O desafio de construir um discurso novo por Luis Nassif
Ainda não está
claro qual será a proposta do candidato José Serra para ser o pós-Lula.
Há dois
desafios pela frente. O primeiro, apresentar propostas que se
diferenciem do
modelo Lula de governar. O segundo, explicar as críticas anteriores ao
modelo.
O problema maior é que, nos últimos anos, o PSDB deixou
de lado
propostas e programas e enveredou por um caminho de criticar todos os
aspectos
da política econômica de Lula.
Nesse período, parte da grande
imprensa
tornou-se o porta-voz de fato do partido. E o discurso colocado em
prática era
de defesa do neoliberalismo exacerbado.
Como desdizer, agora, o
que já
foi dito?
Vamos a alguns pontos essenciais de
discussão:
1. Papel do Estado.
Em todo esse período,
pulularam as
críticas contra o ativismo da política industrial, contra o projeto do
pré-sal,
contra o fortalecimento das empresas públicas – Petrobras, Banco do
Brasil e
Caixa Econômica Federal -, sem a preocupação de diferenciar
aparelhamento de
Estado de ação de Estado.
A crise econômica desmontou esses
argumentos.
As medidas tomadas e o papel conferido aos bancos públicos foi essencial
para
reduzir o impacto da crise global no Brasil. Hoje em dia, há um retorno
do
conceito de política industrial mesmo em países que se converteram na
meca do
neoliberalismo – como Estados Unidos e Inglaterra.
2. Bolsa
Família e
salário mínimo.
A campanha contra o programa foi intensa. Foi
transformado em "Bolsa Esmola". Aliados próximos a Serra – como o
ex-governador
de Pernambuco Jarbas Vasconcellos e o atual governador Alberto Goldman
(através
de sua esposa) – deixaram explícitas as críticas contra o Bolsa Família.
Hoje em dia, há consenso de que a inclusão social,
possibilitada pelos
dois programas, permitiu a criação de um novo mercado de consumo popular
que
está mudando a face de regiões inteiras, além de ter sido elemento
fundamental
para impedir o aprofundamento da crise. Como desdizer os ataques ao
programa?
3. Minha Casa, Minha Vida.
No próprio discurso
de
lançamento de seu nome, Serra chamou o programa habitacional do governo
de
"estelionato". Quando se conversa com grandes construtoras – como a
Odebrecht –
fica-se sabendo que só não se constroem mais casas por absoluta falta de
mão-de-obra. Ou seja, o programa conseguiu ocupar a capacidade instalada
da
indústria da construção no país.
4. Política cambial.
O
grande
erro do governo Lula, permitindo a invasão de produtos chineses,
asfixiando a
indústria de máquinas e equipamentos do país, esmagando as exportações
de
manufaturados. Mas a posição do Banco Central no período, apoiada por
Lula, foi
também enaltecida por toda a mídia aliada a Serra. Os principais
economistas do
PSDB defenderam com unhas e dentes a autonomia do BC e a idéia errônea
de que o
câmbio é fixado pelo mercado.
Serra passou a explicitar uma
crítica
contra a política – que, antes, nunca teve coragem de formular de
maneira
aberta, a não ser em ocasiões raras. Mas como convencer seus eleitores
de que
tudo o que o PSDB disse a respeito da "herança bendita" do BC estava
errado?
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