No Mês do Escritor, pesquisa revela que 40% das autoras negras baianas não conseguem publicar livros
No Mês Nacional do Escritor, comemorado em julho, as condições de trabalho dos autores brasileiros ainda deixam a desejar. Recebendo, apenas, 10% do valor de cada capa, um escritor recebe, no Brasil, cerca de R$ 500 mensais para uma tiragem média de 3.000 livros vendidos a R$ 35 cada, o que tem feito com que muitos busquem fontes alternativas de renda. Segundo pesquisa informal com 50 autores de diversos perfis e estágios na carreira, feita pelo escritor paulistano Santiago Nazarian, só quatro apontaram a venda de livros como principal fonte de renda.
“Na Bahia, a situação ainda é pior”, relata a escritora baiana Calila das Mercês. “Por ser um estado predominantemente negro, grande parte dos autores permanece invisível para a sociedade, sobretudo as autoras mulheres, que, além do preconceito racial, também sofrem discriminação de gênero”, complementa.
Segundo o mapeamento “Escritoras Negras da Bahia – E-negras” (www.escritorasnegras.com.br), lançado por Calila no dia 7 julho, apenas 60% das autoras negras baianas têm livros publicados. “Grande parte dessas escritoras financia o livro do próprio bolso e o vende de mão em mão, sem ganhar nem mesmo os 10% por capa”, disse.
Ainda segundo o diagnóstico, cerca de 60% das autoras negras baianas têm entre 30 e 40 anos, sendo que uma parcela mínima é conhecida pela população. “Temos grandes autoras negras baianas, como Lívia Natália (Salvador), Mãe Stella de Oxóssi (Salvador), Rita Santana (Ilhéus), Renailda Cazumbá (Feira de Santana), Mel Adún (Salvador), Vânia Melo (Salvador) e Celeste Pacheco (Brumado). Temos várias escritoras negras produzindo saraus, como Louise Queiroz (Salvador) e Jamile Santana (Salvador), mas, infelizmente, elas ainda permanecem invisíveis para a maioria dos leitores”, disse.
“Todos esses dados que coletamos nos fez chegar a duas importantes conclusões: precisamos refletir sobre os problemas estruturais da nossa sociedade, como o racismo e o machismo, e precisamos pensar, urgentemente, políticas públicas que valorizem a literatura de autoria negra em nosso estado, sobretudo os trabalhos desenvolvidos pelas autoras que são privadas de os espaços que deveriam ocupar”, disse Calila.
Além do diagnóstico, o E-negras conta com dois outros produtos voltados à valorização da literatura negra no estado. O projeto desenvolve, até o dia 20 de julho, um ciclo de oficinas voltadas a mulheres de comunidades afro-indígenas, no Extremo Sul da Bahia, e lançará, em agosto, um e-book com textos acadêmico-culturais relacionados à negritude e à autoria negra. O E-negras tem o apoio financeiro do Governo do Estado, por meio do Fundo de Cultura, Secretaria da Fazenda, Fundação Cultural e Secretaria de Cultura da Bahia.