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Lula, Obama e a mídia golpista por Altamiro Borges

4 - 6 minutos de leituraModo Leitura

Em recente entrevista ao diário O Globo, Maria Judith Brito,
presidente da Associação Nacional dos Jornais (ANJ) e executiva do Grupo
Folha,
escancarou o jogo: "Obviamente, esses meios de comunicação estão fazendo
de fato
a posição oposicionista deste país, já que a oposição está profundamente
fragilizada". A confissão descarada só confirma o que muitos já sabiam. A
mídia
hegemônica é hoje a principal força da oposição de direita, neoliberal e
conservadora, do Brasil.


 Como alertou o intelectual italiano Antonio Gramsci, ainda na década de 20
no seu "Cadernos do cárcere", quando as instituições das elites dominantes estão
em crise, a imprensa burguesa ocupa o papel de "partido do capital". Conforme
ensinou, "enquanto aparelhos político-ideológicos que elaboram, divulgam e
unificam as concepções de mundo, jornais e revistas cumprem a função de
organizar e difundir determinados tipos de cultura". Só os ingênuos ainda
acreditavam na fictícia neutralidade da mídia, o que a presidente da ANJ agora
confessa que nunca existiu nem existirá.

 A falsa "liberdade de imprensa"

Diante desta confissão do crime, qual reação esperar do presidente Lula, cujo
ouvido vai virar penico neste ano de cruel guerra sucessória? Até hoje o
principal mandatário do país, eleito por milhões de brasileiros e gozando de
popularidade recorde, sempre agiu com tolerância diante das "posições
oposicionistas" da mídia. Apesar das bravatas de Maria Judith Brito – "a
liberdade de imprensa é um bem maior que não deve ser limitado" – nunca houve
censura ou perseguição aos veículos "privados" de comunicação. Não há qualquer
risco à liberdade de expressão no Brasil.

Num editorial recente, intitulado "devaneio autocrático", o jornal Folha
de S.Paulo
– o mesmo da "ditabranda", da fraudulenta ficha policial de
Dilma Rousseff e dos ataques rancorosos à moral do presidente – rotulou o
governo Lula de autoritário. Sugeriu que a luta contra a censura fosse uma das
principais bandeiras da oposição de direita. Uma lista com sete conflitos com a
mídia – em longos seis anos de mandato – foi apresentada como prova do
autoritarismo. Pura choradeira de quem promove milhares de crimes editoriais sem
ser processado ou molestado.

A reação do conciliador Lula

Apesar deste jogo sujo, o presidente Lula mantém a calma. Nem mesmo as
emissoras da rádio e televisão – que são concessionárias públicas e deviam
respeitar a Constituição e as leis – são alvo de represália. Elas ainda são
palanques eletrônicos para âncoras e comentaristas desclassificados, como Boris
Casoy, Arnaldo Jabor, Miriam Leitão e outros direitistas convictos. Ainda
recebem milhões em anúncios publicitários do governo. No caso dos jornais e
revistas, que não são concessões públicas, o presidente ainda tem a paciência de
dar entrevistas que parecem pugilato.

No máximo, o conciliador Lula apenas lástima "as posições oposicionistas" da
mídia. Há poucos dias, ele rotulou os jornais de "tablóides" que não enxergam a
realidade. No ato político de apoio do PCdoB à pré-candidata Dilma Rousseff, na
semana passada, ironizou os "editores de política" que não entendem porque a
população apóia o governo. Estas suaves alfinetas irritam os barões da mídia,
que demonizam seus adversários, destroem suas reputações, mas não aceitam
críticas.

Freio de arrumação na mídia golpista

Não dá para esperar uma mudança de atitude do presidente diante das "posições
oposicionistas" da mídia. Uma das marcas mais fortes do governo Lula é a da
conciliação. Sob o pretexto da governabilidade, ele firmou pactos – explícitos
ou não – com a ditadura financeira, os barões do agronegócio e os donos da
mídia. Seu governo não adotará a mesma postura de Hugo Chávez, Evo Morales ou
Rafael Correa, que denunciam explicitamente o terrorismo midiático e investem em
meios alternativos de comunicação. A convocação da 1ª Confecom foi até
surpreendente.

No mínimo, porém, o presidente Lula poderia se precaver diante das baixarias
da imprensa neste ano de batalha sucessória. Poderia por um freio de arrumação,
evitando o pior nas eleições. Uma atitude um pouco mais ousada limitaria as
"posições oposicionistas" – na verdade, golpistas – da mídia. Já que não adotará
o caminho "radical" de Chávez, Morales ou Correa, ele poderia seguir o exemplo
do seu amigo, Barack Obama. No final do ano passado, o presidente dos EUA
simplesmente se recusou a dar entrevistas à poderosa Fox News, do magnata Rupert
Murdoch.

Annita Dunn, diretora de comunicação da Casa Branca, explicitou o motivo: "A
rede Fox News opera, praticamente, como o setor de pesquisas ou de comunicações
do Partido Republicano… A rede Fox está em guerra contra Barack Obama e a Casa
Branca, e não precisamos fingir que o modo como ela trabalha seria o modo que dá
legitimidade ao trabalho jornalístico. Quando o presidente fala a Fox, já sabe
que não falará à imprensa, propriamente dita. O presidente já sabe que estará
num debate com o partido de oposição".

Artigo publicado originalmente em
http://www.vermelho.org.br/blogs/altamiroborges/

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