Militares e Bolsonaro já têm uma bomba semiótica armada e pronta para explodir nas eleições de 2022. Por Marcus Atalla
Prosseguindo com o tema do artigo anterior: Militares se movem pelo Estado de forma estratégica, não apenas atrás de bacalhau, picanha e leite condensado.
Parte da sociedade já percebeu que Bolsonaro cria narrativas com objetivo diversionista. Porém, nem todos notaram, mas suas narrativas também têm a intenção de criar álibis futuros.
Quando Bolsonaro surgiu com a solução da cloroquina, havia experimentos promissores quanto ao uso do medicamento. Sua aposta foi na eficácia da substância. Seu álibi seria, Bolsonaro tentou salvar as pessoas através do uso preventivo da cloroquina, mas a imprensa e a esquerda não permitiram, mentiram para a população sobre o medicamento para prejudicá-lo, sendo os responsáveis pelas mortes.
O Brasil já esperava uma queda econômica pelas medidas do Paulo Guedes e agravadas pela pandemia. Bolsonaro, como álibi, correu para culpar antecipadamente os governadores, retirando sua responsabilidade da crise certa e sabida.
Nas eleições de 2018, preparou seu álibi caso perdesse, a fraude nas urnas. Mourão declarou à imprensa que a urna não é confiável por não ser possível auditá-la.
Talvez Bolsonaro seja um cinéfilo e assistiu muitos filmes sobre a máfia e organizações criminosas, mas o fato é: ele raciocina de forma a preparar defesas preventivas e culpar outros pelos seus malfeitos.
A bomba semiótica armada por Bolsonaro e militares para 2022
Bomba semiótica é um termo criado por Wilson Ferreira, mestre em comunicação contemporânea e especialista em semiótica. – “Bomba semiótica é uma engenharia de opinião pública, um fenômeno de ocupação e intervenção política novos, em sintonia com a cultura midiática viral: ela não visa a propaganda doutrinária, mas a contaminação viral pelo pânico, boatos, rumor, fake news e assim por diante.”
De tempos em tempos, Bolsonaro vem a público lembrar da possível falta de confiabilidade na urna eletrônica, seu objetivo não é cobrar uma resolução para um problema, é deixar a questão sempre presente e viva no imaginário popular.
Pedro Rezende, prof. do Departamento de Ciências da Computação na UNB, e Diego Aranha, prof. da UNICAMP e atuante na área de Criptografia e Segurança Computacional, realizaram oficialmente auditoria na urna eletrônica e alegam fragilidades.
Um dos problemas relatados por eles é que tanto o arquivo de contagem de votos, como o de recontagem, são arquivos espelhos, são originados a partir de um mesmo arquivo, aquele que contém a programação. Por isso não permitiria uma auditoria dos votos. Ambos os arquivos, contagem e recontagem dos votos serão idênticos independente de fraude ou não. Segundo Rezende, se a urna for fraudada no arquivo que contém a programação não será possível identificar a fraude. A fraude poderia ser feita no TSE e órgãos responsáveis por programar a urna.
A solução proposta é que a recontagem dos votos, quando necessária, deveria ser feita através do modo analógico, ou seja, contagem dos votos impressos pela urna. Os próprios votantes também poderiam conferir seu voto antes de depositar na urna. A dupla verificação garantiria maior segurança e transparência ao sistema, ao contrário do voto apenas eletrônico ou apenas em cédulas de papel. (entrevista Pedro Rezende), (entrevista Diego Aranha).
Entretanto, o objeto deste artigo não é discutir se Resende e Aranha estão corretos, nem apresentar propostas para uma provável mudança. A questão aqui é a existência de um campo fértil para o cultivo de dúvidas na população.
As fake news mais críveis são justamente aquelas que misturam fatos ou acontecimentos existentes com mentiras e, por fim, deturpam as conclusões e alteram o sentido.
O importante é conseguir ruído suficiente para servir como narrativa e iniciar uma quartelada de militares de baixa patente e policiais bolsonaristas.
A diferença entre a tentativa de Trump e uma futura tentativa de Bolsonaro, é que o bolsonarismo tem ao seu lado militares com tradição golpista e policiais militares. Estamos muito mais próximos do acontecido na Bolívia do que o não acontecido nos EUA.
O general Rego Barros já afirmou ter os militares o controle total das redes sociais, “coube ao Exército mergulhar de cabeça no submundo das mídias sociais e se tornar o órgão público com maior influência no mundo digital no Brasil”.E agora têm o controle da Secom e Ministério das Comunicações, assim como proposto no artigo anterior.
Como desarmar uma Bomba semiótica
Toda vez que Bolsonaro fala sobre a urna e fraude, tanto a esquerda, como a mídia independente, preferem não aprofundar no assunto imaginando que ao fazê-lo, estarão colaborando com o Bolsonaro.
Contudo, é justamente ao contrário, ao não trazer o tema à tona, se está ajudando o Bolsonaro, é permitir que a bomba continue armada e sob o seu controle. Deste modo, pode-se acioná-la quando desejar.
Não tem eficácia nenhuma ficar na repetição “a urna é confiável”, confiança é uma questão de crença, e quem crê, crê, quem não crê, não crerá, quanto mais, pessoas que já estão desconfiadas.
Não será praticável tentar esconder, próximo às eleições, haverá impulsionamento de todo o tipo, memes, falsos vídeos e depoimentos viralizando a questão.
A melhor maneira de desarmá-los é discutir a urna eletrônica de forma pública, ampla, técnica, exaustiva e quanto antes. Mesmo sendo para se concluir que a urna é perfeita do modo que está.
Desta maneira, ao chegar às vésperas das eleições em 2022, ninguém será pego de surpresa por algo já conhecido, algo já discutido à exaustão, será assunto velho, sem importância, sem efeito de causar rumores, nem uma disrupção cognitiva.
Alguém já viu viralizar e virar assunto no almoço de domingo em família uma postagem de que Júlio César atravessou o Rubicão ou uma cena do Big Brother de 3 anos atrás?
Artigo publicado originalmente em https://www.brasil247.com/blog/militares-e-bolsonaro-ja-tem-uma-bomba-semiotica-armada-e-pronta-para-explodir-nas-eleicoes-de-2022-7r6cv1lr?amp