O duo alagoano composto pelo tecladista Dinho Zampier e pelo vocalista Givly Simons vem chamando atenção, principalmente, por causa da figura espalhafatosa do cantor. A dança lânguida e desengonçada do frontman tatuado no clipe “Melô do Jonas” garantiu o status de viral da internet à banda, que mesmo contando com apenas seis meses de formação, já contabiliza quase 150 mil visualizações no YouTube.
Lançado pelo selo de hardcore capixaba Läjä Records, o LP é uma homenagem à lambada – ritmo paraense surgido nos anos 1970 a partir da fusão do carimbó e da música caribenha, na qual a guitarra solo é o destaque –, influenciado pela atitude Do... It Yourself do punk. O álbum é resultado de inúmeros encontros inusitados como esse.
O trabalho conta com a composição “Gatinha Gatinha” de Fábio Mozine, integrante dos grupos Merda e Mukeka di Rato; coprodução de Chuck Hipolitho, ex-VJ da MTV e membro do grupo Vespas Mandarinas; e participação especial do cantor Wado.
Com onze músicas e meia hora de duração, “Lambada Quente” foi gravado no mês de fevereiro em meros quatro dias, no estúdio Costella, em São Paulo. Ainda participaram da feitura do disco os músicos Rafa Moraes (guitarra), Raphael Coelho (bateria e percussão), Felipe Barros (baixo) e Natan Oliveira (sopros), além de backing vocals de Cris Braun, João Jones e Alvinho Cabral.
O LP que chega com prensagem de 300 exemplares vem no rastro do CD homônimo (produzido em CD-R e com encartes impressos a jato de tinta, no melhor estilo CD pirata) que foi disponibilizado no mês de abril e está acessível de forma gratuita desde o último dia 5 de maio na internet, através do link https://goo.gl/qw07R5.
O termo “lambada” foi criado pelos DJs paraenses para classificar as músicas mais animadas que tocavam nas rádios. A alusão é exatamente o que o nome sugere, um estalar de chicote. Os músicos do Figueroas não são alheios a esse conceito. A “Lambada Quente” deles é acelerada, recheada de dedilhados de guitarra, efeitos de teclado e humor nonsense. Exemplo disso é o hit “Bangladesh”, no qual o nome do país asiático é repetido a exaustão durante o decorrer da música, como em um mantra.
Figueroas nasceu da reverência aos músicos que escutava na infância, como Aldo Sena, apesar da adolescência roqueira como integrante das bandas Stick Garden e Gatinhas e Sorvetes. No ano passado, durante uma viagem ao Uruguai, veio a revelação: iria se tornar um cantor de lambada. A terra do presidente Mujica deu outra importante contribuição à banda, o nome inspirado no roqueiro local Jesús Figueroa.
Contudo, a mudança de carreira não é tão drástica quanto parece. O músico alagoano de 21 anos é primo de segundo grau de outra figura peculiar da música brasileira, o pernambucano Edson Wander – cuja carreira despontou nos anos 1960 na Jovem Guarda até se reinventar como artista de brega em Belém do Pará, na década de 1980, conhecido pela alcunha de “Roqueiro do Brega”.
As referências viraram letra de música. Em “Graças a Aldo Sena e Edson Wander”, o Figueroas faz uma versão da composição de André Vitório, enaltecendo os dois heróis da dupla - infelizmente, menos reconhecidos do que mereceriam. “Eu nunca tive problema grande, graças a Aldo Sena e Edson Wander”, repete o refrão.
“A primeira lambada que eu me lembro de ter escutado na vida foi uma versão do Chimbinha pra ‘Lambada Complicada’, de Aldo Sena. O meu primo Edson é um cara que me ensinou tudo que eu sei como artista, o jeito de se portar no palco, como amar o que você faz, sem se importar com os outros. E os caras estão esquecidos pela grande mídia. O Brasil precisa saber quem é o Aldo Sena. O mundo precisa saber, bicho. Se o Figueroas puder ajudar só um pouquinho, já tá valendo”, almeja Givly.