Aldeia Nagô
Facebook Facebook Instagram WhatsApp

Massacre na Síria. Por Luiz Carlos Bresser-Pereira

3 - 4 minutos de leituraModo Leitura
Luiz-Carlos-Bresser-Pereira

O mundo é injusto em toda parte. As mulheres e os homens são vítimas de todas as violências: desde o abuso que Lula está sofrendo devido a uma associação perversa das elites neoliberais que temem eleições livres e dos interesses

estrangeiros com um grupo de tecnoburocratas do Poder Judiciário decidido a impor a moralidade pública às custas dos direitos básicos de cidadania, até a violência inaudita de que é vítima o povo sírio devido à intervenção dos Estados Unidos, do Reino Unido e da França – os líderes do Ocidente Imperial.

O ataque a instalações do Estado sírio por esses três países é apenas um capítulo menor do massacre a que está sujeito o povo sírio, e que já dura seis anos. Clóvis Rossi, na Folha, oferece os números: “320 mil pessoas mortas segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos, ou 470 mil pelas contas do Banco Mundial (a Síria 23 milhões de habitantes ao começar o conflito em 2011); metade da população original fugiu; o custo de seis anos de guerra é avaliado pelo Banco Mundial em €200 bilhões; estão totalmente destruídas 27% das residências urbanas, 50% dos centros médicos, e 43% das escolas”.

Mas por que responsabilizar apenas os três poderes imperiais clássicos? Por que seriam esses três países o eixo do mal em relação ao Oriente Médio? A Rússia não está também na Síria? Sim, mas bem depois que os três países mais a Arábia Saudita decidissem, em 2011, dar apoio a uma rebelião que, não fosse esse apoio, teria sido rapidamente debelada pelo governo, e todo esse massacre teria sido evitado. Mas Bashar Al Assad não é um ditador? Sim, mas não há alternativa em um país pobre e dividido como é a Síria. E, apesar das violências que tem cometido durante a guerra, é certamente menos violento que o ditador da Arábia Saudita, que construiu um apartheid no seu território, faz uma guerra contra o povo do Iêmen, mas a imprensa ocidental chama de “monarca” ao invés de ditador. Na Síria todas as minorias religiosas foram e continuam a ser respeitadas, inclusive a cristã.

A Rússia só entrou na guerra em apoio à Síria depois que os Estados Unidos passoaram a bombardear o país para enfrentar o Estado Islâmico, cujo surgimento foi propiciado pela Guerra do Iraque. A Rússia fez mesmo, mas incluiu os “rebeldes” associados Ocidente. Em seus bombardeios. Fez isso porque a Síria foi sua aliada no Oriente Médio no tempo da Guerra Fria. Ora, para o Ocidente Imperial, este é o verdadeiro “pecado” da Síria. Esse Ocidente, que se tornara hegemônico com o colapso da União Soviética, viu nos últimos 30 anos, a Rússia se recuperar economicamente e a China se tornar seu concorrente tecnológico e ideológico direto. E inventou uma nova Guerra Fria, que, entre outras consequências, massacra os povos da Síria, da Líbia, do Iraque e da Somália. E todos os demais que ousarem ser países autônomos.

Luiz Carlos Bresser-Pereira

Professor emérito da FGV onde ensina economia, teoria política e teoria social. Foi Ministro da Fazenda, da Administração Federal e Reforma do Estado.

Biografia

Luiz Carlos Bresser-Pereira é professor emérito da Fundação Getúlio Vargas onde pesquisa e ensina teoria econômica e teoria política desde 1959. Ele foi Ministro da Fazenda (1987) e Ministro da Administração Federal e Reforma do Estado (1995-98). É doutor honoris causae pela Universidade de Buenos Aires. É autor, entre outros livros, de Construindo o Estado Republicano (FGV, 2004), Macroeconomia da Estagnação (Editora 34, 2007), Globalização e Competição (Campus, 2009), Developmental Macroeconomics (Routledge, 2014) e A Construção Política do Brasil (Editora 34, 2015). Suas pesquisas atualmente concentram-se sobre o novo desenvolvimentismo, o Estado e a macroeconomia desenvolvimentista.
Prêmios
Professor Emérito da FGV (2005).
Doutor Honoris Causae pela Universidade de Buenos Aires (2010).
Prêmio James Street Scholar da Association for Evolutionary Economics (2012).
Intelectual do Ano – Troféu Juca Pato (2015)
Compartilhar:

Mais lidas