O cenário de energia para 2019 por Luis Nassif
Está em consulta pública na Empresa de Planejamento Energético (EPE) o cenário energético brasileiro para os próximos dez anos.
É um trabalho
portentoso, em que
foram envolvidos diversos setores da área privada e pública, checados
investimentos na economia, no setor energético, visando estimar as
necessidades
do país até 2019.
O trabalho começou a partir de um cenário
inicial
traçado. Segundo Maurício Tomalsquim, presidente da EPE, o crescimento
populacional foi um dos fatores que se alterou radicamente no Brasil. Na
década
de 70 era de 3,5% ao ano. Hoje em dia, menos de 1%.
Mesmo assim,
nos
próximos dez anos serão mais 14 milhões de brasileiros, uma população do
tamanho
do Chile.
Nesse novo cenário, observou-se a retomada de setores
industriais intensivos em energia – o que não ocorreu nos últimos vinte
anos.
Apenas a indústria siderúrgica deverá crescer cerca de 10% ao em termos
fíciso –
projeção feita conversando com associações do setor e analisando os
projetos do
BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social).
Outros
setores, como o de ferro-ligas, também devem experimentar crescimentos
significativos.
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Parte da demanda será atendida por
ações de
eficiência energética. Até 2019 calcula-se que essas economias
representarão o
equivalente a uma hidrelética de
Outro setor, ferros-ligas.
Uma
parte da demanda atendida por ações de eficiência energética: até 2019.
Economia
de 23 terabytes hora: hidrelétrica equivalente a 5 mil MWh.
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Mesmo assim, espera-se um crescimento do consumo natural em
economias
emergentes. O Brasil ainda tem um consumo baixo de eletricidade per
capita. Para
atingir níveis razoáveis, estima-se um crescimento de 5,1% ao ano, até
chegar a
uma demanda de 3.300 mw per capital ao ano.
Nesse ritmo, daqui a
dez anos
o país chegará ao mesmo nível de consumo per capita do Chile de hoje, um
pouco
mais que a Argentina de hoje e muito distante ainda dos países
desenvolvidos.
Atualmente, o consumo per capita é de 2.300 kw/habitante contra 14 mil
kw dos
Estados Unidos.
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Em termos de oferta, a prioridade
serão as
fontes renováveis. Estima-se que as fontes alternativas permitam um
acréscimo de
14.600 mw nos próximos dez anos. 36% serão atendidas por energia eólica,
36% doi
biomassa e 27% por PCHs (pequenas centrais hidrelétricas).
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O
importante é que a parte mais relevante já está sendo contratada e
entrando em
operações até 2012. Em agosto haverá um leilão para contratar fontes
alternativas de energia para 2013.
A meta será não mais contratar
termoelétricas a partir de 2014, por razões ambientais. Entre 2010 e
2013 haverá
a contratação de 12 mil mw, um pouco acima do que se pensava
inicialmente devido
às dificuldades para licenças ambientais de hirodelétricas.
Nesse
período, deverão entrar 35.245 mw de novas hídricas. 60% desse valor já
contratado, em construção ou em vias de entrar em construção. Espera-se
que Belo
Monte comece a ser construída este ano enquanto Girau e Santo Antonio
entrarão
em operação um ano antes do prazo inicial firmado.
As usinas do
Tapajós
Das hidro que serão licitadas, têm-se ainda as
usinas do Bacia do Teles Pires e do Parnaíba. As usinas do Tapajós
deverão ser
licitadas no ano que verm, acrescentando 6 mil mw e sendo construída
dentro do
conceito de «usina plataforma» – isto é, com um mínimo de intervenção
possível
no seu entorno, para não afetar o meio ambiente e as populações nativas.
Haverá
pouco alojamento que, depois, será destruído
Os próximos quatro
anos
Até agora o Brasil só utilizou um terço do
potenciasl hídrico. Juntando as demais fontes energéticas, em dez anos
serão 63
mil mw de energia adicional, mais de 6 mil mw por ano, um enorme
desafio. O
ponto tranquilo é que 63% desse total já foram contratados, estando ou
em
construção ou em vias de ser construído. Mais que isso: as necessidades
dos
próximos quatro anos estão totalmente equacionadas.
A energia
excedente
Em 2014 o país disporá de uma energia
excedente correspondente quase um ano e meio de folga. Ou, em outro
ângulo,
permitindo crescer a 7 ou 7,5% ao ano. E ainda sem contar com o
potencial do
petróleo. Hoje em dia a produção brasileira é de 2 milhões de bpd
(barris de
petróleo dia). Em dez anos, passará a 5,1 milhões de bpd. Em 2019 no
mínimo 50%
serão do pré-sal.
O
pré-sal
É
um cálculo bastante conservador, levando em conta apenas os primeiros
campos das
áreas concedidas, com os dados já medidos, sem considerar a parte da
União. Além
disso haverá uma expansão da oferta de gás dos 49 milhões de m3/dia
atuais para
116 milhões, mais os 30 milhões de m3 da Bolívia e 21 milhões de gás
liquefeito
de petróleo. Juntando as novas refinarias, muda o panorama do petróleo
no
país.
Exportadores
de
derivados
Hoje em dia o Brasil é importador líquido
de
derivados de petróleo. A partir de 2014, será exportador líquido. Com as
refinarias do Maranhão, Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Rio de
Janeiro,
dos 5 milhões de bpd, 2 milhões serão exportados. Ou seja, o equivalente
ao
consumo total atual, o que colocará o país como ator importante no
cenário do
petróleo internacional.
O etanol
Além
disso, haverá uma sensível redução no consumo de gasolina, substituída
pelo
etanol. Atualmente, 93% dos carros novos s flex-fuel. A frota de
autoveículos
flex passará de 27% para 78% do total em dez anos. Desses, cerca de 70%
dos
donos de carro flex preferem etanol, por ser mais barato. Com isso, o
mercado
doméstico de etanol sairá de 23 bilhões para 73 bilhões de litros/ano no
período.
Os
investimentos
Estimam-se investimentos de 950 bilhões
de
reais em 10 anos, 672 bilhões para petróleo e gás, 62 bilhões para
biocombustíveis e 214 bilhões para hidreletricidade. E aí o desafio será
rebaixar as tarifas. No caso da energia elétrica, o imposto é um
componente
expressivo, especialmente o ICMS. Terá que ocorrer alguma alteração,
dentro da
reforma fiscal. Mas deverão cair algumas contribuições atuais.
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