Aldeia Nagô
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Mês do Raggae, das Mães e das Áfricas por Antonio Godi

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Maio em Salvador, para além de ser o mês das Marias Católicas, das noivas tantas e das Mães do Capitalismo, passaria a ser o mês da Mãe África com a construção inusitada do “Tributo a Bob

Marley” (11/05) e, do dia de luta contra o racismo (25/05) em descompasso com a data oficial da abolição da escravatura (13/05).

Para completar, Salvador, uma das cidades mais negra do planeta. Instituiu através do decreto municipal 5.817/2000 a data 11 de maio, como o Dia do Reggae. Dia do aniversário de morte de Robert Nesta Marley (1945-1981).

Esta homenagem soa como uma comenda soteropolitana ao jamaicano que com sua música e filosofia contaminou o mundo através de canções políticas de paz e humanidade. Nada mais justo, Bob Marley, tomou nossas casas de assalto com generosidade musical e benevolência política anunciando um mundo com sede de vida plural e convivência pacífica.

Essa invasão, acompanhada por vibrações musicais positivas, denota a intimidade alargada da ambiência eletrônica revelando um mundo contemporâneo com novos sentidos de estar e coexistir. Uma intimidade cultural que destrona as distâncias geográficas da modernidade capitalista proporcionando novas formas de identidade e pertencimento social.

Marley, surge como um novo revolucionário num novo contexto, sócio-político, espacial e existencial. Marley sacou as mudanças da babilônia capitalista do seu tempo. Onde a música e a informação seriam elementos determinantes nos passos da revolução étnica e humana. Marley, intuiu e seguiu os passos do projeto da internacionalização de um socialismo humano sonhado por Che Guevara. Marley, contaminou a América Latina a áfrica, a Europa e todos os pontos do planeta com uma proposta de humanização, paz e igualdade. Esteve e continua em todos esses limites usando as asas elétricas das novas tecnologias.

A música, a poesia e a filosofia foram e têm sido as munições determinantes de suas muitas vitórias. Marley, continua genial ao seguir o sonho de Che através da música e de uma estética nova que contamina o corpo através do ritmo, da dança e de uma nova proposta de vida a se espalhar pelo mundo.

Enfim, para além de balas marcadas pelas mortes e sofrimentos físicos. Balas, determinantes no calor da “guerra fria”. Marley criou balas outras marcadas por uma energia positiva de caráter estético e musical. Balas com a capacidade elétrica de viajar mundo afora difundindo a filosofia humanista rastafari. Balas que atravessariam os corações dos baianos construindo músicas e estéticas tantas prontas a nos revigorar. Os blocos afros contemporâneos do surgimento da inusitada cultura rasta-reggae teve no Olodum uma reconfiguração do samba-reggae e para além do pioneirismo do Ilê Aiyê a cristalização de uma pioneira diáspora negra na direção de novas fronteiras culturais e políticas. Reafirmando novos sentidos geográficos e culturais tão bem analisados pelo acadêmico, dread-look, Paul Gilroy, autor do “O Atlântico Negro”. E ainda, por Stuart Haal em seu livro: “Da Diáspora”. Aliás, proposições antecipadas pelo grande geógrafo baiano Milton Santos, com importantes reflexões sobre o tema.

As datas de maio são inusitadas ao apontarem para reflexões sobre o mistério da história da presença afro-brasileira na Bahia. As datas de maio são como as águas tantas e santas que nos banham no decorrer do tempo. Águas que nunca são as mesmas quando passam por nós mas que apontam para o movimento crucial da vida. Maio no Brasil é o mês da abolição da escravatura através da histórica lei Áurea da princesa Isabel. Pode-se pensar que o mês de maio na Bahia é mais que tudo isso.

O mês do reggae, das mães tantas e das noivas que apostam em um casamento arriscado e equilibrado na selva do capitalismo. Para nós o mês de maio é um tempo-lugar de aproximados trinta dias para revermos questões de gênero, etnicidade e sociabilidades múltiplas.

Antonio Jorge Victor dos Santos Godi

Antropólogo, Ator, Prof. do DCHF/UEFS/NUC.

antoniojorgegodi@gmail.com

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