Lições das Eleições. Por Zeca Peixoto
As cidades onde, de fato, foram construídas frentes amplas: São Paulo, Belém e Porto Alegre.
Boulos e Manu perderam, mas o país ganhou com a oxigenação de uma nova narrativa possível à esquerda. Boulos e Manu são âncoras futuras da esquerda. E que âncoras!
– Belém demonstrou que uma frente efetivamente de esquerda e com comunicação digital azeitada se derrota o fascismo. Mas não apenas.
– As pautas identitárias são importantes, mas não determinantes (podem me apedrejar). O que determina é a luta de classes (mesmo com outro tipo de chão da fábrica), sobretudo num país famélico. Cada vez mais crível, para mim, que sapos que dão carona a escorpiões morrem antes da travessia.
– Não se deixar levar por entusiasmos de bolhas digitais é fundamental. Vi candidatos aqui na Bahia, neste segundo turno, abusar de lives e postagens. Cansa. Cards e vídeos tornam-se redundantes quando dizem o mais do mesmo. Sobretudo em redes que são configuradas como espaços de fanfics.
– As campanhas da esquerda têm que se profissionalizar (aceito mais pedradas, por favor). Estudar tendências e construir mapas mentais de comportamentos é impreterível. Se fiar apenas em trakings; ou crer em pesquisas, por mais seguras que sejam suas metodologias, não é o bastante. Os subterrâneos de opinião são muito mais caudalosos do que se possa imaginar. A esfera pública interconectada altera cursores de opiniões do dia para noite.
– As fake news venceram mais uma vez. Falta de aviso não foi. É ingênuo esperar que essas práticas criminosas sejam combatidas e resolvidas pelas autoridades eleitorais. Eles estão cagando e andando (desculpem o termo). Fake news só se combate com educação política! E educação política deve ser prática perene. Por que os movimentos indígenas na Bolívia derrotaram um golpe em menos de um ano perpetrado por uma enxurrada de fake news? Fica a pergunta.
– O cachorro é a luta política; o marketing é o rabo. Não o contrário. Esse ano, um “iluminado” do marketing político de Brasília, no decorrer de uma live, disse que em 2018 o Nordeste vivenciou o “efeito Bacurau” por conta da vitória de Haddad na região. Jogou para plateia, apenas. Bobinho. Com exceção de Salvador, Bolsonaro havia ganho em TODAS as capitais do NE. O que ocorreu aqui foi redução de danos pela forte memória afetiva dos anos Lula nos rincões.
– Reitero, o centrão, à semelhança do primeiro turno, foi hegemônico. E a agenda desse grupo é anti-povo. Totalmente. A melhor aliança que se pode fazer é com as lutas populares. O que vier a reboque, que venha. Mas a hegemonia da disputa é à esquerda. De nada adiantará vitórias de Pirro à frente. O que está em jogo são os direitos sociais ante uma (necro)política genocida, ecocida e etnocida e que está atacando o/as trabalhadores/doras.