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Meca da boemia do Centro de Salvador, Bar Espanha reabre administrado por antigos clientes reabre hoje, 26. Por André Uzêda

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Aquela velha piada de um grupo de farristas e boêmios que assume a direção de um bar. Na anedota, óbvio supor, a tentativa não resiste ao fôlego insaciável da stafe. Na vida real, ainda é um desafio. Amigos desde os tempos de Antônio Vieira, Arthur Daltro e Uiara Araújo, ambos de 31, foram frequentadores assíduos do Bar Espanha, nos Barris, até o primeiro fechamento do espaço, em 2012.

 

Fundado em 1920 por três irmãos espanhóis, o bar virou uma meca da intelectualidade vadia da cidade por aspectos dissociados de higiene, qualidade de serviço e conforto — itens pelos quais jamais prezou. A cerveja, no entanto, sempre foi servida a graus celsius que beiravam a estupidez polar; na tábua de frios nunca faltou salames, azeitonas e outros condimentos que fariam ruborizar os jovens que modelam os bícepes e os braquiais nos crossfits asseados da orla; o charme de armazém se fazia presente nas referências à região ibérica da Galícia, além, claro, dos frequentadores terem lhe propiciado fama e prestígio.

Localizado na margem oposta da Biblioteca Central e do Cinema Walter da Silveira — voltado a uma programação de filmes cults e festivais de cineastas locais –, o Bar Espanha recebia um tipo de gente preocupada em discutir grandes questões nacionais, exposições de arte, desdobramentos da política nacional mas, também, beberrotes falastrões que mal se aguentavam em pé. Ou quando, como foi em muitos casos, um e outro eram o mesmo.

Bar Espanha já sob nova administração. Foto Ramiro Smith

Por trás do balcão e dos ladrilhos hidráulicos cabia um pouco de tudo. Isso até 2012. Os irmãos espanhóis foram morrendo até que sobrasse apenas um: Zé, o caçula. Ele se desfez da propriedade há cinco anos. Duas outras administrações herdaram o espaço sem o mesmo sucesso. Fechado, o Espanha corria o risco de virar um restaurante de comida japonesa. A perspectiva fez Arthur e Uiara correrem atrás.

“Imagine um espaço desse, que representa tanta coisa para o centro da cidade, se perder assim. Não aceitaríamos jamais. Então, nos juntamos, e fizemos essa loucura”, diz o jovem, advogado por formação.

Sob nova direção, após três meses de intensas reformas, o armazém será aberto na próxima sexta-feira (28/7), com uma programação especial de três dias de eventos culturais (que vão até domingo). O novo bar passa a se chamar “Velho Espanha Bar e Cultura”.

“Reformamos os banheiros para dar acesso a portadores de necessidades especiais, recuamos o balcão para ter mais espaço interno, vamos vender cerveja artesanal e manter uma programação musical ativa. Respeitando, sempre, a vizinhança dos Barris”, enumera Arthur.

A descrição faz despertar uma inseto sifonáptero (a reles pulga) por trás da orelha. Cerveja artesanal? Humm… Estaria, então, o Espanha se ‘gourmetizando’?

“Sou pé sujo. Isso nunca! Nossos preços serão os mesmos da vizinhança. Vamos oferecer um prato pra duas pessoas a R$ 32”, rebate Arthur, assustado com o possível rótulo elitista.

FIM DE UMA TRADIÇÃO

Uma tradição, no entanto, desde já foi rompida. O Espanha nunca aceitou cartão de débito/crédito. Era tudo em dinheiro ou fiado, expondo o mau pagador, à moda da casa, no prego. O “Velho Espanha Bar e Cultura” aceitará bandeiras variadas.

“Importante explicar isso. Nós vamos juntar aspectos novos, mas mantendo a áurea do Espanha e do centro da cidade. Vamos ter quadros do Super Outro (filme do diretor baiano Edgar Navarro) e de Deus e o Diabo na Terra do Sol (da lenda Glauber Rocha, que inclusive morou nos Barris e frequentou o Espanha). A ideia é unir esses dois conceitos”, completa.

Vizinhança será a primeira a testar o novo bar. Foto: Ramiro Smith

O espaço vai funcionar com uma estrutura de seis funcionários, afora os dois donos. Duas na cozinha, três no salão e um na limpeza.

Nesta quarta-feira (26/7), abrirá exclusivamente para os moradores dos Barris aprovarem a nova administração e o conceito do bar. O único herdeiro vivo, seu Zé, vai servir os clientes para manter a áurea legendária e abençoar o estoque futuro do estabelecimento. Como invariavelmente acontece, a vizinhança será a primeira a dar o veredicto.

Noticias publicada originalmente em http://www.aratuonline.com.br/noticias/de-volta-meca-da-boemia-do-centro-de-salvador-bar-espanha-reabre-administrado-por-antigos-clientes/

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