Aldeia Nagô
Facebook Facebook Instagram WhatsApp

O cavalo manco e o puro sangue por Antonio Ermírio de Moraes

4 - 5 minutos de leituraModo Leitura
Os trabalhadores tem muito a aprender, mas não podemos negar que apontaram a
seta do governo na direção de deixar de ser colônia extrativista. Isto já
surtiu efeito no enfrentamento da última crise mundial, se o país estivesse com
o modelo econômico anterior teria quebrado, isto foi dito por todos os
segmentos da mídia (fora do contexto partidário) antes do processo da campanha
política.



Se o governo não tivesse aberto agressivamente novos mercados com economias
emergentes os efeitos seriam devastadores, isto é sério, e só aconteceu porque
a direção foi mudada, as bases econômicas do governo FHC foram aproveitadas até
um certo ponto, mas se não mudasse a estratégia, o Brasil teria quebrado como
ocorreu nas outras crises.
A aposta no mercado exterior emergente e no mercado interno, via inclusão
social, é reconhecido no mundo inteiro como uma grande sacada deste governo que
salvou o país de um grande desastre.
O interessante é que foi apenas uma questão de auto estima, por incrível que
pareça, o governo Lula adotou a estratégia nacionalista dos governos militares
e deu certo. O que aflige o pessoal que governou nas décadas passadas é que o
novo posicionamento foi ideológico, deu certo, o país se protegeu e cresceu. A
fome, a miséria, as desigualdades não seriam resolvidos em oito anos, basta um
pouquinho de bom senso pra enxergar isto.
A priorização no resgate dos pobres via programas de renda mínima e estímulo ao
micro-crédito, o aumento em "dólar" de mais de 300% no salário
mínimo, entre outras medidas, foram fundamentais para reduzir as desigualdades,
irrigar de forma bem pulverizada a economia com dinheiro que gera emprego e
germinou o ciclo virtuoso da economia.
Com o aproveitamento e o aperfeiçoamento das bases econômicas bastou a decisão
política de acreditar que podemos sonhar em deixar de ser colônia extrativista.
Ainda estamos longe, não temos estradas, portos, aeroportos, escolaridade,
sistema de saúde, centros de pesquisa, universidades qualificadas, mas para que
possamos ter um dia todas estas coisas é preciso que tomemos a decisão política
de apostar no Brasil, no trabalhador do Brasil, no empreendedor brasileiro, na
distribuição de renda via salários dignos, no ciclo virtuoso do bom
capitalismo, e esta decisão foi tomada neste governo.
Nesta decisão de política nacionalista, deflagrou-se um programa de
investimento maciço em infraestrutura de longo prazo, que só vai repercutir em
oito ou dez anos, visando viabilizar o desenvolvimento do país
(reindustrialização nacional, agrobusiness, infraestrutura, geração de energia,
etc), o programa de aceleração do crescimento, PAC, representando mais uma vez
a aposta no Brasil, deu certo, o iluminado Lula novamente pontuou onde os
tucanos falharam.
Quando a crise do primeiro mundo chegou o ciclo virtuoso se tornara
auto-sustentável.
O capital produtivo já havia apostado no Brasil e o país já se mostrava como
uma decisão acertada.
Em todas estas frentes estratégicas, o governo anterior apostou que as
multinacionais tomariam nossas frentes produtivas sem interferência do estado,
via privatização, etc, e gerariam novos empregos porque os trabalhadores
venderiam sua mão-de-obra barato e os recursos naturais estariam a sua mercê
para extrair e produzir fartos lucros.
Ledo engano, as multis são fiéis às suas origens, seu compromisso é de envio
dos fartos lucros para as matrizes.
Esta decisão estratégica errada estava transformando o país em quintal
extrativista do mundo, deixando os industriais locais à margem do processo, com
a maioria da população condenada ao sub desenvolvimento enquanto uma minoria
fazia compras nos shoppings de New York e Londres.
O mundo desenvolvido antes de ser o que é passou por decisões estratégicas de
governo, as coisas não acontecem sozinhas. Esta foi a direção errada do governo
anterior, acreditar que o lobo seria o melhor guardião do galinheiro e não
apostar na capacidade do empreendedor e do trabalhador brasileiro.
Os trabalhadores tem muito a aprender e isto ficou evidente nos poucos anos de
poder, mas os neocapitalistas de visão curta estiveram no poder a vida inteira
e já mostraram muito bem o modelo de sociedade que desejam.
Prefiro levar meu cavalo manco para a fonte do que seguir de puro-sangue pro
deserto.

Antonio Ermírio de Moraes

 

Compartilhar:

Mais lidas