Ministros emperreados: advinha o que eles farão em quatro meses? Por Tereza Cruvinel
Os ministros de Temer que serão candidatos em 2018 reagiram raivosos à ideia de serem substituídos agora em dezembro, e não em abril, como exige a lei. Mandaram recados desaforados, como quem diz “daqui não saio, daqui ninguém me tira”.
Afinal, disseram alguns, eles já foram muito sacrificados com a defesa de Temer em duas denúncias, quando vários deles deixaram o cargo por um dia para reassumir seus mandatos na Câmara e votar a favor do chefe. Foi bandeirosa a insistência deles em ficar mais quatro meses no quentinho de seus cargo e todo mundo sabe por que. Não é para concluir projetos em andamento que eles querem ficar. Eles precisam faturar, em todos os sentidos. Faturar eventuais ações e faturar recursos e facilidades para a eleição. Em quatro meses, muitos negócios é que precisam ser concluídos nas respectivas pastas, negócios que envolvem compras e licitações, como aquela que o ministro Leonardo Picciani direcionou para a agência de publicidade do marqueteiro do PMDB, Ricardo Pereira.
Temer caiu numa esparrela que, segundo Moreira Franco, foi sugerida pelo chanceler Aloysio Nunes Ferreira, a de antecipar a reforma ampla que terá de fazer até o início de abril. Pelo menos 18 de seus ministros vão disputar algum cargo eletivo e terão que deixar as pastas. Com sua tão badalada experiência parlamentar, Temer devia saber que eles não aceitariam pacificamente a demissão antecipada, perdendo a chance de montar esquemas para a própria eleição, seja com negócios ou seja com projetos, favorecendo prefeitos que lhes vão retribuir com apoio na campanha. Agora Temer está dizendo aos aliados que fará apenas alguns ajustes em dezembro e deixará o resto para março. Com a saída do tucano Bruno Araújo, a pasta de Cidades será entregue a algum partido do Centrão e a reforma pode ficar apenas nisso, agora em dezembro. A não ser que o PDSB resolva mesmo desembarcar do governo. Mas Luislinda não conta, pois o negócio dela não é voto, é salário e perfumaria. Antonio Imabassahy pode ficar no cargo se trocar o PSDB pelo PMDB, já que lá na Bahia a disputa interna deve ser vencida por Jutahy Jr., que é anti-Temer. E Nunes Ferreira, ardoroso defensor da permanência do partido no governo, é capaz até de se licenciar do partido para continuar chanceler.
Em fevereiro, Temer corre o risco de sofrer boas derrotas na Câmara, conforme vem avisando o presidente da Casa, Rodrigo Maia. Voltando do recesso, dos preparativos para a campanha, os deputados não estarão com a menor disposição para aprovar as medidas do ajuste fiscal, cuja medida provisória terá que ser votada naquele mês. Duas medidas eles acham duras de engolir: a suspensão de todos os aumentos já negociados com os funcionários públicos e o aumento da contribuição previdenciária deles de 11% para 14%. Na mesma época terá que ser votada a MP que faz ajustes na reforma trabalhista. Ela mitigou a maldade em alguns pontos, como o trabalho obrigatório de grávidas em locais insalubres, mas criou outras. Por exemplo, a previsão de que o trabalhador intermitente, se não faturar nem um salário mínimo ao longo do mês, tenha que pagar uma contribuição previdenciária por conta própria se não quiser ficar com um buraco em seu histórico no INSS. Ou seja, dispensa-se o contratante da obrigação e empurra-se a despesa para este novo trabalhador semi-escravo que a reforma de Temer está criando. Se a coisa já não está fácil, imagine-se com a dispensa dos ministros que estão emperreados em seus cargos. Os que são deputados voltariam para a Câmara dispostos a dar o troco em quem ajudaram a salvar do impedimento.
Então, nada de reforma ampla agora. Deixa o pessoal faturar, concluiu Temer.
Artigo publicado originalmente em https://www.brasil247.com/pt/blog/terezacruvinel/327616/Ministros-emperreados-advinha-o-que-eles-far%C3%A3o-em-quatro-meses.htm