Lançamento: As big techs e a guerra total : o complexo militar-industrial-dataficado
“Nós matamos pessoas com base em metadados”, diz o general Michael Hayden, ex-diretor da NSA e da CIA
Livro de Sérgio Amadeu analisa como o avanço da inteligência artificial, impulsionado pelas big techs norte-americanas, provoca uma mudança na gestão e na infraestrutura da guerra contemporânea.
As big techs e a guerra total parte de uma questão que está na ordem do dia — o modo como o desenvolvimento tecnológico e as plataformas digitais transformam nosso cotidiano, ao moldar nossa forma de agir, de pensar etc. — e vai além, mostrando como o avanço da inteligência artificial tem sido incorporado aos interesses militares das grandes potências (em especial, dos Estados Unidos) para redefinir o cenário das disputas geopolíticas globais.
Com uma escrita clara, que explica temas complexos em linguagem acessível, Sérgio Amadeu convida o leitor a adentrar os bastidores das alianças estratégicas entre Estados nacionais e as grandes empresas de tecnologia, como Google, Amazon, Microsoft, Oracle e Palantir, as quais passam a fornecer para as Forças Armadas não apenas infraestrutura digital e uma infinidade de dados que possibilitam mapear a população inteira de um território “inimigo”, mas também algoritmos e sistemas de IA que passam a tomar decisões e definir os alvos com base em estatísticas.
Fundamentado em vasta pesquisa e exemplos de fatos históricos recentes, como os sistemas de IA usados por Israel na Faixa de Gaza, Amadeu denuncia a dataficação como instrumento de dominação e alerta para a urgência de um debate ético e político capaz de enfrentar os riscos da fusão entre capitalismo de vigilância e militarismo digital
Sobre o autor
Sérgio Amadeu da Silveira é sociólogo e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP). É professor associado da Universidade Federal do ABC (UFABC) e pesquisador do CNPq, com especial interesse no impacto das novas tecnologias nos processos políticos. Publicou Comunicação digital e a construção dos commons (Fundação Perseu Abramo, 2007), Tudo sobre tod@s: Redes digitais, privacidade e venda de dados pessoais (Edições Sesc, 2017), Democracia e os códigos invisíveis: como os algoritmos estão modulando comportamentos e escolhas políticas (Edições Sesc, 2019), A sociedade de controle: Manipulação e modulação nas redes digitais, em coautoria com Joyce Souza e Rodolfo Avelino (Hedra, 2021), Ativismo digital hoje: Política e cultura na era das redes, em coautoria com Rosemary Segurado e Claudio Penteado (Hedra, 2021) e Como derrotar o fascismo — em eleições e sempre, em coautoria com Renato Rovai (Hedra e Veneta, 2022), entre outros livros.

Trechos do livro
– Este livro apresenta a análise da história recente de um conjunto de tecnologias e empresas muito conhecidas. Como buscarei demonstrar, as tecnologias carregam mais do que ideologias e finalidades econômicas. Hoje em dia, as tecnologias digitais e a inteligência artificial realmente existem amparam não apenas a melhoria das nossas experiências cotidianas, mas também a formação de um cenário de guerra, trazendo riscos e disseminando dispositivos extremamente perigosos para nossas sociedades.
– O Google está fornecendo tecnologia que ali- menta o primeiro genocídio impulsionado pela IA”, afirmou Zanoon Nissar, então gerente de pro- gramas da empresa carro-chefe do Grupo Alpha- bet, em um depoimento para o site No Tech for Apartheid. Todavia, a crítica de desenvolvedores de software e cientistas da computação ao envolvimento militar de suas empresas, as big techs, vem de bem antes do confronto de 2023 no Oriente Médio. Sem dúvida, a mobilização contra o apoio a ações militares se intensificou com o avanço do extermínio da população palestina a partir de 2023.
– Como seria possível as mesmas big techs que fazem a mediação das conversas entre adolescentes e distribuem conteúdos postados em suas redes sociais se colocarem como espaços neutros diante de contenciosos políticos, geopolíticos e militares? Como garantir que os dados dos usuários das redes sociais on-line de um país considerado adversário dos Estados Unidos não sejam utilizados pela big tech para fins militares e de guerra psicológica, termo antigo e bem conhecido do cardápio militar? A dataficação converte a guerra em um sistema tecnocrático, no qual dados e IA são tão cruciais quanto armas. Isso redefine o poder militar, subordinando-o a interesses corporativos e criando um cenário de vigilância total e violência automatizada. As big techs não são intermediárias, mas mediadoras de relacionamentos sociais e culturais. No epicentro do complexo militar-industrial-danificado, essas empresas podem privatizar decisões fundamentais antes definidas pelo corpo político e militar dirigente. Esse novo extrato das classes dominantes dos Estados Unidos, alguns poucos bilionários do Vale do Silício, está se aproximando perigosamente da sala de comando militar. Essas mudanças podem corroer as democracias.
– Há uma grande mudança no complexo militar- industrial. As empresas de armas entregam seus produtos para as Forças Armadas e não precisam acompanhar o teatro de operações. Mas não é isso que ocorre com as grandes corporações de tecnologia. Como as Forças Armadas dependem de volumes gigantescos de dados e da IA, as big techs estão no centro estratégico da gestão da guerra. Dito de modo diferente, a dataficação e o grande poder computacional adotado para o treinamento de modelos de IA e para a realização de inferências em tempo real levaram as Forças Armadas dos Estados Unidos a depender das infraestruturas de dados, do provimento de nuvem e dos frameworks das big techs. Aqui está o ponto de mudança. As empresas do Vale do Silício se tornaram indispensáveis para a gestão da guerra.
Serviço
As big techs e a guerra total: o complexo militar-industrial-dataficado
Autor Sérgio Amadeu da Silveira
Editora Hedra
ISBN 978-65-89705-39-0
Pág. 144
Preço 49 reais
