Aldeia Nagô
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O Brasil derrota os corvos por Emir Sader

3 - 4 minutos de leituraModo Leitura

"Corvo" foi o nome que ganhou Carlos Lacerda, como ave que busca
rapina onde houver, senão, inventa. É o espírito udenista, golpista, que
sucumbiu sucessivamente à liderança de Getúlio e das forças populares.






Não
ganhavam eleições, iam bater nas portas dos quartéis ("vivandeiras de quartel",
eram chamados), para tentar, pela força, o que não conseguiam pela persuasão.
Até que, com o apoio decidido do governo dos EUA e da mídia – a mesma que
agora: Globo, Folha, Estadão -, deram o golpe e instauraram a ditadura militar,
que tantos males fez ao país.

Suas características são muito similares às dos corvos de hoje:
são brancos, de classe média, odeiam o povo, tem seu núcleo básico em São
Paulo, se agrupam em torno da imprensa, tem uma sólida convicção de que tem
razão (mesmo contra todas as evidências e a grande maioria dos brasileiros),
se refugiam em denuncias moralistas, detestam a América Latina e o sul do mundo
(adorando os EUA e a Europa), crêem que São Paulo é a "locomotiva do país", que
arrasta os outros estados preguiçosos (o mesmo sentimento da sublevação de
1932, que eram separatistas). Também tem como característica ser sempre
derrotados, tendo que apelar para suas armas preferidas – a força dos golpes e
o monopólio da imprensa. 

A campanha para trazer as Olimpíadas ao Brasil possibilitou
distinguir os que amam o Brasil, mais além dos seus problemas e com todos os
seus problemas, e os que têm suas almas corroídas pelo ódio, torceram e
militaram contra o Brasil. (Um deles convenceu seus leitores a tal ponto que
numa consulta que fez, ganhou Chicago contra o Brasil.) Agora se vestem de luto
– a cor dos corvos – e já tem temas para amargurar o resto das suas vidas até
2016. Para os que têm alma pequena, segundo Fernando Pessoa, a vida não vale a
pena.

Estão há anos incomodados que o Brasil dê certo governado por um
operário, sindicalista de base, nordestino, sem diploma universitário, que
perdeu um dedo na máquina, enquanto aquele do qual são viúvas – supostamente a
pessoas melhor qualificada para dirigir o Brasil – fracassou estrepitosamente e
é repudiado pelo povo. Tem a alma corroída pelo ódio, pelo despeito, pelo
rancor. 

Lula tinha que dar errado, como Evo tinha que dar errado, como
Hugo Chávez tinha que dar errado. Um é de origem nordestina e operária, o outro
é indígena, o terceiro é um mulato. Mas quem fracassou foram os tucanos, aqui,
com FCH, na Bolívia, com Sanchez de Losada, na Venezuela, com Carlos Andrés
Perez. Não por acaso o governo de FHC apoiava àqueles, Lula apóia aos que os
sucederam e, estes, por sua vez, têm a Dilma como candidata. 

Essa geração de lacerdistas, corvos do século XXI, precocemente
envelhecidos, pela frustração e pelo rancor, vegetarão o que lhes resta viver,
ruminando reclamações contra o Campeonato Mundial de 2014 e contra os Jogos
Olímpicos de 2016. Enquanto a caravana do povo brasileiro passa.


Artigo publicado originalmente em http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=358

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