Aldeia Nagô
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Lula e a transição democratica por Luis Nassif

3 - 4 minutos de leituraModo Leitura

A democracia ocidental foi de formando através da incorporação
gradativa – e com muita luta – dos vários segmentos sociais. Desde a
Revolução Industrial, houve a luta dos sindicatos, a campanhas contra a
exploração de crianças, das mulheres pelo direito ao voto, dos negros,
a partir de um certo nível social e de organização política.


Um dos fenômenos mais ricos do atual momento é a incorporação ao jogo político das grandes massas desorganizadas, especialmente dos pobres e miseráveis dos países emergentes ou francamente atrasados.
É o caso dos movimentos sociais no Brasil, que passaram a crescer nos anos 90 até adquirir expressão política. É também o caso dos governos de esquerda do continenteMesmo com suas cabeçadas (que são muitas) comprovam a incapacidade da política tradicional do continente de resolver os problemas da população.
Há uma grande oportunidade e um grande risco nesse movimento.

A oportunidade é o fato de ser a última e decisiva rodada de uma inclusão social e política civilizatória. É a rodada final de uma luta de século pelos direitos sociais, permitindo à economia mundial o grande salto, com a incorporação de bilhões de pessoas ao mercado de consumo e de trabalho.

O risco é a transição, a fase inevitável de conflitos em que os de cima impõem resistências, para não abrir mão de fatias de poder; e os de baixo saem abrindo caminho a tapa.

É aí que entra o Estadista, o governante com visão e habilidade para entender as pressões e incorporar esse movimento ao jogo democrático, impedindo a desagregação do país.

A grande frente contra a ditadura ocultou a enorme dose de preconceito e de miopia existente em parte influente dessa elite – a que tem na grande mídia seu porta-voz por excelência.

As invectivas contra a Bolsa Família, contra os gastos sociais, a tentativa permanente de criminalização de todo movimento social, o preconceito contra toda forma de conhecimento não formal, a ascensão dessa direita inculta, truculenta e preconceituosa – reforçando os preconceitos da parte inculta e truculenta da esquerda – torna esse caminho difícil.

Lula tem desempenhado papel relevante, de ser o guardião da normalidade política do continente em uma transição especialmente delicada – tanto nos movimentos sociais brasileiros, como para tourear e ensinar os vizinhos aguerridos. Esse trabalho foi reconhecido, recentemente, pelo presidente francês Nicola Sarkozis. E tem tido reconhecimento internacional.

Dia desses, a colunista Eliana Cantanhede escreveu que, numa roda, jornalistas brasileiros falavam mal e estrangeiros se maravilhavam com Lula. Concluía que era a prova de que, apesar dos analistas brasileiros na mídia criticarem Lula, o noticiário era isento e permitia aos estrangeiros ter outra idéia.

Até parece. O que explica melhor as diferenças talvez seja a maior cultura política dos jornalistas estrangeiros, sua não contaminação ideológica e seu discernimento para separar o irrelevante do essencial.
A questão básica é entender o que será Brasil e América Latina no pós-Lula.

Artigo publicado originalmente no site www.luisnassif.com.br

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