Aldeia Nagô
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Lula, Tânia e o Nordeste por Armando Avena

4 - 6 minutos de leituraModo Leitura

Quando se trata de Nordeste, minha amiga Tânia
Bacelar é a maior especialista do País. Professora da Universidade Federal de Pernambuco, Tânia foi secretária do
Planejamentoe da Fazenda no governo de Miguel Arraes, assessora de Ciro Gomes
no Ministério da Integração e trabalhou durante 30 anos na Sudene.





Ao longo de 20 anos, em nossas discussões sobre o Nordeste, um ponto foi sempre
consensual: não adianta ter uma política regional específica, o Nordeste só vai
superar seu subdesenvolvimento quando chegar o tempo em que se tornar
prioritário nas políticas nacionais.

Esta semana, numa entrevista imperdível para o site Bahia Econômica, Tânia me
disse: "Avena essetempochegou.

A opção estratégica do governo Lula pelo mercado interno, aliada à política de
transferência de renda e de aumento do salário mínimo beneficiou sobremaneira o
Nordeste".

Tânia argumenta que, diferentedoSul eSudeste,noNordeste mais de 50% de sua
população ocupada ganha saládo rio mínimo, por isso o impacto do aumento
salarial foi maior na região. O mesmo aconteceu com a transferência de renda. O
Nordeste tem metade dos pobresdo País, assim dos R$ 12 bilhões distribuídos
pelo Bolsa Família, mais da metade vem para o Nordeste ampliando o consumo e
consequentementeo investimento.

Nos doiscasos,"o que era desvantagem virou vantagem".

Tânia afirma ainda que o aumento nos salários e a massa adicional de renda,
aliadas à expansão do crédito, ampliou o consumo regional, que se expandiu mais
do que no restante do País, pois, segundo o IBGE, entre 2003 e 2008, o
maiorcrescimento do varejo no País, seu deu no Nordeste.

A ampliação do mercado interno, baseado no consumo insatisfeito da população
pobre, dinamizou a economia nordestina. E, naturalmente, quanto maior o
consumo, maior o investimento.

Além disso, Tânia ressalta que os investimentos públicos também estão ampliando
as potencialidades da região.

Essa é, segundo Tânia Bacelar, a explicação para o desenvolvimento recente do
Nordeste e para a vinda de redes de supermercados, lojas de departamentos e
investimento de toda ordem para a região. Para ela, o governo Lula e as políticas
de transferências de renda colocaram milhares de nordestinos no mercado de
consumo e isso está transformanentre saládo a região.

A ascensão de Pernambuco Pernambuco é a bola da vez desse novo ciclo de
desenvolvimento do Nordeste e Tânia Bacelar explica por que. Segundo ela,
Pernambuco passou 30 anos criando infraestrutura, implantou um porto
competitivo e um complexo industrial. Ou seja, tinha um ambiente bom para
atrair investimentos.

Esse potencial não era aproveitado e o Estado estava se desindustrializando,
mas, no governo Lula, foi alavancado fortemente pela Petrobras epor outros
investimentos públicos.

Segundo ela, a Petrobras, cujo presidente é o baiano José Sérgio Gabrielli,
voltou a investir em novas refinarias, está implantando uma de grande porte em
Pernambuco, (além de duas outras no Ceará e Rio Grande do Norte) e investiu no
complexo petroquímico de Suape. Além disso, a estatal passou a comprar navios
fabricados no País e Pernambuco se beneficiou, pois montou um grande estaleiro
e deverá implantar mais três.

Tânia ressalta também os investimentos públicos, especialmente a
Transnordestina, que vai beneficiar Pernambuco, mas também lembra a Ferrovia
Oeste-Leste, na Bahia,que,junto comaTransnordestina, pode integrar os três
grandes portos no Nordeste: Suape, em Pernambuco, Pecém, no Ceará, e o novo
Porto de Ilhéus, como muitas vezes propusemos juntos nas reuniões do Ministério
da Integração.

Por fim a economista dá um crédito especial ao governador Eduardo Campos, o
segundo mais bem avaliado do País, que, segundo ela, estabeleceu um ambiente
favorável à atração de investimentos.

A Vale na Bahia A Vale, maior empresa privada do País, controla o parque
ferroviário baiano. Em1996, a empresa assumiu a concessão da Ferrovia
Centro-Atlântica prometendo investir na modernização do sistema ferroviário
estadual. Passados 13 anos, os investimentos da empresa na Bahia foram
insignificantes.

O resultado é que o ramal ligando Salvador a Juazeiro, com cerca de 500
quilômetros, está praticamente desativado, o transporte de cargas ferroviárias
entre Salvador e Recife, não existe mais,tampouco oacesso ferroviário ao Porto
de Salvador.

A desativação do ramal transformanentre as localidades de Mapele (Simões Filho)
e Paripe (Salvador), além de impedir o acesso das cargas ferroviárias ao Porto
de Salvador, prejudicou a expansão do transporte ferroviário de passageiros na
RMS. A Vale desbaratou o sistema ferroviário da Bahia, restando apenas, em
funcionamento razoável, a ferrovia que liga o Porto de Aratu a São Paulo.

Semana passada, a empresa anunciou os investimentos de R$ 24,5 bilhões para
2010 e reservou, 0,27% para a Bahia, para manter as estruturas existentes.
Maranhão, Pernambuco e até Sergipe receberão muito mais. A Vale não temum
planoferroviário para o Estado, não pensa em articular-se com a Ferrovia
Leste-Oeste e mantém a sede da Ferrovia Centro Atlântica em Belo Horizonte. O
governo do Estado precisa exigir da empresa mais investimentos no ramal
ferroviário ou então retomar a concessão. Sem isso, continuaremos perdendo
competitividade em relação a outros estados do Nordeste.

Artigo publicado originalmente no Jornal A Trade, 31/10/2009

Armando
Avena Escritor, economista e membro da Academia de Letras da Bahia
armandoavena@uol.com.br

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