Não tenho provas, mas convicções. Por Alex Solnik
Acho que no fundo, no fundo, esses procuradores desastrados são petistas e, pior ainda, lulo-petistas! (Não tenho provas, mas convicções).
Fizeram o que fizeram a serviço de Lula e do PT. (Não tenho provas, mas convicções).
Senão, vejamos.
Montaram uma mise-en-scene digna de 007 na qual, todos esperavam, finalmente apresentariam provas cabais da ligação de Lula com o escândalo Petrobrás e o que apresentaram foi uma cena de Inspetor Clouseau, coroada por um gráfico tabajara muito do mequetrefe que virou chacota em toda a web.
Ou seja, no fundo, no fundo, eles absolveram Lula ao confessarem, claramente, que não tinham provas de seus crimes, mas convicções.
A frase caiu na boca do povo: “não tenho provas, mas convicções”.
É a frase que mais se fala no Brasil.
Ouvi do cliente de um supermercado aqui perto de casa, no bairro de Perdizes, onde o que mais se ouviu no ano passado foram panelas.
Algum compositor já deve ter feito marchinha com o tema para o próximo carnaval.
Concorre, ao lado das de Renan Calheiros – “isto é um julgamento no hospício” e “derruba, mas não dá coice” – como forte candidata ao prêmio de melhor frase do ano.
Desmoralizou a Lava Jato completamente.
Um fervoroso lulista não faria melhor.
Se não há provas, se até agora eles não conseguiram provas, não há como condenar. Mas, não se sabe baseados em que livro, talvez no Tratado do Jurista Doido, os procuradores, que parecem ter frequentado, todos, o mesmo seminário, condenaram um ex-presidente da República ao vivo, pela TV, por corrupção e por comandar o escândalo bilionário com base apenas em suas convicções.
É muito grave. É gravíssimo. Não sei como tiveram coragem de se expor dessa maneira, expor o Ministério Público e a própria Justiça, que não pode ser ridicularizada dessa forma.
O Ministério Público não pode ser usado como disseminador de calúnias nem como instrumento político.
Como consequência da repercussão negativa, os dois procuradores certamente vão ficar algum tempo longe dos holofotes.
Mas a frase que cunharam – cada um deles contribuiu com metade dela – veio para ficar e vai ser associada para sempre à Lava Jato: “não tenho provas, mas convicções”.
* Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais “Porque não deu certo”, “O Cofre do Adhemar”, “A guerra do apagão”, “O domador de sonhos” e “Dragonfly” (lançamento setembro 2016).
Artigo publicado originalmente em http://www.brasil247.com/pt/blog/alex_solnik/255687/N%C3%A3o-tenho-provas-mas-convic%C3%A7%C3%B5es.htm