Aldeia Nagô
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O Carnaval Pipoca voltou!. Por Fernando Monteiro

3 - 4 minutos de leituraModo Leitura

Aquilo que parecia uma utopia, que tentaram fazer com que acreditássemos que nunca iria acontecer, aconteceu. O povo está na rua novamente, ocupando o lugar que é seu, o de protagonista, em vez de ficar só olhando o bloco de abadá passar com suas cordas. Foi para isso que Dodô e Osmar inventaram o Trio Elétrico. Misturar numa mesma sintonia, pobres, ricos, comunistas, capitalistas, brancos, mulheres, negros, homens, LGBTQIA+, todo mundo; esta coisa que inspira músicas que fazem a gente cantar com gosto “eu queria que essa fantasia fosse eterna”.
A pipoca pacificou o carnaval e a cultura da violência. Como imaginar as imensas pipocas de hoje em décadas atrás sem explodir rodas de brigas? Isto só nos traz a reflexão de que a falta de espaço promovido pelo protagonismo dos blocos de trio e suas cordas, a exclusão do acesso aos grandes trios e seus artistas para a maioria das pessoas, tinha realmente seus dias contados como sempre alertou um dos grandes carnavalescos de nossa terra, Waltinho Queiroz!

“Waltinho, levanta o bloco do Jacu novamente! Esse carnaval que se forja tem lugar para o bloco azul turquesa. Sonho. Quem sabe…

Tomara que ano que vem eu encontre de novo, no meio da rua, no meio do povo!”

Com a “re-ascensão” da pipoca, além da diminuição das brigas, fez ressurgir as fantasias. As pessoas voltaram a se fantasiar! A ludicidade e espontaneidade está voltando apesar do carnaval ainda engessado ao carnaval-negocio para aquela meia dúzia de empresarios e seus sócios parceiros no poder público.
Os bloquinhos explodem nos bairros, nos circuitos, até em condomínios. Os trios menores são um sucesso, fruto da visão vanguardista do microtrio do músico multi-produtor cultural Ivan Huol lá atrás. Diminuiu custos, trouxe de volta uma legião de músicos ao carnaval nos diversos trios menores com suas bandas de repertorios carnavalescos mais diversificados.
É esse caldeirão fervente de uma festa em plena transição “forjada pelo povo” – reflexo do esgotamento do modelo de blocos de abadás, muito dado também pela ascensão dos camarotes e a perda de público a esse segmento, mas também o esvaziamento da concepção de bloco causado pelo mercado – é esse caldeirão que dá o tom do melhor caminho para o carnaval de Salvador. Não à toa, disputam violentamente a festa querendo criar um circuito fake para tentar um último suspiro no modelo mais radicalizado do mercado, um circuito na Boca do Rio que tende a ser futuramente circuito fechado com cobrança de ingresso, tapumes, camarote, abadás. Modelo este que tem esvaziado inclusive os carnavais fora de época pelo Brasil.

Que o povo tenha a sabedoria de tomar para si a festa e isso se dá em muito pressionando o poder público em todas as suas instâncias. Que o debate seja aberto, exposto na mesa. Trago aqui também a responsabilidade da academia nesse processo. Não cabe omissão.
Esperar do poder público, de cima pra baixo melhorias, é acreditar em quem coloca a máquina pública para poucos. Não basta.

Reequilibrar os circuitos Dodô e Osmar (Barra e avenida) exigindo de volta seus espaços públicos tomados por empresas de entretenimentobe postos do poder publico em locais de vulnerabilidade da população, corrigir a superlotação de Ondina e o enfraquecimento da avenida, antes sucateada nas últimas gestões municipais, mas que volta a crescer com o carnaval pipoca, revigorado com a força de quem revigora todo o carnaval. Exigir transparência na contratação das atrações, melhoria do transporte público, principalmente no circuito da avenida, são alguns dos pontos mais importantes para o próximo carnaval.

Fernando Monteiro
Um carnavalesco antes de tudo..

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