O Brasil derrota os corvos por Emir Sader
"Corvo" foi o nome que ganhou Carlos Lacerda, como ave que busca
rapina onde houver, senão, inventa. É o espírito udenista, golpista, que
sucumbiu sucessivamente à liderança de Getúlio e das forças populares.
Não
ganhavam eleições, iam bater nas portas dos quartéis ("vivandeiras de quartel",
eram chamados), para tentar, pela força, o que não conseguiam pela persuasão.
Até que, com o apoio decidido do governo dos EUA e da mídia – a mesma que
agora: Globo, Folha, Estadão -, deram o golpe e instauraram a ditadura militar,
que tantos males fez ao país.
Suas características são muito similares às dos corvos de hoje:
são brancos, de classe média, odeiam o povo, tem seu núcleo básico em São
Paulo, se agrupam em torno da imprensa, tem uma sólida convicção de que tem
razão (mesmo contra todas as evidências e a grande maioria dos brasileiros)
se refugiam em denuncias moralistas, detestam a América Latina e o sul do mundo
(adorando os EUA e a Europa), crêem que São Paulo é a "locomotiva do país", que
arrasta os outros estados preguiçosos (o mesmo sentimento da sublevação de
1932, que eram separatistas)
derrotados, tendo que apelar para suas armas preferidas – a força dos golpes e
o monopólio da imprensa.
A campanha para trazer as Olimpíadas ao Brasil possibilitou
distinguir os que amam o Brasil, mais além dos seus problemas e com todos os
seus problemas, e os que têm suas almas corroídas pelo ódio, torceram e
militaram contra o Brasil. (Um deles convenceu seus leitores a tal ponto que
numa consulta que fez, ganhou Chicago contra o Brasil.) Agora se vestem de luto
– a cor dos corvos – e já tem temas para amargurar o resto das suas vidas até
2016. Para os que têm alma pequena, segundo Fernando Pessoa, a vida não vale a
pena.
Estão há anos incomodados que o Brasil dê certo governado por um
operário, sindicalista de base, nordestino, sem diploma universitário, que
perdeu um dedo na máquina, enquanto aquele do qual são viúvas – supostamente a
pessoas melhor qualificada para dirigir o Brasil – fracassou estrepitosamente e
é repudiado pelo povo. Tem a alma corroída pelo ódio, pelo despeito, pelo
rancor.
Lula tinha que dar errado, como Evo tinha que dar errado, como
Hugo Chávez tinha que dar errado. Um é de origem nordestina e operária, o outro
é indígena, o terceiro é um mulato. Mas quem fracassou foram os tucanos, aqui,
com FCH, na Bolívia, com Sanchez de Losada, na Venezuela, com Carlos Andrés
Perez. Não por acaso o governo de FHC apoiava àqueles, Lula apóia aos que os
sucederam e, estes, por sua vez, têm a Dilma como candidata.
Essa geração de lacerdistas, corvos do século XXI, precocemente
envelhecidos, pela frustração e pelo rancor, vegetarão o que lhes resta viver,
ruminando reclamações contra o Campeonato Mundial de 2014 e contra os Jogos
Olímpicos de 2016. Enquanto a caravana do povo brasileiro passa.