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Ministério Público proíbe axé no São João. É o fim do mundo Por Galindoluma

4 - 6 minutos de leituraModo Leitura

Amigas e amigos, confesso hoje estar indignado com mais essa, me perdoe o termo, palhaçada, do Ministério Público. Não que seja novidade, mas acho que desta feita se passou dos limites toleráveis. Apenas para refrescar a memória, o Ministério Público entrou na justiça no carnaval de 2008 para que o Rei Momo não fosse magro, o que não conseguiu, felizmente. Na época fiz até uma brincadeira, dizendo que nas festas seguintes eles poderiam até estabelecer o tamanho do órgão sexual do Rei Momo, já que em tese, pinto de gordo tem de ser pequeno. No concurso, cada procurador estaria com uma régua para medir os minguados centímetros dos desafortunados.


No domingo agora, dia 31
de junho, o Ministério Público da Bahia  conseguiu, mais uma vez, impedir a
caminhada de jovens que defendem a descriminalização do uso da maconha e a
abertura de um debate franco sobre o tema. No Rio de Janeiro, até o ministro do
meio ambiente participou da atividade aqui proibida por quem deveria defender o
direito de livre manifestação.

Leitoras, vejam, prestem
atenção, na pérola do procurador Manoel Jorge Silva, autor da polêmica ação: "O
carnaval e os músicos que o representam como expressão da cultura brasileira têm
seu momento e não devem atropelar as festas do São João, prejudicando autênticas
manifestações juninas". O Ministério Público pediu o cancelamento de todos os
shows e em caso de descumprimento está prevista uma multa de R$2,5
milhões.

O primeiro alvo do MP foi
o Forró do Bosque, festa realizada pelo Chiclete com Banana todos os anos, numa
fazenda no município de Cruz das Almas. Se você está chocado com o absurdo,
fique mais ainda, ao saber do motivo que levaram à ação: "o MP quer que as
festas sejam animadas exclusivamente pelo forró, assegurando o mercado de
trabalho para os músicos que tocam ritmos típicos do São João", conforme matéria
do Jornal A Tarde.

Gosto sempre de fazer
perguntas em meus humildes artigos e as farei. Por que diabos o MP tem de se
envolver no tipo de música que vai se tocar numa festa? Eles têm especialistas
para identificarem numa surreal fiscalização o que seria o ritmo genuíno  do São
João? Teriam condições de estar presentes em mais de 400 cidades para averiguar
essa bizarrice? E as bandas de forró que não tem sanfoneiros, zabumbas e
triângulo, poderiam tocar?  Sabem eles o gosto musical de um público em
determinada cidade, se os moradores e visitantes gostariam ou não de um show de
axé mesclado com uma banda de forró? Quem garante a eles que suspendendo festas
tipo Forró do Bosque vai haver mais mercado de trabalho para os "músicos que
tocam ritmos típicos do São João"? 

E quantos músicos ligados
ao ritmo de axé ficariam sem o ganha pão num estado em que a tradição da mistura
de ritmos, sempre saudável,  é bem aceita pelo povo?  Ao que conste, músicas
sertanejas,  bregas  e outras não serão proibidas. Porque só o axé? E o axé
poderá ser tocado nas testas de natal, de ano novo, ou o MP já definiu que típos
de músicas podem ser tocadas nesses períodos, já que o procurador diz que o
ritmo é exclusivo para o carnaval? Atenção senhores músicos e cantores de axé,
 trabalhem somente cinco dias por ano, senão o MP vai atrás de vocês. 

 Será se alguém do
Ministério Público sabe que a banda Chiclete com Banana, a mais querida da
Bahia, tem várias músicas de São João gravadas durante a carreira, muitas legais
por sinal, e inclusive um CD exclusivo? E que na festa proibida será homenageado
o incansável paraibano Flávio José, dos maiores sanfoneiros e cantor de forró do
país,  comemorando 30 anos de carreira? E que terá a presença de uma banda de
forró de altíssimo nível, talvez a melhor do Brasil no momento, a Estakazero? E
mais: Cavaleiros do Forró, Flor Serena, Saia Rodada, Trio Nordestino, Cavalo
Doido  e  outras.  Alguém lá saberia que durante o carnaval em Salvador e nas
micaretas pelo interior desfilam em cima dos trios   bandas de forró as mais
variadas, inclusive aquilo que se chama de forró autêntico? Sabem não, ainda
bem. Se ficarem sabendo, vão querer proibir o forró no carnaval com alegação
semelhante à esdrúxula que agora usam.

Alguns acham que esse
tipo de iniciativa visa a que os procuradores ocupem os holofotes e virem
celebridades; outros presumem que essa turma não tem o que fazer e,  no ócio,
encampam qualquer ação que lá apareça. Confesso não concordar inteiramente com
nenhuma das duas teses, mas espero que alguma instância da justiça use o bom
senso e barre essa anomalia vinda de quem deveria ter juízo e prudência. 

(*) galindoluma dá palpites
sobre temas sérios e fúteis, especialmente sobre os segundos.

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