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Jornalistas como Cantanhêde ajudam a construir o grande acordo da impunidade. Por Joaquim de Carvalho

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No mesmo dia em que Joesley Batista publica artigo na Folha em que denuncia “as mentiras” que contaram para tentar desqualificar a denúncia que fez contra Temer, a coluna de Eliane Cantanhêde no Estadão é um exemplo acabado do que pode ser interpretado como “estratégia” de defesa do sucessor de Dilma Rousseff.

Cantanhêde diz que o relatório da Polícia Federal sobre as gravações do ex-senador Sérgio Machado, que também foi presidente da Transpetro, é um “marco no festival de delações”.

Recapitulando: nesta semana, uma delegada da PF não aceitou a gravação como prova de obstrução de justiça, o que levou Cantanhêde a estabelecer um elo com a gravação de outro delator, Joesley Batista:

Recapitulando: nesta semana, uma delegada da PF não aceitou a gravação como prova de obstrução de justiça, o que levou Cantanhêde a estabelecer um elo com a gravação de outro delator, Joesley Batista:

A Polícia Federal é uma coisa. A Procuradoria Geral da República, outra. A Polícia Federal é subordinada ao Ministério da Justiça, do Poder Executivo, por sua vez nas mãos de Michel Temer. A Procuradoria Geral da República tem autonomia política e administrativa. Não é subordinado a nenhum dos três poderes.

Portanto, a conclusão de uma delegada da Polícia Federal deve ser vista com reserva. A PF só foi órgão que disciplinava condutas jurídicas nas administrações do PT. Nem tanto por mérito, mas por fraqueza do ministro da Justiça de então.

A PF, como qualquer outro órgão policial, tem uma dupla função. Ela se subordina ao Executivo, mas tem também uma ação judiciária, se subordinado a decisões da Justiça e também do Ministério Público, que é seu órgão de controle.

O relatório da delegada da PF que não viu tentativa de obstrução da  Justiça nas conversas gravadas por Machado deve ser visto muito mais como a evidência de que existe, sim, obstrução da Justiça do que como qualquer outra coisa.

Se o Ministério Público Federal quiser, pode mandar refazer o trabalho da PF. Determinar cotas. Mas, com Rodrigo Janot arrumando as gavetas para ir embora, não é uma certeza de que isso vá ocorrer.

Gravação é indício veemente de crime. Pode conter uma confissão. Mas é preciso buscar provas que reforcem a declaração. Veja-se o caso do senador Romero Jucá.

Ele disse que era preciso estancar a sangria, que estava “matando” os políticos. E uma das ações necessárias era depor Dilma.

Jucá explicou que Michel lá era parte do grande acordo para obstruir a Justiça

Jucá é explícito:

JUCÁ – Você tem que ver com seu advogado como é que a gente pode ajudar. […] Tem que ser política, advogado não encontra [inaudível]. Se é político, como é a política? Tem que resolver essa porra… Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria.

[…]

MACHADO – Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel [Temer].

JUCÁ – Só o Renan [Calheiros] que está contra essa porra. ‘Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha. Gente, esquece, o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, porra.

MACHADO – É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional.

JUCÁ – Com o Supremo, com tudo.

MACHADO – Com tudo, aí parava tudo.

JUCÁ – É. Delimitava onde está, pronto.

Isso foi feito: botaram o Michel.

Depois, na conversa com Joesley Batista, com etapa Dilma vencida, Aécio Neves, presidente nacional do PSDB (licenciado), detalhou o plano. Era para interferir na PF:

AÉCIO – O ministro é um bosta de um caralho, que não dá um alô, peba, está passando mal de saúde, pede para sair, Michel tá doido. Veio só eu e ele ontem de São Paulo, mandou um cara lá no Osmar Serraglio, porque ele errou de novo de nomear essa porra desse (…). Porque aí mexia na PF. O que que vai acontecer agora? Vai vim inquérito de uma porrada de gente, caralho, eles são tão bunda mole que eles não (tem) o cara que vai distribuir os inquéritos para o delegado. Você tem lá cem, sei lá, dois mil delegados da Polícia Federal. Você tem que escolher dez caras, né? Do Moreira, que interessa a ele vai pro João.

JOESLEY: Pro João.

AÉCIO: É. O Aécio vai pro Zé, (…)

JOESLEY: (…) [vozes intercaladas]

AÉCIO: Tem que tirar esse cara.

Essa segunda etapa já foi vencida: Osmar Serraglio já era. E a delegada que assinou o parecer que não vê obstrução de Justiça é o quê? Um Zé ou um João.

O grande acordo da impunidade, que tem tudo para tornar a corrupção mais severa, está em plena execução, na frente de todos nós.

Mas, para dar certo, esse acordo precisa da participação dos aliados de sempre, a velha mídia, fábrica de midiotas.

É preciso contar com a ousadia de uma Eliane Cantanhêde para escrever o que escreve e dizer o que é necessário (para eles), nos jornais e na televisão.

Aécio no Senado, sem riscos: a vez do Zé e do João.

Artigo publicado originalmente em http://www.diariodocentrodomundo.com.br/jornalistas-como-cantanhede-ajudam-construir-o-grande-acordo-da-impunidade-por-joaquim-de-carvalho/

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