Aldeia Nagô
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Jornal Le Monde entrevista Dilma

5 - 7 minutos de leituraModo Leitura

O jornal Le Monde falou com Dilma Rousseff e tratou de temas importantes
do
Brasil. Leia abaixo a reportagem, cujo título é "De Paris, a herdeira de
Lula se
projeta no cenário internacional":


Dilma Rousseff aproveitou a Copa do Mundo para se projetar no cenário
internacional. Em Paris, a herdeira do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da
Silva, candidata a presidente escolhida pelo Partido dos Trabalhadores (PT, de
esquerda), assistiu ao primeiro jogo da equipe do Brasil, no dia 15 de
Junho.

Na quarta-feira, sua programação foi mais protolocar. A senhora Rousseff se
reuniu com a secretária nacional do Partido Socialista, Martine Aubry, e com o
presidente francês Nicolas Sarkozy.

Aos 62 anos de idade, a ex-ministra chefiou a Casa Civil e nunca se submeteu
ao teste de uma eleição. O seu principal trunfo é a enorme popularidade de seu
mentor, que chega ao fim do segundo mandato com a aprovação de 80% dos
brasileiros.

No entanto, esta mulher de personalidade se recusa a ser considerada uma
simples continuação do presidente Lula. "O Brasil está vivendo um momento muito
especial. Nós podemos passar da condição de país emergente à condição de nação
desenvolvida", afirma ela, em entrevista ao Le Monde. Isso pressupõe a manutenção, durante
o próximo mandato presidencial (2011-2014), de uma taxa de crescimento econômico
de 5,5% a 6% ao ano.

Bônus demográfico

O governo Lula conseguiu reduzir o número de pobres de 77 para 53 milhões.
Porém, 19 milhões de brasileiros ainda sobrevivem em condições de extrema
pobreza e outros 34 milhões vivem em condições precárias. "O Brasil deve
continuar a expandir a sua classe média e torná-la maioria", afirma a senhora
Rousseff.

Na sua opinião, o país dispõe de um "bônus demográfico", uma vez que a
maioria de sua população (193 milhões de pessoas) está em idade de trabalhar. Em
oito anos, 14 milhões de empregos foram criados. O desafio agora é ter uma
educação de qualidade. "A integração das regiões mais pobres do Nordeste e do
Norte exige uma força de trabalho mais qualificada. Haverá uma escola técnica em
cada cidade com mais de 50.000 habitantes", considera.

O atual governo dobrou o número de escolas técnicas existentes e criou 14
universidades. Para obter recursos do governo federal, os estabelecimentos de
ensino estão sujeitos a uma avaliação dos resultados.

O crescimento requer mais investimentos em pesquisa e desenvolvimento. "O
Brasil não se tornou um grande produtor de alimentos só pela qualidade dos seus
solos e em virturde de seu clima, mas porque a nossa excelência em pesquisa
agrícola permite escolher as culturas adequadas", disse ela. "Grandes reservas
de petróleo em águas profundas, sob uma crosta de sal [pré-sal], foram
descobertas graças à experiência da empresa pública Petrobras ".

Para superar o gargalo da infraestrutura, o governo Lula lançou em 2007 o
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Dilma Rousseff também foi
apresentada pelo chefe de Estado como a "mãe do PAC", para melhor ligá-la a sua
gestão.

Contribuição de instituições privadas

Segundo fontes não-governamentais, menos da metade dos projetos foi
implementada até hoje. A candidata contesta este número e aponta para a
relutância dos investidores privados. "O financiamento em grande escala não pode
depender exclusivamente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES). É necessário que as instituições privadas também contribuam,
desenvolvendo novas formas de engenharia financeira", afirma esta economista. "A
construção das usinas hidrelétricas de Jirau e de Santo Antônio exige cinco
anos, e os trabalhos estão bem avançados", acrescenta.

Grandes obras como a construção de Brasília sempre resultaram em um aumento
da corrupção no Brasil. O país é frequentemente citado sobre este tema pela
organização não-governamental Transparência Internacional. O primeiro mandato do
presidente Lula também foi manchado por um escândalo que custou o posto do
antecessor de Dilma Rousseff, José Dirceu, ainda muito influente dentro do
PT.

"Nossas instituições estão melhorando", afirma a senhora Rousseff. Ela chama
a atenção para a transparência das ações do governo e a vigilância da Justiça e
do Ministério Público. O governador de Brasília, de oposição ao PT, foi preso
pela Polícia Federal por ter recebido subornos, propinas.

A herdeira de Lula não admite demora do governo federal em matéria de
segurança, uma questão que preocupa muito a opinião pública. Para evitar o uso
do Exército, um corpo de elite, a Força Nacional de Segurança Pública, foi
formado e treinado para respostas rápidas. Nos presídios de segurança máxima,
foi possível isolar chefes do crime organizado, os narcotraficantes que ocuparam
os territórios abandonados pelo Estado.

A senhora Rousseff cita o exemplo do Complexo do Alemão, favela no Rio de
Janeiro. "Um teleférico vai abrir a favela e ligá-la ao bairro residencial de
Botafogo", diz ela. "A polícia retomou o território, e foram instalados novos
serviços sociais: escolas, centros de saúde, esporte."

Rousseff defende a mesma posição que o presidente Lula no tratamento dado ao
presidente de Cuba, Raul Castro, e ao do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. "Não se faz
diplomacia interferindo nos assuntos internos de outros países", afirma. "As
ameaças, o isolamento ou as sanções não levam a nada construtivo", disse ela
sobre Cuba e a recente iniciativa da Turquia e do Brasil sobre o programa
nuclear iraniano.

Mesmo antes do começo da campanha oficial, a candidata do PT teve êxito nas
pesquisas de intenção de voto e alcançou seu principal rival, o social democrata
José Serra, ex-governador de São Paulo. Mas, como na Copa do Mundo, nada ainda é
definitivo.

Fonte: jornal Le Monde.

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