Martin Luther King, Presente! Por Marcos Rezende*
Hoje dia 15 de janeiro é o aniversário de 89 anos de Martin Luther King e agora a noite, depois de um dia de reuniões organizativas sobre o Fórum Social Mundial me pus a refletir sobre o que esse homem, esse farol estaria a iluminar se ainda estivesse fisicamente presente em nosso meio.
King era um negro evangélico e como seria legal se nessa quadra histórica tivéssemos mais evangélicos como ele, aliás, se tivéssemos mais pessoas como ele. Homens e mulheres negras que ousassem avançar ainda mais e dar as respostas necessárias e corajosas a essa sociedade forjada em moldes eurocêntricos e estruturada sob a égide do racismo que nos destrata e desumaniza assim como a dentista racista de forma contumaz fazia com os funcionários negros da delicatessen em bairro nobre de Salvador. Cidade que chamamos de Roma Negra.
O que fizemos? Qual a resposta que demos a ela e a juíza que garantiu com que a racista pudesse ficar em liberdade menos de 24 horas depois de cometer crime inafiançável? Nenhuma.
Enquanto isso, nessa mesma semana em que tanto a mídia racista baiana e também nacional silenciaram e esconderam desde o rosto até o nome da criminosa só os apresentando horas depois devido a protesto de ativistas, circulou nas redes sociais vídeo de negras e negros sul-africanos destruindo algumas lojas de departamento da H & M, uma famosa rede internacional de roupas de origem sueca, logo após a mesma veicular propaganda racista onde uma criança utilizava camisa com os dizeres “o macaco mais legal da selva”.
Aqui quase no final do dia, depois de ser absorvido por muito trabalho lembrei da data. Também sei que inúmeros irmãos e irmãs negras de todo o mundo que são explorados pelo sistema capitalista só a rememoraram no final do dia e talvez não tenham tido a disciplina ou a força necessária para escrever texto longo mas necessário como esse. Digo necessário porque depois de conseguir se livrar de dois atentados, o jovem Martin Luther King, de apenas 39 anos, foi assassinado em Memphis após apoiar os lixeiros locais que faziam greve por melhores salários e condições de trabalho e o seu último discurso dizia “Nós precisamos nos entregar a essa luta até o fim. Nada seria mais trágico do que parar neste momento em Memphis. Quando fizermos nossa marcha, vocês precisam estar nela. Se isso significa deixar o trabalho, se isso significa deixar a escola: estejam lá. Cuide de seu irmão. Você talvez não esteja em greve. Mas, ou ascendemos juntos ou caímos juntos”.
Nesse ano de 2018 completa meio século do assassinato desse apóstolo da não violência que pregava reformas radicais no sistema econômico e uma renda mínima anual para todos (uma espécie de salário mínimo e/ou bolsa família para todos).
É verdade que de lá para cá muitas coisas mudaram mas qualitativamente muito pouco e não podemos nunca esquecer de diversos dos ensinamentos de King e um deles que faço questão de guardar comigo e compartilhar sempre que possível é:
Temos o dever moral de desobedecer a leis injustas.
Quando vejo milhares de jovens negros serem presos, sequelados ou assassinados pelo Estado e milhões de outras negras e negros sendo privados de dignidade e sem acesso a direitos enquanto brancos ricos dançam sobre os nossos corpos mortificados certifico-me de que não somos uma nação e que haverá o tempo da colheita. A cada dia ele está mais próximo e nos banharemos com o sangue dos ímpios a fim de lavar a nossa alma.
E nós negros e negras brasileiros estamos esperando o quê? Não existe justiça nesse país e leis injustas existem para serem desobedecidas. 2018 tem que ser um ano de lutas.
Ousemos.
* Coordenador Geral do Coletivo de Entidades Negras/CEN