicidade”, preparando o terreno para a próxima canção do álbum.
A mistura de pagode, rock e elementos do candomblé em “Egoísmo ou Amor” nos leva a questionar diretamente a existência de Deus, explorando temas filosóficos em um arranjo provocante. A canção nasceu da inquietação em relação à utilização da religião como ferramenta de dominação, interferindo na capacidade de discernimento do ser humano. Conta também com um clipe premiado pela FUNARTE que faz referências ao neo-realismo, corrente artística de vanguarda surgida na Itália após a segunda guerra mundial.
A sétima faixa, “Cadê Jão”, retorna ao universo do samba de roda, afirmando que o umbigo do Brasil é a Bahia. Esta música é um diálogo entre um filho de Oxossi e o orixá, explorando os caminhos do amor e da fé, envolvendo-nos em um xirê. A faixa conta com a participação de Jussara Silveira, interpretando a mãe de santo que orienta o filho a se apegar a fé ao seu orixá.
Explorando a entidade religiosa do Caboclo, a oitava música faz referência ao Marafo, uma bebida utilizada nas oferendas à entidade. Esta faixa tem um significado especial, sendo a última adicionada ao disco após uma experiência religiosa de Gustavo Caribé. Conta com a participação marcante de Illy nos assobios e nos vocais, e de Raysson Lima nas percussões.
“Na Casa de Jah”, a nona faixa, nos leva ao reggae do Recôncavo, uma representação importante da identidade musical das cidades Cachoeira e São Félix, onde o ritmo encontrou uma linguagem própria, com letras ligadas a temas sociais. Nomes como Sine Calmon, e as bandas Morrão Fumegante e Remanescentes são evocados, trazendo à tona as influências e contribuições desses artistas na cultura local.
A décima faixa, “Barro nos Pés”, nos convida a explorar o mundo sem perder as origens, em uma celebração das tradições e das personalidades marcantes do samba, e conta com a participação de Julio Caldas tocando guitarra baiana. A faixa, lançada anteriormente como single, tem um clipe filmado na Comunidade Quilombola do Kaonge, na cidade de Cachoeira.
A penúltima música, “Tudo é Mundo”, mergulha na Chegança, também conhecida como Marujada, que fala sobre as grandes navegações e a chegada dos mouros à Bahia. A música fala sobre a melancolia da partida e conta com um arranjo minimalista, valorizando a pandeirada utilizada na manifestação. A faixa é totalmente cantada por Gerônimo Santana, artista que tem profunda relação com o tema, e nos leva a uma despedida simbólica e poderosa.
Por fim, “Santo Antônio”, a única música que não é inédita, fecha o álbum em uma versão que evoca a fé, a memória e as tradições do Recôncavo da Bahia. Nessa nova gravação da faixa, J. Velloso inclui a “Oração do Desespero para Santo Antônio”, onde ele questiona o fato de depois de ter tido tanta fé em tudo, agora só restou a fé em Santo Antônio. A faixa é iniciada por Nené, que é citada na quinta música pelas suas trezenas para Santo Antônio. É uma celebração das raízes, da diversidade e da resiliência do povo dessa região tão rica em cultura e história.
O álbum “J. Velloso e Recôncavo Experimental” é mais do que uma coleção de músicas; é uma narrativa viva e envolvente da vitalidade e diversidade cultural do Recôncavo da Bahia. Cada faixa é um capítulo dessa história, convidando o ouvinte a mergulhar em um universo sonoro e emocional único, repleto de significados e experiências enriquecedoras.
Ficha Técnica
01. Isso que Entristece / Besouro Preto
(J. Velloso / Fala Manso)
Participação especial: Cantador de Moçambique
Voz: J. Velloso
Coro: J. Velloso e Gustavo Caribé
Arranjo, produção musical, baixo e beats: Gustavo Caribé
Guitarra: Raimundo Nova
Percussão: Jaime Nascimento e Pururu
Berimbau: Batata
02. Recôncavo Chegando
(Gustavo Caribé e Jaime Nascimento)
Voz: Gustavo Caribé
Arranjo, produção musical, baixo e beats: Gustavo Caribé
Guitarra: Raimundo Nova e Gustavo Caribé
Percussão: Jaime Nascimento, Pururu
Viola: Paulinho Dafilin
03. Sou Maculelê
(Gustavo Caribé, J. Velloso e Mirella Medeiros)
Voz: J. Velloso e Gustavo Caribé
Arranjo, produção musical, baixo e beats: Gustavo Caribé
Violão: Luciano Salvador Bahia
Guitarra: Marcelo Santolis
Percussão: Tiago Nunes
Percussão eletrônica: Pururu
04. Vida Chula
(Gustavo Caribé e J. Velloso)
Participação especial: Zolinha de Santo Amaro
Voz: J. Velloso
Coro: J. Velloso, Gustavo Caribé, João Mendes e Raimundo Nova
Arranjo, produção musical e baixo: Gustavo Caribé
João Mendes e Raimundo Nova: Guitarras
Tiago Nunes: Percussão
05. Iê saudade
(Gustavo Caribé e J. Velloso)
Voz: J. Velloso e Gustavo Caribé
Arranjo, produção musical e baixo: Gustavo Caribé
Guitarra: Raimundo Nova e João Mendes
Percussão: Jaime Nascimento e Tiago Nunes
06.Egoísmo ou amor
(Gustavo Caribé, J. Velloso e Mirella Medeiros)
Voz: J. Velloso e Gustavo Caribé
Arranjo, produção musical, e baixo: Gustavo Caribé
Guitarra: Raimundo Nova e João Mendes
Percussão e bateria: Tiago Nunes
07. Cadê Jão
(Gustavo Caribé, J. Velloso e Mirella Medeiros)
Participação especial: Jussara Silveira
Voz: J. Velloso e Gustavo Caribé
Coro: J. Velloso, Gustavo Caribé e Ailton Costa
Arranjo, produção musical, baixo e beats: Gustavo Caribé
Guitarra e beats: Leo Mendes
Percussão: Tiago Nunes
08. Marafo bom
(Gustavo Caribé e J. Velloso)
Participação especial: Illy
Voz: J. Velloso e Gustavo Caribé
Arranjo, produção musical e baixo: Gustavo Caribé
Rum: Raysson Lima
09. Nego Fugido
(Gustavo Caribé, J. Velloso e Mirella Medeiros)
Voz: J. Velloso e Gustavo Caribé
Participação especial: Monilson Mony (80736114572)
Arranjo, produção musical, baixo e beats: Gustavo Caribé
Guitarra: Raimundo Nova
Percussão: Pururu
10. REGGAE do Recôncavo
(Gustavo Caribé, J. Velloso e Mirella Medeiros)
11. Barro nos pés
(Gustavo Caribé, J. Velloso e Mirella Medeiros)
Voz: J. Velloso e Gustavo Caribé
Arranjo, produção musical, baixo, guitarra chula, beats, synts, berimbau e pandeiro: Gustavo Caribé
Guitarra baiana: Júlio Caldas
Atabaques: Jaime Nascimento
12. Tudo é Mundo
(Gustavo Caribé, J. Velloso e Mirella Medeiros)
Participação especial: Gerônimo Santana
Coro: J. Velloso, Gustavo Caribé
Arranjo, produção musical, pandeiro e beats: Gustavo Caribé
Percussão: Pururu
13. Santo Antônio (J. Velloso)
Voz: J. Velloso
Coro: Gustavo Caribé, J. Velloso, Jaime Nascimento, Tiago Nunes e Mirella Medeiros
Arranjo, produção musical e baixo: Gustavo Caribé
Guitarras: Raimundo Nova e João Mendes
Percussão: Tiago Nunes e Jaime Nascimento