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Mãe Stella de Oxossi eleita para a Academia de Letras da Bahia por Paulo Costa Lima

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Hoje, 25 de abril, a Academia de Letras da Bahia jogou os búzios e o nome que apareceu foi o de Mãe Stella de Oxossi, para ocupar a cadeira cujo patrono é Castro Alves, sendo o grande historiador baiano Ubiratan Castro o último ocupante.

A escolhida se fez presente logo após a votação para o abraço e a manifestação do compromisso. Foi uma bela cena, e muito rara. Um encontro de erudições da África e da Europa.
Na verdade, um gesto inovador que não pode deixar de ser levado em conta como paradigma de abertura de horizontes e de convivência das diferenças, nesse momento em que o País se manifesta contra a estreiteza e o fundamentalismo.
A Academia de Letras da Bahia foi fundada em 1917 e reúne em seu panteão (do passado e do presente) nomes como Castro Alves, Cipriano Barata, Ruy Barbosa, Jorge Amado, Zelia Gattai, Thales de Azevedo, Afranio Coutinho, Roberto Santos e João Ubaldo Ribeiro. É muita letra.
O Ilê Opô Afonjá foi fundado em 1910 por Eugênia Anna dos Santos (Mãe Aninha) e tombado no ano de 2000 pelo IPHAN, em reconhecimento ao seu inestimável valor cultural. Também saíram dessa casa a Iyalorixá Mãe Senhora e o seu filho, Deoscóredes Maximiliano dos Santos, o grande ‘Mestre Didi’ (escritor, artista plástico e sacerdote). Salta aos olhos a importância desse centro de cultura na luta de afirmação da tradição afro-brasileira e, portanto, pelo respeito aos direitos à alteridade e identidade própria.
“Escolhida para o governo de sua comunidade em 1976, Mãe Stella consolidou e expandiu a sua casa, hoje respeitada e admirada em todo o mundo”, é o que nos disse sobre a recém-eleita Ubiratan Castro de Araujo. A filosofia do terreiro tem sido a de preservar as tradições sem esquecer a responsabilidade de acompanhar os tempos.
Maria Stella de Azevedo Santos é autora de vários livros que tratam da herança cultural africana e de como interpretá-las. Ganhou o prêmio jornalístico Estadão em 2001 e recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade do Estado da Bahia – UNEB em 2009 e da Universidade Federal da Bahia em 2005. É detentora da comenda Maria Quitéria (Prefeitura do Salvador), Ordem do Cavaleiro (Governo da Bahia) e Ordem do Mérito Cultural do Ministério da Cultura.
O que significa a eleição de uma Iyalorixá como Mãe Stella para uma Academia de Letras, e, no caso, a da Bahia? Muitas respostas distintas vão surgir para essa pergunta, e talvez este seja um traço característico desta inovação: proporcionar novos diálogos, explorar novos caminhos.
Diante da contribuição civilizatória que a África trouxe ao Brasil, alguns preferem calar, outros reconhecem mas acentuam a natureza oral dos conhecimentos e saberes.
Mãe Stella rompeu essas barreiras (entre tantas), e passou a defender uma representação mais sintonizada com os novos tempos, conectando oralidade e manifestações letradas, pontuada pela presença em palestras e seminários e a publicação de livros, para que um maior número de pessoas possa entender a riqueza da própria herança cultural, e para que ao fim e ao cabo, os principais atores desse universo “não venham a dizer sim à própria sentença”, como bem pontua a imortal. Ou seja: a palavra é resistência.
A posse será uma solenidade das mais disputadas na Bahia. A poeta Myriam Fraga fará o discurso de recepção, compondo com a homenageada um dueto feminino muito representativo da alma de luta e de cultura do povo da Bahia.
Livros publicados:
E Dai Aconteceu o Encanto. (em parceria com Cléo Martins) Salvador, 1988.
Meu Tempo é Agora. São Paulo: Editora Oduduwa, 1993.
Òsósi – O Caçador de Alegrias. Salvador, Secretaria Cultura e Turismo, 2006
Owé – Provérbios – Salvador, 2007.
Epé Laiyé- terra viva. Salvador, 2009.
Opinião – artigos publicados em A Tarde. Salvador, A Tarde, 2013.
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