Mudança de verdade por John Hemingway
Montréal (Canadá) – Na
terça-feira, a América vai eleger Barack Obama como seu próximo presidente.
A
mídia corporativa continua a falar em "disputa apertada" em
"estados-chave", mas não consigo imaginar que alguém que saiba alguma
coisa sobre o que está acontecendo na América acredite realmente nela. Deveria
ser óbvio, mesmo para os mais ferrenhos neocons, que John McCain e sua
recém-nascida subordinada Sarah Palin estão prestes a ser varridos do mapa
político dos Estados Unidos.
O Partido Republicano está em sérios apuros e os Democratas, sob a liderança de
Obama, poderiam fazer muito mais para corrigir as obscenidades dos oito anos de
mandato de Bush. Com a maioria absoluta tanto na Câmara quanto no Senado eles
poderiam mudar qualquer coisa que eles quisessem, literalmente. As guerras no
Afeganistão e no Iraque que desde o início eram ilegais e crimes contra a
humanidade, você diz? Bem, elas poderiam terminar em um dia, simplesmente
cortando as verbas que permitem a Bush continuar os massacres. Claro, eles
poderiam ter feito isso lá atrás, em 2006, quando derrotaram os republicanos
pela primeira vez, mas não o fizeram.
Pensando bem, em 2006, eles também podiam ter afastado Bush por qualquer um dos
inúmeros crimes cometidos contra a Constituição dos EUA, mas isso também não
foi possível. "Impeachment está fora da agenda", disse a recém-eleita
líder da maioria Nancy Pelosi (a mesma mulher que iria mais tarde empurrar para
o contribuinte o plano de socorro aos banqueiros-gangsters de Wall Street).
Falando de Wall Street e dos ladrões que continuam a dominar a América, a
Câmara e o Senado controlados pelos Democratas poderiam ter votado leis, há
dois anos, para regular os bancos de investimento que estavam vendendo títulos
intoxicados pelo veneno "sub-prime", que agora estão promovendo a devastação
financeira em todo o globo. Mas não. Eles tinham coisas melhores para fazer,
embora muitos deles, estou certo, tinham boas informações do que estava
acontecendo e uma visão realista de onde a bolha imobiliária e os bilhões
gastos na Guerra do Iraque iriam nos levar. Eles sabiam e poderiam ter feito
muita coisa quando ainda havia tempo para evitar o desastre, mas preferiam não
fazer.
Em vez disso, quando começou o colapso e o mercado acionário estava perdendo
uma media de 500 a 700 pontos diariamente, os democratas foram os mais
entusiásticos incentivadores do brinde de 700 bilhões de dólares (para os
mesmos criminosos que haviam causado o desastre). A liderança Democrática
apoiou a maior transferência de riqueza dos pobres para os ricos na história do
país. "Temos que salvar os bancos e os banqueiros para salvar o
povo", eles nos diziam. Um pouco como os soldados dos EUA faziam quando
incendiavam aldeias sul-vietnamitas com os seus isqueiros Zippo para
"salvá-las" do Vietcong.
Em 2007, o Censo dos EUA informou que aproximadamente 40% da riqueza do país
era controlada por apenas 1% dos mais ricos, e que 10% eram donos de quase dois
terços da riqueza da América. Estes são números que foram publicados no ano
passado, antes da crise e do socorro e da descida diária do mercado de ações, e
eles me lembram mais a disparidade de renda em regiões do sub-Saharan ou em
ditaduras latino-americanas do tipo Pinochet, não nos Estados Unidos. E todavia
foi nisso que nos tornamos. Uma oligarquia onde uma minúscula minoria da
população define as políticas interna e externa e a cada quatro anos realiza
eleições para que o resto de nós possa participar elegendo seus representantes,
que irão gerir os bens (dos Estados Unidos) para seu benefício e uso exclusivo.
Eu estou farto desse sistema de mentiras e terror e espero que, mais cedo ou
mais tarde, o povo da América finalmente irá se levantar contra seus reguladores
autocráticos e tomar de volta o que é seu legítimamente seu. Mudança não é
apenas necessária, como nos diz Obama, ela tem que ser também verdadeira.
J.H. é escritor e tradutor. Neto de Ernest Hemingway.
Artigo publicado originalmente em http://www.diretodaredacao.com/