Aldeia Nagô
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Lula inaugura a diplomacia da nova era por Leonardo Boff

4 - 5 minutos de leituraModo Leitura

O acordo alcançado por Lula e pelo primeiro ministro turco com o Irã a respeito da produção de urânio enriquecido para fins pacíficos possui uma singularidade que convem enfatizar. Foi alcançado mediante o diálogo, a mútua confiança que nasce do olho no olho e a negociação na lógica do ganha-ganha. Nada de intimidações, de imposições, de ameaças, de pressões de toda ordem e de satanização do outro.


Essa era e continua a sendo a estratégia
das potências
militaristas e imperiais que não se dão conta de que o mundo mudou. Elas
estão
encalacrados no velho paradigma do big stick, da negociação com o
porrete
na mão ou  da pura e simples intervenção para a qual tudo vale, a
mentira
deslavada como no caso da guerra injusta contra o Iraque, a violência
militar
mais sofisticada contra um dos países mais pobres do mundo como o
Afeganistão ou
os conhecidos golpes armados pela CIA em vários paises, nomeadamente na
América
Latina.

Curiosamente, esta
estratégia nunca deu fruto  nenhum  em nenhum lugar. Os USA estão
perdendo todas
as guerras,  porque ninguém vence um povo disposto a dar a sua vida e
até
suscitar "homens-bomba" para enfrentar um inimigo armando até os dentes
mas
cheio de medo e exposto à vergonha e à irrisão mundial. O que
conseguiram foi
alimentar raiva, rancor e espírito de vingança, fermento de todo o
terrorismo.

A maior ameaça para
 estabilidade
mundial hoje são os EUA pois a ilusão de serem "o novo povo eleito" –
pois assim
reza o "destino manifesto" que os neocons, muito fortes, como Bush,
acreditam
piamente – faz com que se sintam no direito de intervir em todo o mundo.
Pretendem levar os direitos humanos quando os violam vergonhosamente,
querem
impôr a democracia quando, na verdade, criam uma farsa, visam abrir o
livre
mercado para suas multinacionais para que livremente possam explorar a
riqueza
do pais, seu petróleo e seu gás.

A
diplomacia de Lula se contrapõe diretamente àquela do Conselho de
Segurança e a
de Barack Obama. A de Lula olha para frente e se adequa ao novo. A de
Barack
Obama olha para traz e quer reproduzir o velho.
 
O paradigma
velho supõe
que haja uma nação hegemônica e imperial, no caso o USA. Esta se rege
pelo
paradigma do inimigo, bem na linha do teórico da filosofia política que
fundamentou os regimes de força como fez com o nazismo, Carl
Schmitt(+1985). Em
seu livro O Conceito do Politico claramente diz:"a existência
política de
um povo depende de sua capacidadede definir quem é amigo e quem é
inimigo..o
inimigo deve ser combatido e psicologicamente deve ser desqualificado
como mau e
feio". Não fez exatamente isso Bush chamando os paises donde vinham os
terroristas de "paises canalhas" contra quem se deve fazer uma "guerra
infinita"? Éssa argumentação é sistêmica e funciona ainda hoje na cabeça
dos
dirigentes norteamericanos. Políticas inspiradas nesse paradigma
ultrapassado
podem levar a cenários dramáticos com o sério risco de destruir o
projeto
planetário humano. Esse paradigma é belicista, reducionista e míope pois
não
percebe as mudanças históricas que estão ocorrendo na linha da fase
planetária
da história que exige estratégias de cooperação visando proteger a Terra
e
cuidar da vida.
 
O paradigma novo, representado por Lula, assume a
singularidade do atual momento histórico. Mudou nossa percepção de
fundo: somos
todos interdependentes, habitando juntos na mesma Casa Comum, a Terra.
Ninguém
tem um futuro particular e próprio. Surge um destino comum globalizado:
ou
cuidamos da humanidade para que não se bifurque entre os que comem e os
que não
comem e protegemos o planeta Terra para que não seja dizimado pelo
aquecimento
global ou então não teremos futuro algum. Estamos vinculados
definitavamente uns
aos outros.

Lula em sua
fina
percepção pelo novo, agiu coerentemente: não se pode isolar e castigar o
Irã.
Importa traze-lo à mesa de negociação, com confiança e sem preconceitos.
Essa
atitude de respeito trará bons frutos. E é a única sensata nesta nova
fase da
história humana. Lula aponta e inaugura o futuro da nova diplomacia, a
única que
nos garantirá a paz.

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