Aldeia Nagô
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Legalização do aborto: crime ou questão de saúde pública: Por Jorge Caboge

2 - 3 minutos de leituraModo Leitura

Causa estranheza o argumento utilizado por parte da sociedade, pela igreja e
pela maioria das religiões, sobretudo a católica e a protestante, para defender
a manutenção da criminalização do aborto no Brasil. Repetem dia e noite:
"Defendemos a vida. Fora assassinos".


Ora, uma coisa é um país com 200
milhões de habitantes ter registrado 100 abortos clandestinos no período de um
ano. Outra, bem diferente, é saber que este mesmo país percebeu, num período de
dois anos, mais de 2 milhões de abortos, efetivados por leigos em medicina, em
situações precárias e de forma extremamente artesanal. Aborto virou mesmo um
caso de saúde pública, concorde-se com a sua prática ou não.

Os números
são alarmantes. Para cada três bebês nascidos vivos no Brasil, ocorre um aborto
induzido. Cerca de 220 mil mulheres realizam anualmente, pelo SUS, curetagens em
decorrência de abortos mal feitos. Considerando que o aborto é crime,
diariamente, 800 mulheres teriam que ser condenadas, sem contar seus "médicos"
e, eventualmente, seus parceiros.

A igreja católica já marcou posição. O
Papa Bento XVI, na sua primeira visita ao Brasil, foi enfático: nada de
legalizar o aborto. A sociedade que o pratica, de acordo com o principal
representante do Vaticano, é uma sociedade fadada ao fracasso, maldita, sem a
benção divina.

Ser favorável à legalização do aborto é bem diferente de
defender o aborto. Apostar na sua descriminalização é, verdadeiramente, defender
a vida. Milhares delas, dada a legalização, seriam poupadas, ano após ano. O
aborto induzido existe, vaga pelas ruas, passa pelas casas, invade famílias.
Normatizar tal prática, que sobreviverá independentemente da vontade da
população, representa avanço. Entre apostar no aborto artesanal, criminalizado,
e ficar com a interrupção gestacional higienizada, assistida e legal, ,
escolha-se a segunda opção. Ela é capaz de garantir – pelo menos – a vida das
mães que, em outras condições, fariam o aborto de qualquer modo.

Legalizar o aborto, criticar a sua banalização e prevenir a gravidez
indesejada. Aí está o caminho mais viável para a juventude brasileira,
praticante assídua das curetagens de beco, consumidora de primeira hora dos
"chás-de-desce-tudo" e adepta ao uso indiscriminado do proibido Cytotec, sumido
das farmácias, mas presente, tanto na vida dos que buscam desesperadamente
interromper uma gestação não programada, quanto entre os que – aproveitando a
maré crescente – geram dezenas de "anjinhos" todos os dias.


Jorge Caboge é  professor e estudioso do sexo
entre o evangélicos.

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