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Lula devia romper seu silêncio sobre o mensalão por Paulo Nogueira

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Ou a mídia está maluca, o que é sempre uma possibilidade, ou Lula está realmente indeciso. Na quarta, a Folha deu que ele disse a uma plateia petista que falaria sobre o Mensalão, “mas na hora certa”, terminado o julgamento.

Um dia depois, na homenagem a Jango em Brasília, Lula disse a repórteres que queriam ouvi-lo sobre o Mensalão que quem tem que achar alguma coisa “são os advogados”.

Na primeira hipótese, a de se pronunciar num futuro abstrato e remoto, existe bravata. Na segunda, cautela. A soma de ambas as coisas – bravata num dia, cautela no outro — é francamente decepcionante quando você considera a crucificação de que foram vítimas lideranças petistas como Dirceu e Genoíno.

Que Dilma, no exercício da presidência e com um pé na campanha da reeleição, se cale é compreensível. Mas Lula, na semiaposentadoria em que está, deveria se sentir à vontade para dizer o que acha.

A sociedade merecia ouvir sua opinião a respeito de um tema em que foi submetida a um bombardeio feroz, constante e cruel por uma mídia empenhada em repetir o que fez em 1954 com Getúlio e em 1964 com Jango.

Repito: Lula devia à sociedade a sua voz, o seu eventual contraponto a um conjunto de material produzido pela mídia em que se misturou má fé, cinismo e desapego completo aos fatos como eles são.

A opinião de Lula ajudaria os brasileiros a formar sua opinião sobre o Mensalão. Isso se chama democracia. É uma pena, para a sociedade, que ele tenha se recolhido a um mutismo inexpugnável.Mas não é surpreendente.

As virtudes de Lula são conhecidas, e é inegável que o Brasil deve em grande parte a ele o fato de a desigualdade social ter sido alçada ao topo do debate político nacional. Não fosse por outras coisas, apenas isto já lhe daria um lugar de gala na história.

Cautela demais pode ser defeito

Mas falta a Lula uma característica vital nos líderes verdadeiramente transformadores: audácia.

Algumas pessoas atribuem essa carência à alma conciliadora que é marca dos sindicalistas. Eles se dedicam à arte de acomodar os interesses de seus comandados com os das empresas. Eles essencialmente negociam, e não rompem.

O homem conciliador – conservador, sob certos aspectos — se revelou logo na Carta aos Brasileiros, na qual basicamente se comprometia a não ir muito longe na luta contra velhos privilégios.

Da Carta aos Brasileiros ao elogio fúnebre de Roberto Marinho e às sucessivas alianças com o que há de mais atrasado em nome da governabilidade, incluído Maluf, o caminho de Lula foi, a rigor, previsível.

O extraordinário é que a plutocracia, em vez de agradecer a Deus por Chávez ter nascido na Venezuela, tenha tratado Lula como tratou Getúlio, primeiro, e Jango depois: a pauladas.

Em nenhum momento a disparidade de tratamento – um lado delicado, lhano, e o outro brutal, destrutivo – foi tão clara como no caso do Mensalão.

Durante muito tempo ecoarão nos ouvidos nacionais os berros proferidos por homens como Joaquim Barbosa e Gilmar Mendes – para não falar no exército de comentaristas e colunistas como Jabor, Merval, Reinaldo Azevedo et caterva.

A internet, ainda incipente, ofereceu o contraponto possível aos neolacerdistas nos debates sobre o Mensalão.

Mas ficou faltando uma voz que os brasileiros são loucos por ouvir: a de Lula.

Artigo publicado em http://www.diariodocentrodomundo.com.br/lula-devia-romper-seu-silencio-sobre-o-mensalao/

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