O cerco vai fechando. Por Zeca Peixoto
Publiquei ontem texto no qual levantei algumas hipóteses, dentre elas a possibilidade do recrudescimento do golpe de 2016. Temer, o ilegítimo usurpador, pediu hoje carta branca ao STF para uso da força militar.
Como peça descartada e desmoralizada – sequer sustentou a candidatura dele que nunca existiu -, Nosferatu vai fazendo exatamente o que está sendo exigido pelos players políticos do grande capital financeiro, industrial e rural, o amordaçamento da sociedade.
Como havia dito, o Judiciário e a mídia entrarão como pilares estratégicos. Melhor, já assumem esta atribuição. A Justiça como “garantidora da ordem” e a mídia corporativa como legitimadora da “normalidade” social mediante sua narrativa.
A lock out dos grandes empresários surtirá efeito. A frota dentro em breve retornará a rodar com o diesel subsidiado com recursos públicos, do povo, que pagará a redução do preço para eles.
Esqueçam os caminhoneiros, são apenas empregados cumprindo determinações do patronato.
E com a população devidamente anestesiada com o sorriso maroto de William Bonner e os comentários mentirosos e otimistas de Miriam Leitão e outros constituintes da entourage midiática golpista, a aposta é na “normalização” da vida nacional.
Tem novela “bacana” passando com música divertida e praias selvagens da Bahia, não é mesmo?
Enquanto isso, o barco segue. Os preços elevarão ainda mais e o poder aquisitivo da classe trabalhadora continuará a ruir. Mas, mais uma vez, com a acomodação assegurada, a marcha ultraneoliberal prosseguirá sua escalada. Partirá para a total privatização do sistema de saúde, beneficiando planos geridos por bancos, e atacará o sistema público de ensino. Universidades públicas serão entregues a empresas transnacionais que já ocupam quinhões consideráveis no segmento da educação, em todos os níveis.
E do ponto de vista da sustentação política?
No Congresso, os players parlamentares golpistas mexem os pauzinhos para que mais demônios saiam das cartolas, a exemplo do PL apresentado esta semana que versa sobre “vacância de poder”.
Como assim vacância de poder se haverá eleição?
Pois é, o pleito vai subindo no telhado paulatinamente.
É com este Congresso que aí está que a marcha ultraneoliberal contará para a concretização das medidas econômicas que retomarão à frente.
Sim, a extinção da Previdência Social só saiu de pauta temporariamente, registre-se. E integra o projeto. Assim como a entrega total da Petrobrás, do lençol aquífero Guarani, o maior do mundo – a Nestlê baba! – e de outras estatais e fontes energéticas nacionais as quais Tio Sam não abre mão.
Concomitantemente, tomando emprestado ao juiz e jurista Rubens Casara, vai se desenhando o III Reich tupiniquim com a consolidação do Estado pós-democrático. Supressão das liberdades individuais e coletivas, repressão violenta aos movimentos sociais, prisão de líderes políticos do campo da esquerda – na página do movimento fascista MBL já é exigida a prisão de Gleisi Hoffman, presidenta do PT – e a construção de uma sociedade domesticada, passiva e sem poder de reação.
E a esquerda? Bem, a esquerda está brigando dentro das suas hostes com as espadas dos egos e disputas infrutíferas. Há tempo de rever? Sim, há. Questiúnculas devem ser deixadas de lado e cabe a compreensão da necessidade da formação de uma grande frente ampla que aglutine o máximo de forças do campo progressista-democrático-popular.
Não há um milímetro de tempo a perder.
E não pode ser apenas um movimento garantidista que fique circunscrito ao processo eleitoral. É hora de medidas mais assertivas e radicais.
Estar-se-á diante de pós-neofascismo. É violento e cínico, porque traz consigo, como dito, a maquiagem da normalidade e da legalidade. Um jogo que engolfa jornalistas alinhados e também os desavisados, aqueles que se sentem amigos dos patrões e que querem ser mais realistas do que o rei.
É jogo pesado.
E se a reação não vier à altura, as trevas – econômica, social, política e cultural – nublarão este país por muitos anos.
Hora de agir.
Zeca Peixoto é Jornalista e Professor
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