Feira Yá Lagbara”
Nos dias 7 e 8 de julho, na sede do Bloco Afro Malê Debalê, bairro de Itapuã, acontecerá a “Feira Yá Lagbara”, iniciativa que reunirá artesanatos diversos, música e gastronomia. A feira é uma ação presidida e idealizada pela Iyalorixá Jaciara Ribeiro, ativista cultural e mãe-de-santo do terreiro de candomblé “Axé Abassá de Ogum” e é coordenada pela Iyalorixá Patrícia Axiotis.
A ideia da feira surgiu dentro do terreiro Axé Abassá de Ogum, na “Roda de conversa Yá Lagbara”, cujo significado é “mulher empoderada”. O evento ocorrido em 2015, contou com diversos espaços de diálogo, tendo como foco o empoderamento e engajamento de mulheres. Naquele momento, constatou-se a importância de se criar espaços de fomento e circulação das mercadorias produzidas pela comunidade local, que não possuem incentivos públicos necessários para se autopromoverem, apesar do atrativo valor comercial e simbólico dos seus produtos. Desde então, a feira vem acontecendo periodicamente no largo da Lagoa do Abaeté, consolidando-se como uma importante incentivadora da cultura local do bairro de Itapuã e Salvador.
As participações em feiras, na maioria das vezes, se fazem mediante ao pagamento de taxas altas, o que impossibilita a presença de pequenos artesões e empreendedores, que não possuem capital suficiente para cobrir essas despesas. A Feira Yá Lagbara assume, principalmente, esse compromisso com o empreendedor local: retira-los do anonimato, abrindo possibilidades para a circulação de suas mercadorias, fortalecendo seus laços afetivos e comerciais com outros empreendedores locais. Em julho, a feira acontecerá na sede do Bloco Afro Malê Debalê, entidade do movimento negro que há três décadas constrói sua história em Itapuã e na cidade de Salvador. O Bloco e a feira Ya Lagbara possuem muito em comum: Ambas representam a presença e articulação cultural do povo negro, além da força e da luta da população de Itapuã. O Bloco Afro Malê Debalê é, sem dúvida, muito mais do que um bloco musical. Produz intensas atividades voltadas para ações pedagógicas e educativas, sempre incentivando a luta contra o racismo e o empoderamento de jovens afrodescendentes de comunidade carente do bairro de Itapuã e adjacências. Seu projeto pedagógico é tão amplo, que parte da sede do Bloco tornou-se uma escola, que recebeu o nome de “Escola Municipal Malê Debalê”. Assim, a parceria entre a feira Ya Lagbara e o Bloco Afro Malê Debalê é mais uma evidência da potencialidade da população negra em se mobilizar em torno de seus interesses próprios. A cultura Africana está historicamente relacionada à circulação de mercadorias no formato de feiras. Essa tradição comercial foi trazida para o Brasil pela população africana a partir da diáspora forçada do período escravista. Nas cidades de Salvador, entre os séculos XVIII e XIX, era possível presenciar o fluxo de escravos e escravas vendendo seus produtos pelas ruas, possibilitando assim que reunissem recursos suficientes para comprarem a tão sonhada alforria. A Feira Ya Lagbara celebra a história dessa prática ancestral e a capacidade impressionante do povo negro de reinventar o cotidiano, com arte, fé e alegria. Seja vendendo seus quitutes, acarajés, amendoins e tecidos, ou lavando roupas nas margens da Lagoa do Abaeté, o comércio sempre foi um caminho em direção à conquista da liberdade. O evento promete ser mais um capítulo desse empoderamento histórico, construindo um elo entre ancestralidade e as demandas do povo negro na atualidade. |