Aldeia Nagô
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O carnaval de minha junventude. Por Tuzé de Abreu

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Para mim parece óbvio que as inúmeras pessoas da minha geração que referem-se ao carnaval “do seu tempo” como melhor que o de hoje, sentem falta mesmo é da sua juventude diante daquela festa tão energética. Meus pais diziam isto do carnaval do tempo deles e , se não houver uma gigantesca mudança de paradigma , os jovens de hoje , quando ficarem velhos, dirão o mesmo. Faz parte.

Frequentei o carnaval sozinho , com minha turma de amigos e namoradas, a partir dos 15 anos , idade em que também toquei meu primeiro carnaval , na Associação dos Filhos e Amigos do Ceará. Ficava mais ou menos onde hoje é Patamares ou Pituaçu. Não lembro exatamente . Daí em diante , toquei carnaval até quase os 60 anos. Em orquestras, trios elétricos, grupos menores , na Bahia , em outros estados e em outros países.

Mas quero falar é da juventude. Entre os 15 e mais ou menos os 30 anos, tocava e brincava. Era incansável , mas não apenas eu. Muitos músicos faziam isso. Acordava mais ou menos às 10 , juntava com os amigos na batucada mais esculhambada que já houve , sem uniforme , com 3 ou quatro tambores velhos e mal tocados e o meu saxofone, um velho alto Galasso. 
Tínhamos o nome pomposo de Suspiro de Jegue. Cheguei a fazer um samba para o grupo, mas ninguém aprendeu. Só eu sei. Íamos para o centro, de ônibus ou naquelas kombis -coletivo , pintadas de laranja. Invariavelmente nos dispersávamos. Cada um encontrava outros amigos , namoradas, colegas , e ia ficando pelo caminho. Engraçado foi ver Caveirinha correndo atrás do bombo, que rolou pela Ladeira de São Bento.Voltava pra casa mais ou menos às seis e meia descansava um pouco , às nove saia e tocava até as cinco.

Numa dessas , ficamos meu irmão e eu (com uma velha roupa de Papai Noel, e o saxofone), de”bobeira” na avenida Sete, quando apareceu um bloco. Era o primeiríssimo dia do Bloco do Jacu. Eles traziam na frente uma placa :” Há Jacu no Pau”. Quando Walter Queiroz , grande compositor e “primeiro ministro” do Jacu me viu com o sax, pegou-me- e me pôs na frente do bloco para “puxar”as músicas . Meu irmão ficou por perto. Pouco depois, quando estávamos chegando na Piedade , veio um grupo de PMs. com um oficial à frente.

Este me pegou pelo braço e disse: ” Nosso destino, delegacia”.Certamente consequência da placa.Fiquei imóvel, mas a turma dos tambores não parou de tocar. Então os soldados foram pra cima deles e o pau comeu. O oficial me largou e foi pra o meio da confusão.Saí como uma flecha , tirei a roupa de Papai Noel (estava de short e camiseta por baixo) dei pro meu irmão e nós dois corremos , eu com o saxofone pendurado no pescoço, até o Largo 2 de Julho onde era o ponto final das kombis. Pegamos uma e fomos pra casa.

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